Bem-estar

Crónica. Posturas invertidas no yoga (Viparita Sthiti)

Os asanas são posturas que agem de forma profunda em todos os sistemas orgânicos, centros nervosos e glândulas do ser humano, garantindo, segundo os yogis, uma saúde perfeita.

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Crónica. Posturas invertidas no yoga (Viparita Sthiti) Crónica. Posturas invertidas no yoga (Viparita Sthiti)
© unsplash
Jean-Pierre de Oliveira, cronista
Escrito por
Jul. 11, 2022

De forma geral, podem distinguir-se dois tipos de asanas, existindo o primeiro grupo em função do segundo: os asanas que exercitam o corpo inteiro e, em particular, a coluna vertebral com flexões, extensões, rotações, flexões laterais, equilíbrios e inversões; e os asanas de meditação, que colocam o corpo de forma imóvel e estável para preparar a mente para a prática de meditação.

No Hatha Yoga as posturas invertidas são consideradas uma prática importante, pela sua presumível capacidade de desenvolver a “vitalidade suprema”.

É de salientar que as posturas invertidas são todas aquelas em que as ancas ficam acima do nível da cabeça e que desta forma podem proporcionar um intenso fluxo sanguíneo no cérebro.

Existem também as posturas consideradas de “meia-invertidas”, que podem proporcionar este intenso fluxo de sangue na cabeça, mas não com tanta intensidade, como por exemplo o adho-mukha-svanasana (postura de “cão que olha para baixo”).

A importância das posturas invertidas

Benefícios fisiológicos

Além dos seus benefícios musculares mais físicos, acredita-se que as inversões podem melhorar a função cerebral ao libertar neurotransmissores que equilibram as hormonas e libertam endorfinas.

As posturas invertidas praticadas no yoga interferem no fluxo sanguíneo (incluindo a drenagem linfática) e no fluxo do líquido cefalorraquidiano (LCR).

Se houver um aumento do fluxo sanguíneo nestas áreas, haverá aumento da biodisponibilidade de oxigênio e glicose – os dois substratos metabólicos mais importantes para o bom desempenho do nosso cérebro.

A prática de inversões é como um catalisador para o crescimento pessoal
Jean-Pierre de Oliveira Jean-Pierre de Oliveira

Benefícios emocionais e psicológicos

No entanto, é a jornada emocional e psicológica que torna a prática de inversões tão valiosa e enriquecedora. Na verdade, não é incomum sentir-se imediatamente animada após uma inversão. Este efeito positivo pode ser uma maneira alternativa de combater os desafios da saúde mental.

Psicologicamente, inversões e equilíbrios de braço podem ajudar a ultrapassar algumas barreiras pessoais. Quando se aborda este tipo de prática, percebemos que é a dedicação consciente consistente sem ambição e uma atitude aberta em relação ao professor e à assistência que é o segredo para uma pose de inversão bem-sucedida.

As praticantes ficam habitualmente surpresas com o quanto podem alcançar e descobrir sobre si mesmas durante o processo de aprendizagem das posturas. O impossível começa a parecer mais alcançável.

A sensação de realização que se segue pode desenvolver uma confiança renovada e motivação para o desafios da vida quotidiana. Mas se o resultado desejado não for alcançado, aprender a aceitar uma derrota também fortalece o amor-próprio. A prática de inversões é como um catalisador para o crescimento pessoal.

As inversões também podem ajudar a desenvolver paciência, foco e habilidades de escuta e permitem-nos ver o mundo de outro ângulo, sendo comum que as pessoas mais controladoras e mentalmente rígidas tenham medo de executá-las.

Algumas contraindicações

  • Lesões ou patologias nas costas;
  • Dores de cabeça/ enxaquecas;
  • Glaucoma, tensão ocular ou deslocamento da retina;
  • Problemas de ouvidos;
  • Doenças cardíacas;
  • Híper ou hipotensão;
  • Problemas ombros e/ou pulsos;
  • Menstruação – existem diferentes opiniões – bom senso, escutar e respeitar o corpo;
  • Gravidez – se existe o hábito da prática pode continuar, desde que não haja contraindicação médica e/ ou alguma complicação secundária e usando as devidas adaptações à medida que a gravidez avança.
As invertidas podem fazer-nos sentir frágeis e vulneráveis e não conseguir assentar as ideias quanto ao nosso estado emocional
Jean-Pierre de Oliveira Jean-Pierre de Oliveira

Advertências e recomendações

1. Espere sentir muitas emoções diferentes (e possivelmente intensas)

Embora as invertidas e os equilíbrios dos braços sejam posturas “energizantes”, muitas pessoas ficam surpreendidas com a variedade de emoções que experimentam ao praticar os asanas desta categoria. Podem ir desde o medo à ansiedade, do aborrecimento à frustração, da tristeza à raiva

Ao praticar invertidas, podemos sentir-nos particularmente frágeis e vulneráveis e não conseguir sequer assentar as ideias quanto ao nosso estado emocional.

Com o tempo poderemos ganhar alguma perspetiva sobre o porquê de nos sentirmos assim (frágeis e vulneráveis) e planear repetir a prática de invertidas, lembrando-nos desta vez que estamos a trabalhar mais do que só o corpo, mas também situações de ordem emocional que poderemos não relacionar diretamente com a prática.

2. Espere gastar uma quantidade significativa de tempo em aquecimento

O aquecimento é tão importante quanto aprender as subtilezas do pino. As posturas invertidas e os equilíbrios de braços, requerem uma flexibilidade significativa da zona da bacia, dos ombros e das costas e é importante passarmos os primeiros 40 minutos (no mínimo) da nossa prática com posturas de enraizamento e aquecimento.

Além de aquecer o corpo, as práticas de preparação, também ajudam a aliviar a ansiedade e o nervosismo que poderá estar relacionado com o sair da zona de conforto.

3. Aprenda a confiar nos outros

Muitas inversões e posturas de equilíbrio de braços são difíceis de abordar pela primeira vez. Enquanto uma parede pode ser um apoio útil, umas “mãos amigas” poderão ajudar a levantar a bacia e dar o equilíbrio necessário ao corpo para estabilizar uma postura.

Treinar com parceiros pode ser a parte mais stressante da prática por vários motivos:

  • Podemos pensar que o(s) nosso(s) parceiro(s) não têm as competências ou a força necessária para nos auxiliar corretamente e/ou de forma segura;
  • Temos medo de falhar em público e/ou de ser menos bons que os outros.

4. É normal ter os pulsos doridos

Mesmo que não passe toda a prática em apoios de mãos, os pulsos e antebraços serão postos à prova. As dores podem subsistir ou aparecer até quatro dias depois de uma prática intensiva.

Com o tempo e práticas regulares, os pulsos e antebraços irão fortalecer significativamente.

5. Cair faz parte

É provável que as primeiras tentativas de invertidas na cabeça não sejam assim tão bem sucedidas. Não hesite em preparar e antecipar as suas quedas com cobertores e almofadas a sua volta.

Não subestime o poder psicológico de ter algo “fofo” perto para amortecer as suas quedas. Ficará de certeza mais confiante na sua prática!

Jean-Pierre de Oliveira é professor de yoga, autor e um earth activist. A sua inspiradora abordagem ao yoga adapta esta sabedoria antiga à vida dos ioguis modernos como um estilo de vida além das aulas. É conhecido pelo seu estilo genuíno de ensino e instrução técnica profissional reconhecida que o tem levado a participar em diversos eventos.

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