Relações e família

Crónica. Se dói e é violento, não é amor

Aprenda a Saber Viver sem tabus. Todos os meses, a sexóloga Vânia Beliz promete falar abertamente sobre sexualidade, com o propósito de desmistificar questões associadas ao sexo e à intimidade, e para a fazer pensar e refletir sobre temas que podem, mesmo, mudar a sua vida.

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Crónica. Se dói e é violento, não é amor Crónica. Se dói e é violento, não é amor
© Rawpixel
Vânia Beliz, cronista
Escrito por
Fev. 13, 2021

Num mês em que comemoramos o Dia dos Namorados é importante refletir sobre as inúmeras situações de abuso e violência, agora ainda mais escondidas devido à pandemia.

A violência nas relações de intimidade é frequente e muito pouco abordada. Atinge casais de todas as gerações, de todas as classes sociais e situações económicas. A falta de reconhecimento das situações de abuso e a desvalorização de muitos comportamentos errados estão entre as causas do silêncio, mas existem muitas outras como o medo de repercussões, intimidação, descrença na justiça, entre outras.

A maior parte dos jovens, quando questionados sobre determinados comportamentos, não os reconhecem como violência, o que pode fazer com que assumam como normal um relacionamento tóxico.

A idealização e romantização dos relacionamentos ainda é muito comum, principalmente nas mulheres, que desculpam situações de controlo e de agressividade como resultantes de ciúme e de preocupação.

Muitas famílias notam mudanças no comportamento dos filhos e filhas, mas não reconhecem o problema. O isolamento social, a apatia, a mudança na forma de vestir e a agressividade podem ser sinais de que se é vítima de uma relação tóxica e abusadora.

A violência no namoro pode acontecer de diversas formas, mas a violência psicológica exercida através do controlo e submissão do outro é a mais frequente  entre os jovens. A vítima perde a sua autoestima e submete-se às vontades do/a parceira, muitas vezes quase sem perceber. Nos mais novos, o segredo acerca dos relacionamentos também pode contribuir para o silêncio.

Neste Dia dos Namorados sensibilizemos aquela ou aquele amigo ou amiga que está a passar por uma relação destrutiva, lembrando-o/a de que o nada pode crescer sem amor e paz
Vânia Beliz Vânia Beliz

Com o avançar da relação, muitas vítimas passam a limitar os seus contatos com os outros, chegando até a culpar-se pelo que está a acontecer. O discurso dos e das agressores/as é normalmente manipulador e tem como objetivo destruir a autoestima da vítima de forma a torná-la submissa.

Apesar de a maior parte das vítimas ser do sexo feminino, existem muitos rapazes vítimas de violência por parte das raparigas, assim como existem muitas situações de violência em casais do mesmo sexo. Para os últimos, o silêncio acaba por ser ainda uma consequência também da invisibilidade e não aceitação destas formas de relação

A violência tem sempre tendência a aumentar à medida que a vítima se vai fragilizando, por isso é importante pedir ajuda.

O amor não magoa, protege, acrescenta-nos e jamais nos diminui. Se a pessoa ao nosso lado não gosta de nós como somos e se tudo está errado, mal e feio, então talvez seja importante perceber o que nos prende ali.

Numa relação onde existe violência, sem respeito e admiração, não existe mais nada.

Neste Dia dos Namorados sensibilizemos aquela ou aquele amigo ou amiga que está a passar por uma relação destrutiva, lembrando-o/a de que o nada pode crescer sem amor e paz. A violência no namoro é muitas vezes o início de um inferno de sofrimento pautado por promessas, falhas e infelicidade.

Não tenha medo de ficar sozinha/o, não dê segundas oportunidades a qualquer gesto de violência. Conte a alguém o que está a acontecer e, se precisar, use as linhas de apoio sempre disponíveis para ajudar.

O amor só nos pode fazer chorar de alegria, quaisquer outras lágrimas são motivo para partir para outra.

Linha de apoio à violência doméstica: 800 202 148.

Vânia Beliz licenciou-se em Psicóloga Clinica e da Saúde. Mestre em Sexologia e doutoranda em Estudos da Criança na especialidade de Saúde Infantil, na Universidade do Minho, participa em projetos no âmbito dos Programas de Educação para a Saúde (PES) e o Projeto de Educação Sexual “A viagem de Peludim”, para crianças. É autora do livro Ponto Quê?, sobre a sexualidade feminina, e de Chamar As Coisas Pelos Nomes, dirigido às famílias sobre como e quando falar sobre sexualidade.

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