Sexo

Masturbação feminina: o prazer que (só) faz bem

Sem contraindicações, a masturbação só não deve fazer parte da rotina das mulheres porque rotina e prazer sexual, geralmente, não combinam. E o melhor é que há sempre novas sensações para descobrir, em todas as fases da vida.

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Masturbação feminina: o prazer que (só) faz bem Masturbação feminina: o prazer que (só) faz bem
© GettyImages
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Mai. 27, 2019

Não sendo propriamente um tabu, a verdade é que poucas mulheres falam sobre masturbação, mesmo com as amigas mais próximas. Muitas conversas terminam com sorrisos tímidos, embora haja quem não tema confessar a sua realidade.

“Talvez por ter tido uma educação bastante conservadora e católica, não me sinto confortável”, diz-nos Paula. “Fazia-o na adolescência e lembro-me de ter tido experiências muito boas, de descoberta de um prazer que não imaginava [ri-se]. Mas sexo, para mim, faz-se a dois”. Agora, com 51 anos e divorciada há seis, masturbar-se está fora de questão pois “o interesse sexual não faz parte” da sua vida.

Paula não é um caso único. Um estudo das psicólogas Ana Carvalheira e Isabel Leal, publicado em 2012 no Journal of Sex & Marital Therapy, que envolveu 3.687 portuguesas com mais de 17 anos, revelava que cerca de 10% não se masturbava há um ano ou mais. Mais: 8,5% dessas mulheres nunca se tinha masturbado, em toda a sua vida.

Por outro lado, revelava também que algumas mulheres sentiam culpa (10,3%) ou vergonha (15,4%) ao fazê-lo, emoções negativas propagadas pela cultura judaico-cristã, segundo a qual “a vulva é algo que não é suposto tocar ou explorar”.

Masturbe-se, pela sua saúde

Muito mudou nas últimas décadas, inclusivamente na perspetiva médica. Dizia uma Enciclopédia de Medicina de 1990 que a “autoestimulação sexual, geralmente com vista a atingir o orgasmo” já era à época “aceite como um comportamento normal. (…) Não existem provas de que provoque qualquer dano físico ou psicológico, apesar da crença do século XIX segundo a qual causaria insanidade, cegueira ou outros distúrbios graves”.

Mitos mais recentes garantiam que a masturbação feminina causava acne e/ou fazia crescer pelos nas mãos, o que a ser verdade faria com que grande parte da população – incluindo 33,7% das mulheres que participaram no estudo referido e afirmaram ter-se masturbado na semana anterior – exibiria borbulhas.

Hoje é consensual que a masturbação tem muitos benefícios para a saúde. Além de aumentar os níveis de dopamina, serotonina e ocitocina, neurotransmissores associados ao bem-estar e ao prazer, ainda exercita os músculos do pavimento pélvico.

10 bons motivos para se masturbar (para além do óbvio)

 Combate o stresse. Há mulheres que se masturbam especificamente com esse fim (nomeadamente 31,9% das que participaram no estudo mencionado);

 Ajuda a adormecer. Esta é uma “técnica” usada por 20% das mulheres, segundo esse mesmo estudo;

 Melhora o apetite e a vida sexual. Está provado que as mulheres que se masturbam atingem mais facilmente o orgasmo com o parceiro, e que quanto mais se tem prazer, mais se quer ter;

 Ajuda a prevenir a incontinência urinária ao exercitar o pavimento pélvico, embora não substitua os exercícios de Kegel;

• É benéfica para o coração. Fá-lo bombear mais rapidamente e ajuda o sangue a fluir;

 Evita o surgimento de infeções pois faz com que as bactérias sejam eliminadas com maior frequência;

 Alivia ou elimina a tensão pré-menstrual e as cólicas menstruais;

 Melhora bastante o humor e, por isso, há especialistas que sugerem que a masturbação feminina ao acordar ajuda a enfrentar o dia de trabalho e aumenta a energia;

 Reduz os sintomas da atrofia vaginal própria da menopausa, especialmente se se recorrer a dildos ou vibradores. E também ajuda a tratar disfunções sexuais como vaginismo ou dificuldade em tolerar a penetração devido à contração involuntária dos músculos;

 Aumenta a autoestima pois faz com que as mulheres se sintam mais confortáveis com o seu corpo e a sua sexualidade.

Pontos G, A ou U? Importante é o O(rgasmo)!

O prazer feminino tem sido alvo de muita curiosidade, investigações e controvérsias. Por exemplo, o tão famoso ponto G foi pela primeira vez mencionado pelo médico Ernst Gräfenberg, em 1950, mas ainda hoje não reúne consenso na comunidade científica.

Como estimular o suposto ponto G?

Conclusões da ciência aparte, vale a pena tentar descobri-lo: é definido como uma pequena saliência enrugada situada a uns cinco centímetros no interior da vagina, na parte frontal. Ou seja, para o estimular, a mulher, deitada de barriga para cima, deve introduzir o dedo médio com a palma da mão virada para o clítoris.

Como estimular o ponto A?

Mas o ponto G não é o único do abecedário do prazer sexual feminino: menos populares, também merecem a devida atenção os pontos A e U. Igualmente controverso, o ponto A é descrito como uma “dobra” que fica mesmo ao fundo do canal vaginal, entre o ponto G e o colo do útero. Apesar da profundidade, pode ser estimulado com os dedos (de preferência com dois), proporcionando também um prazer intenso e orgasmos múltiplos.

Como estimular o ponto U?

Já o ponto U é o mais fácil de identificar, pois fica no exterior, em torno da uretra, por onde sai a urina, entre o clítoris e a entrada da vagina. A sua sensibilidade é comparada à da glande do pénis. Movimentos circulares e suaves nesta área, efetuados com o dedo ou um vibrador, potenciam a lubrificação e dão grande prazer à maior parte das mulheres, embora geralmente não se traduza num orgasmo.

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© Carolina Carvalhal

Caso as sensações obtidas ao explorar qualquer destes pontos não correspondam às expectativas, não há problema. É hoje comummente aceite pelos especialistas que é impossível fazer um mapa dos pontos erógenos femininos. Cada mulher é singular no que ao prazer sexual diz respeito.

E é por isso que a masturbação feminina desempenha um papel tão importante: explorar o seu próprio corpo é a única forma de identificar o que realmente a estimula.

Orgasmo clitoriano: nº 1 no Top do prazer

O mesmo estudo português divulgava as técnicas que as mulheres mais usavam para se masturbar: a grande maioria (87%) preferia estimular o clítoris. E não é surpreendente pois trata-se da principal zona erógena da anatomia feminina, tendo como única função proporcionar prazer.

Com 38 anos e de momento sem uma relação estável, Rita faz parte dessa maioria. “Gosto de coisas simples e ir direta ao assunto. Basta-me ‘massajar-me’, calmamente, e pensar numa experiência recente e especialmente excitante com um parceiro. Quem disse que o cérebro é o principal órgão sexual tinha razão, na minha opinião.”

Rita não entra em detalhes mas muitas mulheres fazem-no na plataforma OMGYes, no âmbito de pesquisas realizadas em parceria com a Universidade de Indiana e o Instituto Kinsey. Aqui, em vídeos sem censura, alguns explícitos, dezenas mostram exatamente como se tocam (e gostam de ser tocadas) e até há infografias que revelam os movimentos específicos, além de uma secção dedicada à penetração, e outras se seguirão.

Dicas que valerá a pena testar:

Ritmo de toque: há mulheres que preferem toques consecutivos, outras com pausas entre eles, por isso há que tentar identificar o estilo mais adequado a cada uma; diminuir o ritmo durante a excitação pode prolongar e aumentar o orgasmo;

 Pressão: toques leves são geralmente mais excitantes;

 Insinuação: movimentos próximos dos pontos sensíveis, sem os tocar, normalmente intensificam o prazer;

 Movimentos circulares: a maioria das mulheres gosta destes movimentos em torno do clítoris durante a excitação; existe uma grande diversidade (elipse, em “8”…) e os que dão prazer a uma mulher podem magoar outra, portanto há que explorar cuidadosamente;

• Repetição: na eminência do orgasmo, é importante repetir exatamente os mesmos movimentos, mantendo ritmo, pressão, etc.

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© GettyImages

Vibradores e outros brinquedos

Ao contrário de Rita, Maria, com 26 anos, confessa-se grande fã de vibradores, como 21% das inquiridas no estudo português já mencionado. “Para mim, sexo passa sempre por penetração e, por isso, comprei o meu primeiro vibrador aos 18 anos. Agora tenho um muito mais moderno, oferecido pelo meu namorado, para usarmos nas relações a dois. Acabo por o usar mais sozinha, quando não estamos juntos, pois vivemos em casas diferentes. E, sinceramente, adoro-o, é um grande companheiro!”

Maria descobriu o seu preferido mas a diversidade de vibradores é tal que convém fazer uma pesquisa de mercado online antes de comprar para tentar perceber o que mais se adequa.

Modelos comuns e económicos, que custam pouco mais de 20€ e estimulam simultaneamente o clítoris e o ponto G, estão disponíveis em lojas online como a Amazon ou nas sexshops. A partir desse preço, aproximadamente, não faltam vibradores de cores, materiais e tamanhos diferentes, para penetração vaginal ou anal.

Existem, por exemplo, vibradores inteligentes como o da Lioness, cujos sensores detetam padrões dos movimentos vaginais, permitindo aprender muito sobre o próprio prazer e, portanto, tentar potenciá-lo. Custa 224€. E até os há de luxo, como o Inez, cujo preço é de 12.000€ já que é banhado a ouro de 24 quilates.

Mas o mundo dos brinquedos sexuais inclui outras alternativas, como por exemplo as bolas vaginais, que fortalecem o pavimento pélvico e ajudam a conseguir orgasmos maiores e mais prolongados.

Com brinquedos ou sem eles, o importante é descobrir as melhores fontes de prazer. Esta é uma busca contínua pois os estímulos e a sensibilidade vão mudando ao longo da vida. E, por isso, explorar é a palavra de ordem que deve ter sempre presente para uma sexualidade mais plena e saudável.


Agora que já sabe tudo sobre masturbação feminina, descubra as apps que a podem ajudar a ter mais prazer na masturbação.

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