Bem-estar

Crónica. Liberte-se de emoções recalcadas com a ajuda do yoga

Muitas posturas de yoga têm como objetivo a abertura de ancas para libertar emoções recalcadas. São posturas que visam melhorar a mobilidade nas costas, nas ancas e nas pernas. Mas o que será que há nas nossas ancas para acumularem emoções desta forma tão dolorosa?

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© Pexels
Jean-Pierre de Oliveira, cronista
Escrito por
Mar. 29, 2022

A zona lombar e as ancas são estruturas co-dependentes. Um problema numa destas estruturas pode causar lesões e dores na outra, e levar a uma sensação de rigidez que acompanha a dor nessa região.

Esta sensação é produto de um mecanismo de proteção do corpo para evitar o desenvolvimento de mais lesões naquela área. A rigidez resultante da dor pode ser extremamente debilitante e reduzir consideravelmente a mobilidade nas costas, nas ancas e nas pernas.

Nas culturas ocidentais, a rigidez e a tensão na zona das ancas são comuns. Tal deve-se, em parte, à nossa postura excessiva de sentar, em vez de nos agacharmos regularmente, como fazem muitas culturas orientais.

Quando não estamos sentados, ou seja, quando estamos de pé, a andar ou a correr, as nossas pernas ficam inevitavelmente em esforço, para dar suporte à parte superior do corpo, e este esforço constante irá, por sua vez, levar os músculos em torno das ancas a desenvolver outro tipo de tensão crónica.

É preciso, portanto, encontrar um meio termo, uma forma de compensar os excessos e discrepâncias posturais derivados do nosso estilo de vida.

Se tem dor lombar, preste mais atenção às suas ancas
Jean-Pierre Oliveira Jean-Pierre Oliveira

Emoções presas nas ancas

A tensão física nas ancas tornou-se algo de normal, mas como podem as nossas emoções ficar presas nas ancas?

Quando estamos com stresse, quando nos sentimos ameaçados, assustados ou até surpreendidos, cerramos de forma inconsciente os nossos maxilares ou fechamos os punhos, contraímos o corpo, e mobilizamos as nossas ancas, para podermos “fugir ou lutar”.

O stresse ativa uma reação antiga, concebida pela Natureza para nos ajudar a enfrentar os perigos: é esta reação de “lutar ou fugir” que cria limitação nos movimentos e rigidez corporal. Esta tensão é uma resposta natural de proteção e defesa para assegurar a nossa sobrevivência.

E não importa que estas ameaças sejam reais ou fictícias, o nosso cérebro não faz a distinção. A reação de “lutar ou fugir” é um processo automático que provoca contrações musculares em cadeia, que deixam os músculos encurtados e tensos.

Se esta tensão física nunca for totalmente liberta, a emoção profunda fica aprisionada no corpo, e as ancas ficam cada vez mais afetadas pelos efeitos cumulativos de uma vida em constante estado de alerta.

Viver em constante estado de alerta mental afeta diretamente a mobilidade e a flexibilidade do corpo, tanto quanto as nossas características fisiológicas.

A nossa amplitude de movimento está limitada à capacidade de abertura das nossas pernas
Jean-Pierre de Oliveira Jean-Pierre de Oliveira

Como assim, abertura de ancas?

A abertura de ancas implica que as nossas ancas se possam abrir como uma porta ou as páginas de um livro, o que sugere que a nossa amplitude de movimento está limitada à capacidade de abertura das nossas pernas.

Na verdade, as ancas são articulações de tipo esferoide, o que significa que são capazes de circundução, ou seja, mover-se em círculo. Então, “abrir as ancas” significa, na verdade, criar mais mobilidade numa perspetiva multidirecional.

Existem dois fatores físicos que podem limitar a nossa amplitude de movimento e, portanto, a abertura das nossas ancas:

A flexibilidade dos tecidos conjuntivos – dos músculos, tendões e fáscia dentro e em torno das articulações.

As diferenças esqueléticas – de pessoa para pessoa o esqueleto humano pode variar consideravelmente em termos estruturais, na zona pélvica e do fémur, com impacto na forma como eles se encaixam, facilitando ou dificultando os movimentos.

É por isso que uma mesma postura, como por exemplo a postura do pombo, poderá parecer diferente consoante a articulação de quem a está a praticar. Em igual medida, uma mesma pessoa poderá sentir maior facilidade ou dificuldade de movimentos de uma perna para outra.

Desbloquear a zona das ancas é como abrir a caixa de Pandora
Jean-Pierre de Oliveira Jean-Pierre de Oliveira

É possível libertar a tensão física e emocional?

Trabalhar nos tecidos profundos (na fascia), por intermédio da realização de posturas focadas na zona das ancas, poderá, sim, libertar a tensão física e emocional lá retida. A nível físico, a escolha de posturas específicas pode ajudar a libertar a coluna e as pernas, e assim aumentar a mobilidade e melhorar a saúde em geral.

O alongamento dos músculos da zona das ancas pode, ainda, levar à libertação de emoções latentes ligadas a memórias reprimidas que poderão então ressurgir.

As tensões inconscientes ligadas a estes eventos traumáticos poderão regressar à superfície desencadeando uma miscelânea de emoções, de lágrimas ou gargalhadas aparentemente inexplicáveis. Desbloquear a zona das ancas é como abrir a caixa de Pandora.

Um dos principais motivos para introduzirmos posturas desta categoria na nossa prática é o de nos levar a sentir mais confiança ​​face aos desconfortos do quotidiano. Precisamos de praticar estas posturas, focadas na zona das ancas, com aceitação, presença e suavidade para que, com o tempo, possamos sentir os seus benefícios, e conseguir assim superar qualquer desconforto de curta duração que experimentamos nas mais diversas situações.

As posturas de abertura de ancas visam a libertação do stresse e da tensão emocional acumulados no corpo que, como vimos, reduzem a nossa mobilidade e flexibilidade para além das nossas limitações fisiológicas naturais, e que têm um impacto direto na qualidade do nosso desempenho nas tarefas mais comuns.

Para recuperar a sua agilidade e equilíbrio emocional tente praticar posturas como:

  • Postura do pombo;
  • Malassana;
  • Postura do Lagarto;
  • Posturas de Guerreiro (I, II e III);
  • Meia lua.

Ganhe qualidade de vida e experimente praticar yoga!

Jean-Pierre de Oliveira é professor de yoga, autor e um earth activist. A sua inspiradora abordagem ao yoga adapta esta sabedoria antiga à vida dos ioguis modernos como um estilo de vida além das aulas. É conhecido pelo seu estilo genuíno de ensino e instrução técnica profissional reconhecida que o tem levado a participar em diversos eventos.

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