Sociedade

7 temas sobre os quais nós, mulheres, devíamos estar a falar

Uma palavra pode fazer toda a diferença. E quando o objetivo é a igualdade de género, há tópicos que ainda são tabus entre as mulheres, apesar de comuns. Será que estamos a falar o suficiente sobre dinheiro ou ambição? E o medo de revelar o outro lado da maternidade, faz sentido?

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7 temas sobre os quais nós, mulheres, devíamos estar a falar 7 temas sobre os quais nós, mulheres, devíamos estar a falar
© unsplash
Carolina de Almeida
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Jun. 20, 2018

Já experimentou pesquisar no Google de que é que as mulheres querem falar? Nós já e os resultados não foram animadores. As primeiras páginas apresentam listas de assuntos para os homens fazerem conversa com as mulheres.

Da mesma forma, se o fizermos em inglês, o panorama não muda. Um dos sites reduzia mesmo o rol a quatro assuntos: animais de estimação, viagens, filmes e comida. O mesmo site apontava que, quando a conversa é entre mulheres, os temas andam à volta de maquilhagem, homens e a vida das celebridades

pesquisa no google de que é que as mulheres querem falar

Numa altura em que movimentos como #metoo iniciam o diálogo de tópicos tão urgentes como o assédio sexual, o momento é ideal para quebrar o gelo noutras áreas. E aproveitar para deitar por terra preconceitos de género.

Sabemos que a lista não se fica por aqui. Ainda assim, juntámos alguns assuntos que estão a precisar de uma boa conversa.

7 temas tabus entre as mulheres que precisam de uma boa conversa

1. Menstruação

Durante a vida, uma mulher tem em média 450 períodos. Mas a frequência não impede que ainda muitas pessoas torçam o nariz ao tópico. Expressões como “hoje o Benfica joga em casa” ou a conhecida “altura do mês” ainda são amplamente usadas para definir as menstruações.

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O resultado? O período ainda é usado como justificação para a inequalidade de género. A razão prende-se com preconceções erradas, como a de que o período prejudica a produtividade ou o discernimento da mulher.

Em termos científicos, esta ideia é errada. No entanto, foi um dos argumentos usados contra Hillary Clinton na corrida a Presidente dos EUA em 2016.

Não é preciso entrarmos numa corrida presidencial para nos juntarmos a Hillary e por os pontos nos is. Podemos, por exemplo, instalar a app Flo e descobrir uma forma simples e inteligente de acompanharmos o nosso ciclo menstrual, o período de ovulação e a gravidez.

Melhor. Podemos juntar-nos à comunidade de mais de dez milhões de mulheres no mundo que usam esta aplicação e discutir o tema. Sem pudor e com humor. Um bom começo? Falar abertamente da menstruação naquele grupo de amigas que temos no WhatsApp para discutir trivialidades ou combinar jantaradas.

Também pode ajudar se antes dermos uma vista de olhos a estas divertidas entrevistas com celebridades, da iniciativa Let’s Talk It, Period, orientadas por Natalia Vodianova. A ideia é não deixar nada por dizer.

2. Dinheiro

Falar de dinheiro é normalmente um assunto desconfortável. Mas a jornalista Beth Kobliner acredita que o hábito deve ser incutido nos mais novos.

Fale com a sua filha sobre dinheiro. Abra uma conta no banco com ela ou leve-a consigo quando vai tratar de alguns assuntos financeiros

Na revista Forbes, a especialista em finanças escreve que “os pais falam mais de dinheiro com os filhos do que com as filhas”. Não falar sobre dinheiro com as meninas dá-lhes a mensagem de que este é assunto de homens.

dinheiro tema tabu entre as mulheres

Depois de estudar a tendência, Kobliner concluiu que, na maior parte das vezes, os pais o fazem de forma inconsciente. “Como é que resolvemos isto? Através da consciencialização. Fale com a sua filha sobre dinheiro, abra uma conta no banco com ela ou leve-a consigo quando vai tratar de alguns assuntos financeiros”.

3. Maternidade

São três letrinhas apenas, mas ser mãe dá pano para mangas. A partir do momento que uma mulher está gravida os conselhos e as opiniões (não solicitados) são intermináveis.

Ao nutrir conversas mais honestas é possível dizer adeus a sentimentos de culpa. E a expetativas inatingíveis com as quais as mulheres se deparam constantemente no papel de mãe.

A cantora portuguesa Carolina Deslandes “incendiou” a Internet com declarações e fotografias suas onde mostrava o corpo depois de ter sido mãe pela segunda vez: “Dei por mim a pensar ‘Serei eu a única pessoa a passar por isto?’ Esta fase em que não caibo em roupa nenhuma ainda, em que a barriga ainda está enorme e cheia de riscas, em que não consigo ver-me numa única fotografia e em que ando a fugir de espelhos?”

E prossegue: “Não me interpretem mal, não podia estar mais grata pela vida que tenho e pelos meus dois filhos maravilhosos. Têm sido os melhores anos da minha vida, mas têm sido também anos de desafios, de descoberta interior e de inseguranças e complexos.”

Também a jornalista britânica Grace Timothy é uma das mães que fala sem filtros do assunto. “Nada me preparou para mamas explosivas, dilatadores vaginais ou da mistura de culpa, amor, medo e autoaversão que ter um bebé envolve”.

Tanto Carolina como Timothy partilham, nas redes sociais, estas e outras aventuras. Estão, assim, a abrir o diálogo para que outras mães possam falar abertamente dos desafios da maternidade.

4. Não ter filhos, por opção

Um tópico que parece que nunca fica bem esclarecido com a simples resposta “não quero ter filhos”. Uma das vozes mais ativas na defesa das mulheres que não querem ser mães é Jennifer Aniston.

A atriz já falou em diversas ocasiões acerca do escrutínio de que é vítima por falar publicamente da sua vontade de não ter filhos.

Não gosto da pressão que é posta em mim e nas mulheres – que nós falhámos como mulheres por não termos procriado. Não acho que seja justo. Dizem isto constantemente acerca de mim, que eu fui tão focada na minha carreira e em mim mesma que não quis ser mãe e o quão egoísta isso é. Posso não ter tido uma criança a sair da minha vagina, mas isso não significa que eu não seja maternal – Jennifer Aniston, atriz

5. Saúde mental

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de pessoas com depressão a nível mundial era de 300 milhões em 2015 (mas há alimentos que previnem esta doença mental). Em Portugal, a estimativa é de uma incidência de 9,98% na população com mais de 15 anos. Esta incidência é maior nas mulheres (13,59%) do que nos homens (5,86%).

Em 2017, a OMS lançou o slogan “Depressão. Vamos falar!”. O objetivo era o de alargar a consciencialização em todo o mundo. E reduzir o estigma associado as doenças mentais, para que mais pessoas procurem e recebam ajuda.

Vale a pena dar uma vista de olhos a alguns destes vídeos do TED sobre saúde mental. Aqui, vários oradores falam abertamente sobre as suas experiências e lutas contra doenças mentais.

6. Os nossos objetivos e ambições

“Desculpa, sei que pareço convencida”. Já deu por si a dizer estas palavras quando fala de objetivos profissionais perfeitamente atingíveis? Não se desculpe por ter ambições. Determinação não é falta de modéstia.

Na verdade, apenas 34% das mulheres ambicionam alcançar uma posição de liderança em termos profissionais. Foi este o resultado de um estudo realizado pela Hays Portugal sobre as diferenças de perceção entre géneros face às ambições de carreira.

ambições tema tabu entre as mulheres

Numa entrevista ao Jornal de Negócios, a empreendedora Cristina Fonseca falava da diferença entre a Europa e os EUA nesta questão. A co-fundadora da start up Talkdesk e um dos nomes da lista “30 under 30” da Forbes, considera que na Europa, ser ambicioso é socialmente malvisto. Isto acontece sobretudo para as mulheres, que enfrentam uma censura ainda é maior.

Em suma, nem todas temos o objetivo profissional de liderar uma empresa (mas se quiser criar o seu próprio negócio, espreite estas dicas), é certo. Mas este é um assunto que deveria estar em cima da mesa, ali à mão de semear em qualquer conversa. E sem qualquer pudor.

7. Sororidade

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Parece mentira, mas o velho preconceito de que as mulheres se detestam umas às outras ainda é muitas vezes usado. Na Saber Viver, aliás, lançámos todo um movimento sobre isso, o Women Support Women, ao qual se pode juntar utilizando o hashtag #SVwomensupportwomen.

Se já sentíamos que fazia sentido refletirmos sobre igualdade ou desigualdade de oportunidades, hoje temos a certeza de que as mulheres querem e precisam de falar sobre estas temáticas (…) e passar à ação. Na Saber Viver teremos sempre espaço para falar sobre a importância de nós, mulheres, nos apoiarmos umas às outras

Também para Otegha Uwagba, autora do livro Little Black Book, há que parar com a crença de que outras mulheres são a nossa competição.

“Fazer um esforço, genuíno e sentido, para apoiar outras mulheres no local de trabalho não só é gratificante como atrai bom karma. É um grande cliché, mas a crença de que as mulheres são as piores inimigas esta enraizada na nossa sociedade. Somos melhores juntas do que separadas, e esta é uma das chaves para um mundo onde a igualdade de género e uma realidade”.

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