Saúde

O que deve fazer para evitar ser infetada pela Covid-19

A única certeza que temos é que a nossa vida mudou e que há regras novas para viver em sociedade, por isso, fomos esclarecer algumas dúvidas que possa ter nesta nova normalidade.

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O que deve fazer para evitar ser infetada pela Covid-19 O que deve fazer para evitar ser infetada pela Covid-19
© Getty Images
Rita Caetano
Escrito por
Jun. 23, 2020

Estamos na segunda fase do desconfinamento e, entre proibições e permissões, a grande certeza é que o surto ainda não acabou e que todos os cuidados são poucos.

Jorge Atouguia, médico especialista em Infecciologia e Medicina Tropical e presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante, diz-nos que “a nossa vida não vai ser muito diferente da que temos tido até aqui enquanto não tivermos uma de duas coisas: ou a imunidade de grupo – nessa altura, a nossa vida pode voltar lentamente a ser como era anteriormente, porque a probabilidade de termos a infeção é muito baixa – ou quando tivermos a vacina”.

Assim sendo, Jorge Atouguia aconselha as pessoas a ficarem o mais tempo possível em casa, lavar as mãos regularmente, manter o distanciamento físico de um metro e meio a dois metros, a higienização frequente dos espaços comuns e uso de máscara em locais fechados.

O médico realça ainda que é “muito importante estarmos informados e estar conscientes de que as coisas vão melhorar. Temos uma curva descendente e a cada dia que passa teremos menos probabilidade de encontrar pessoas infetadas, mas para isso não podemos entrar em facilitismos”.

Saiba o que deve fazer para evitar ser infetada

Máscaras e viseiras

Devemos usar ambas ou uma substitui a outra? “A viseira não protege de qualquer tipo de infeção por via aérea, porque o espaço entre aquela e a cara é tão largo que as partículas virais que estejam no ar poderão entrar, ou seja, pode dar uma falsa sensação de proteção”, explica o infecciologista.

Portanto a viseira obriga ao uso de máscara se as pessoas estiverem a menos de um metro e meio a dois metros de distância.

A viseira pode ser útil sim em situações em que as pessoas durante o trabalho possam ter contacto com áreas que poderão estar infetadas, porque “protegem-nos dos automatismos que temos, ou seja, tocar na boca, no nariz e nos olhos”.

Outra dúvida frequente é se as máscaras feitas em casa são seguras. Jorge Atouguia garante que “é sempre preferível usar uma máscara do que não ter nada”. No entanto, mais importante do que a máscara é saber usá-la, assegura o infecciologista.

“Antes de a colocar ou retirar, a higienização das mãos é importantíssima e quando está posta não lhe devemos mexer”, realça. Fundamental também nas máscaras comunitárias é a sua desinfeção após o uso.

“Quando não estão deterioradas podem ser usadas depois de lavadas a temperaturas altas ou com água e sabão. Cuidado com os produtos usados, porque poderão ser tóxicos e estarão em contacto com a pele”, ensina Jorge Atouguia.

Em open spaces, recomenda-se que as zonas de trabalho estejam encostadas à parede ou janela para que haja espaço para se circular sem se romper a regra do afastamento – Jorge Atouguia, especialista em Infecciologia

Luvas

“Quem no seu dia a dia sabe usar luvas pode fazê-lo, porque acredito que dê uma sensação maior de segurança a quem recebe dinheiro, tem de fazer limpezas, entre outras tarefas, no entanto, tem de se lembrar que as luvas são como as mãos. Se levamos a luva contaminada à cara, vamos infetar-nos.”

“Nunca pode tocar na boca, nariz e olhos e, se recebermos por exemplo troco de alguém com luvas, não podemos pensar que é seguro”, lembra o médico.

E acrescenta: “Será mais seguro, apesar de mais incómodo, fazer a lavagem das mãos ou desinfetá-las com uma solução à base de álcool, depois de contactar com superfícies ou ter alguma situação de risco”.

Trabalho

Em junho deu-se o regresso aos locais de trabalho, com horários desfasados ou equipas em espelho, mantendo o teletrabalho em formato parcial, logo também esses locais terão de ter uma higienização mais frequente.

Em primeiro lugar, diz Jorge Atouguia, “convém perceber se somos só nós que usamos os objetos com os quais trabalhamos; se assim for, temos o nosso espaço controlado. O problema, mais uma vez, podem ser os nossos automatismos, ou seja, temos de evitar tocar na cara e, claro, os espaços comuns têm de ser bem desinfetados. Em open spaces, recomenda-se que as zonas de trabalho estejam encostadas à parede ou janela para que haja espaço para se circular sem se romper a regra do afastamento”.

Desde que não haja nenhuma situação de risco objetivo, as pessoas podem encontrar-se e partilhar um mesmo espaço, mas mantendo as distâncias e nada de beijos – Jorge Atouguia, especialista em Infecciologia

Em casa

Jorge Atouguia aconselha a retirar os sapatos mal se chegue a casa e a desinfetar as solas com água e sabão ou desinfetante, porque aqueles podem contactar com solos contaminados.

No que diz respeito à roupa, “se tivermos estado em contacto com outras pessoas ou com superfícies em que há risco de infeção, devemos ter o cuidado de tirar a roupa, mas a probabilidade de infeção é muito baixa”.

Deve-se ainda ter algum cuidado com os sacos. “Quando vamos à mercearia, quase sem reparar colocamos os sacos no chão e com isso podemos transportar o vírus para casa. Convém que sejam desinfetados, lavados ou, pelo menos, expostos ao sol durante três a quatro dias no exterior”, explica.

Passeios ao ar livre

A regra fundamental é levar sempre uma máscara consigo, “caso estejamos isolados, podemos dispensá-la, mas não sabemos se vamos ter percursos mistos em que vamos encontrar pessoas”, diz o médico infecciologista.

Nos jardins, evite sentar-se, porque “não sabemos se antes de nós esteve lá alguém que libertou partículas virais ainda ativas. Por outro lado, o facto de estar no exterior e o vento diminuem a probabilidade de as partículas ficarem nas superfícies. Se se quiser sentar, o melhor seria colocar um elemento de proteção entre a superfície e o corpo”, explica Jorge Atouguia.

Visitas às famílias

O grande problema são os grupos de risco, portanto há vários fatores a ter em consideração na possibilidade ou não das visitas familiares.

“Desde que no conjunto das pessoas da família não haja nenhuma situação de risco objetivo, as pessoas podem encontrar-se e partilhar um mesmo espaço, mas mantendo as distâncias e nada de beijos. Se necessário, usar máscara”, esclarece Jorge Atouguia.

Ginásios

Para Jorge Atouguia, são dos locais onde será mais difícil manter quer o distanciamento quer a desinfeção, “até porque em esforço a nossa respiração altera-se e a eliminação de partículas respiratórias vindas de zonas inferiores do aparelho respiratório, que é onde o vírus se encontra, é mais frequente. As autoridades de saúde e os profissionais da área têm de perceber como podem estabelecer as regras de funcionamento”.

Roupa

Devemos usar manga comprida quando saímos de casa? Jorge Atouguia acha que “é um exagero”.

“Não é pelas mangas compridas que deixamos de ser infetados, até porque vejo algumas pessoas a usarem as mangas compridas para abrir as portas. O que acontece nessas situações é que, caso a maçaneta esteja infetada, a roupa pode ficar com algum componente viral ativo e se a pessoa, por sua vez, contactar com a roupa, pode ficar infetada”.

Mais uma vez, sublinha o médico infecciologista “é a lavagem das zonas expostas que nos retira os riscos de podermos ter alguma forma viral ainda ativa”.

Viagens

“Viajar é um atividade que está suspensa e há países que só permitem a entrada de pessoas vindas de fora se fizerem quarentena à chegada”, refere o infecciologista, salientando ainda que “só vamos voltar a viajar quando as coisas estiverem mais calmas, e mesmo aí as pessoas que não têm anticorpos poderão ter receio de o fazer”.

Há que perceber que nem todos os países estão no mesmo ponto ou têm o mesmo tipo de curva e “isso faz com que estejamos limitados ao nosso espaço territorial e mesmo aí temos variações grandes do ponto de vista de regiões.

Quem se aventurar deverá optar por locais com taxas de transmissão muito baixas e mantendo todo o cuidado”.

[Os testes serológicos] ajudam a conhecer a percentagem de pessoas com anticorpos de maneira a termos uma ideia da evolução da nossa sociedade em termos da proteção de grupo – Jorge Atouguia, especialista em Infecciologia

Combater a ansiedade

A psicóloga clínica Jaquelina Amado diz o que devemos fazer para que a nova normalidade não nos perturbe.

1. Ter consciência de que a vida mudou. É claro que o facto de não conseguirmos controlar tudo gera stresse, até pela preocupação pela saúde, nossa e da nossa família.

2. Desenvolver a capacidade de ser flexível e adaptável. As pessoas mais rígidas acabam por ter mais dificuldades a adaptarem-se aos novos regulamentos, ou seja, à questão do distanciamento social, às práticas de higienização dos espaços e uso de máscara.

3. Ser otimista e resiliente. Mais do que lutar contra as circunstâncias, é preciso adaptarmo-nos à realidade. Pense que este é um desafio coletivo para o qual ninguém estava preparado.

4. Estar atenta ao medo insidioso para o combater. Este medo é aquele se traduz nas irritações, na intolerância, na impaciência, e nas alterações do sono e apetite.

5. Comunicar com os outros. Não se isole, procure a boa informação e aprenda a viver com esta indefinição.

6. Abrir um canal de comunicação. Esta é uma dica mais direcionada para as empresas.

Além de serem claros no que estão a fazer para minimizar riscos de infeção, deveriam estabelecer uma ponte e perceber quais são as necessidades de cada trabalhador, muitos podem preferir trabalhar em casa porque perceberam que ganharam tempo. Para uma empresa é sempre uma mais-valia ter os colaboradores felizes.

Testes serológicos

O secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, anunciou o início do estudo de imunidade da população portuguesa. Os testes serológicos permitem saber quem de facto teve a infeção e se está imune ao novo coronavírus.

“São uma arma muito importante para percebermos, por um lado, individualmente, quem tem anticorpos e pode ter uma vida diferente dos outros; por outro, do ponto de vista comunitário, ajuda a conhecer a percentagem de pessoas com anticorpos de maneira a termos uma ideia da evolução da nossa sociedade em termos da proteção de grupo”, explica Jorge Atouguia.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 240, junho de 2020.

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