Saúde

O importante papel das hormonas na saúde das mulheres

Adotar um estilo de vida saudável é o grande segredo para viver mais anos e com mais qualidade, mas nas mulheres as hormonas têm muito a dizer no que à saúde diz respeito. Conheça os sinais aos quais deve estar atenta e aposte na prevenção.

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O importante papel das hormonas na saúde das mulheres O importante papel das hormonas na saúde das mulheres
© Getty Images
Rita Caetano
Escrito por
Nov. 03, 2020

Anualmente a esperança média de vida das mulheres portuguesas situa-se nos 83,43 anos, quase mais seis anos do que os homens, de acordo com as Estatísticas da Saúde: 2018, do Instituto Nacional de Estatística, e divulgado já no corrente ano.

Mas não basta viver mais anos, é importante fazê-lo com saúde e, para isso, a prevenção é sempre o melhor remédio e, lembre-se que as hormonas têm um papel fundamental na forma como as mulheres se sentem ao longo da vida.

Envelhecimento saudável

O corpo da mulher, tal como acontece com o dos homens, vai sofrendo alterações à medida que os anos passam, mas será possível viver mais anos com mais saúde?

Teresa Branco, fisiologista na gestão do peso e coordenadora do Instituto Prof. Teresa Branco, não tem dúvidas: “Claro que sim”. O segredo é “ter tido um estilo de vida saudável ao longo da vida” e esse caminho tem várias etapas, como explica a fisiologista na gestão do peso:

  • De forma geral, todas as mulheres devem praticar atividade física adequada à sua idade e condição física.
  • À medida que a idade avança, deve ser privilegiado o trabalho de força, não descurando o treino cardiovascular.
  • O sono também deve ser reparador em todas as idades, sendo aconselhado dormir sete a oito horas diárias.
  • A ingestão de água é transversal a todas as idades, bem como a ingestão de vegetais às duas refeições principais.
  • As proteínas saudáveis fornecidas pelos ovos, carnes magras e peixe também devem fazer parte da alimentação de todas as mulheres.
  • Os hidratos de carbono devem ser geridos de acordo com cada organismo e de acordo com o nível de atividade física de cada um.

Sinais a ter em conta

Quais são os sintomas aos quais as mulheres devem estar atentas nas diferentes idades?

Teresa Branco diz que “são inúmeros os sinais que podem contribuir para alterações prejudiciais no organismo da mulher, mas alguns são transversais a todas estas idades.” São eles:

  • O aumento do peso;
  • A perda de massa muscular;
  • A falta de energia;
  • A desregulação do sono;
  • A retenção de líquidos.

A tensão mamária, o acne, a secura vaginal, o aumento da pilosidade, as irregularidades menstruais, as dores menstruais são também sintomas de desequilíbrio antes da menopausa.

Os afrontamentos, a secura vaginal, o aumento da celulite, a perda de memoria e a diminuição da libido são sintomas mais recorrentes na pós-menopausa.

O nosso corpo é uma orquestra hormonal perfeitamente ajustada e mesmo pequenas mudanças podem produzir enormes efeitos colaterais – Andreia de Almeida, médica

Nas consultas de medicina anti-aging, Andreia de Almeida diz “acompanhar as mudanças hormonais que ocorrem nas diferentes idades. Seja aos 30, 40 ou 50 anos, cada fase de vida tem diversas exigências (desde irregularidades no ciclo menstrual a alterações no sono e humor ou difícil gestão de peso), para as quais existem soluções para reequilibrar as hormonas”.

Mas independentemente da idade, afirma a médica, que também é autora do livro Saúde para Elas (Bertrand Editora), “são vários os diferentes problemas que afetam muitas mulheres independentemente da idade. As queixas mais comuns ouvidas em consultório são: mudanças de humor como se fosse uma adolescente de novo; uma sensação de névoa cerebral; quase tanto interesse em sexo quanto em pagar os impostos; falta de energia, dores no corpo e cansaço constantes; dificuldade em perder peso mesmo com os cuidados alimentares; falta de entusiasmo mesmo nas coisas que antes gostavam de fazer…”.

Em comum todas elas têm “hormonas flutuantes ou desequilibradas”, alerta Andreia de Almeida. Não nos podemos esquecer, como diz Teresa Branco, que as hormonas “regulam todo o nosso organismo e o seu défice ou o seu excesso podem contribuir para um funcionamento desequilibrado ao nível do envelhecimento, da reprodução, da gestão do peso, entre outos processos”.

O metabolismo e o peso

O peso, uma questão que preocupa um grande número de mulheres nas diferentes idades, estará ou não associado ao metabolismo?

Para Teresa Branco, fisiologista na gestão do peso, “o metabolismo está relacionado diretamente com a gestão do peso. As mulheres que tiverem um metabolismo comprometido, diminuído, têm mais predisposição para aumentar de peso.”

“O metabolismo tende a diminuir à medida que a idade avança, contribuindo para um menor dispêndio de calorias diariamente, havendo uma acumulação de gordura corporal. A medicina preventiva, através do reequilíbrio hormonal, vitamínico e mineral poderá atenuar a diminuição do dispêndio energético associado à idade” remata.

Mudanças entre os 30 e os 40

Andreia de Almeida garante que “o nosso corpo é uma orquestra hormonal perfeitamente ajustada e mesmo pequenas mudanças podem produzir enormes efeitos colaterais”.

“Em algum momento entre os 30 e 40 anos, os níveis hormonais mudam conforme o corpo avança da perimenopausa em direção à menopausa. Muitas mulheres não percebem que essas mudanças podem acontecer desde os 35 anos e que cada uma é diferente. Mas uma coisa os especialistas de anti-aging sabem, os suplementos e modulação hormonal com hormonas bioidênticas podem ser ferramentas eficazes”, explica a médica.

De acordo com Teresa Branco, “as mulheres em todas as idades devem visitar o seu ginecologista uma vez por ano e realizar um exame de observação. A partir dos 30 anos são recomendados exames de diagnóstico que incluem analises clínicas, ecografias e mamografias. A regularidade desses exames deve estar relacionada com o enquadramento clínico de cada uma”.

Ter um acompanhamento médico regular e personalizado é importante e é isso que preconiza a medicina funcional e anti-aging, “que são duas especialidades médicas que se focam numa abordagem personalizada e preventiva de atrasar o processo de envelhecimento e o aparecimento de desequilíbrios e/ ou doenças”, refere Andreia de Almeida.

A médica acrescenta ainda que “a grande vantagem é que quando abordamos a causa raiz, ao invés dos sintomas, vemos o indivíduo como um todo e procuramos identificar os gatilhos e fatores de complexidade da doença. Podemos descobrir que uma doença pode ter muitas causas diferentes e, da mesma forma, uma causa pode resultar em muitas doenças diferentes”.

A prevalência da infertilidade conjugal é de 15% a 20% na população em idade reprodutiva. Em média, 80% dos casos apresentam infertilidade nos dois membros do casal – Associação Portuguesa de Fertilidade

A menstruação como termómetro

O ciclo menstrual pode dizer muito sobre a sua saúde, escreve Andreia de Almeida no Saúde para Elas: “Menstruações regulares entre a puberdade e a menopausa significam que o seu corpo está a funcionar normalmente ou seja, a fisiologia está em equilíbrio (…). Problemas menstruais, como períodos irregulares ou dolorosos pode ser sinal de um desequilíbrio com uma possível evolução negativa ou levar a outros problemas de saúde, incluindo dificuldade em engravidar”.

No mesmo livro, lê-se ainda que, num ciclo típico de 28 dias, na primeira metade (as duas semanas após o início da menstruação), é normal sentir-se com mais energia, maior memória, maior tolerância à dor e ao cansaço e maior desejo sexual.

Já na segunda metade do ciclo, é normal sentir-se mais cansada, mais esquecida, ter mais apetite e compulsão alimentar, agravamentos dos sintomas se tiver um problema de saúde (depressão, síndrome do intestino irritável, enxaqueca ou asma e, se tiver diabetes, poderá ter mais dificuldade de controlar a glicose).

A fertilidade, ou falta dela, é um dos problemas que mais preocupa as mulheres em idade fértil. No livro Saúde para Elas, Andreia de Almeida lembra que há vários fatores que contribuem para a infertilidade, a saber: “Químicos ambientais abundantes, exposição a longo prazo a medicamentos que causam interrupções hormonais (pílulas) e utilização de pesticidas alimentares”.

De acordo com a Associação Portuguesa de Fertilidade (APF), a infertilidade pode ser definida como “o resultado de uma falência orgânica devida à disfunção dos órgãos reprodutores, dos gâmetas. Um casal é infértil quando não alcança a gravidez desejada ao fim de um ano de vida sexual contínua sem métodos contracetivos. Esta definição é válida para o casal com vida sexual plena, em que a mulher tem menos de 35 anos de idade e em que ambos não conhecem qualquer tipo de causa de infertilidade. Também se considera infértil o casal que apresenta abortamentos de repetição (a partir de três consecutivos)”.

Segundo a APF, a prevalência da infertilidade conjugal é de 15% a 20% na população em idade reprodutiva. A taxa de infertilidade masculina é similar à taxa de infertilidade feminina. Em média, 80% dos casos apresentam infertilidade nos dois membros do casal.

A mulher não se deve contentar com ‘faz parte da idade’, merece sentir-se fabulosa, independentemente da idade – Andreia de Almeida, médica

Menopausa não é sentença

No outro extremo das preocupações, temos a menopausa, mas, como diz Andreia de Almeida, “nos dias de hoje, não há necessidade de as mulheres se preocuparem ou mesmo assustarem com a menopausa. A medicina anti-aging está em constante evolução e, por meio da realização de doseamentos hormonais, a modulação hormonal pode ser ajustada às necessidades específicas do perfil de saúde de cada mulher.”

A menopausa é definida como 12 meses consecutivos sem menstruação. O que esse termo não nos diz é nada sobre os 10 a 15 anos que antecedem essa data e como ela pode trazer consigo muitos sintomas que nos impedem de estarmos no nosso melhor”, acrescenta a autora do Saúde para Elas.

“As mudanças hormonais da menopausa afetam cada parte do interior e exterior da mulher: o cérebro, mudanças de humor, saúde cardiovascular, óssea, níveis de energia, peso, pele, sono e autoconfiança”, explica.

A médica realça ainda que “as mulheres devem aprender a reconhecer e interpretar os sinais do seu corpo. A menopausa é um processo biológico natural. Mas os sintomas físicos, como ondas de calor e sintomas emocionais, podem atrapalhar o sono, diminuir a energia ou afetar a saúde emocional da mulher, mas não tem de ser assim”.

Os “seus sintomas podem ser minimizados pois a medicina evoluiu no sentido de dar mais qualidade de vida às mulheres nesta fase. Será possível viver sem afrontamentos, com melhor tonicidade muscular e da pele, com mais densidade óssea, com uma vida sexual mais ativa e saudável, desde que estejam convenientemente acompanhadas”, explica Teresa Branco.

Andreia de Almeida adianta que “existem muitos tratamentos eficazes disponíveis, desde ajustes no estilo de vida, suplementação até a terapia de modulação hormonal com hormonas bioidênticas”.

As mulheres não precisam de simplesmente sorrir, preparar-se e aceitar o envelhecimento. A ciência é clara e existem maneiras de reiniciarmos a nossa biologia e mudarmos a nossa aparência, saúde e a forma como nos sentimos. A mulher não se deve contentar com ‘faz parte da idade’, merece sentir-se fabulosa, independentemente da idade”, conclui Andreia de Almeida.

Ir ao médico nas diferentes idades

20 e 30 anos

Além de um check-up anual, deve ser feita uma consulta de ginecologia também todos os anos, onde são feitos os exames ginecológicos. Todas as mulheres que estão a pensar engravidar devem fazer uma consulta pré-natal. Não esquecer ainda o autoexame da mama e da pele para ver os sinais.

40 anos

A juntar a tudo o que está atrás, é por volta desta idade que deve ser feita a primeira mamografia, caso não haja antecedentes de cancro da mama na família. Até aos 50 anos, recomenda-se que seja feita anualmente. É importante ir ao otorrinolaringologista, consulta que deverá ser repetida de três em três anos.

50 anos

A mamografia passa a ser feita de dois em dois anos, até aos 69 anos. É nos 50 anos que também se aconselha a colonoscopia, que deve ser repetida de 5 em 5 anos, caso não seja detetado qualquer problema. É também aqui que deve fazer uma densitometria óssea, que ajuda no diagnóstico da osteoporose.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 244, outubro de 2020.

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