Até podemos estar neurologicamente preparados para construir laços afetivos, mas nunca como hoje houve tantos desafios à manutenção das relações.
“Nem sempre assim foi, mas, hoje, a felicidade é o que dá sentido à vida e isso é algo que nos torna mais exigentes. Só permanecemos juntos se houver amor, o que é muito desafiante, sobretudo tendo em conta que vivemos cada vez mais tempo”, diz Cláudia Morais.
Para a terapeuta familiar, os verdadeiros segredos dos casais felizes são:
• Conseguir reinventar-se a cada fase da vida. “Todos mudamos ao longo dos anos. Nas palavras da antropóloga Helen Fisher: ‘A maior parte de nós vai ter duas ou três relações significativas na vida. Para alguns, vai ser com a mesma pessoa’”;
• Manter a curiosidade e abertura em relação a quem está ao nosso lado;
• Não colocar expectativas irrealistas sobre os parceiros. “Por vezes, queremos que este tenha os mesmos interesses que nós, nos faça sentir desejo, seja o nosso melhor amigo e ainda que nos dê segurança, mas também permaneça suficientemente excitante para manter a novidade. Não é realista.”
“Além de apostar na construção da identidade do casal, é importante cada um promover outras ligações e interesses. Precisamos de nos sentir vivos, ter objetivos, superar obstáculos, assim trazemos essa energia para a relação. Quando cada um brilha nas suas próprias coisas, profissão, hobbies, olhamos para essa pessoa de um ângulo diferente. Se calhar já nos demos conta de um friozinho na barriga que surge quando vemos a pessoa que amamos a ser reconhecida por outros. Isso mantém-nos ligados e entusiasmados.”
Em contrapartida, há comportamentos tóxicos que deve evitar para que mantenha acesa a chama do amor. Com a ajuda da psicóloga e terapeuta familiar enumeramos os 4 principais.
O que pode deixar de fazer já
1. Manifestar desprezo
Pode ser manifestado de muita formas. O sinal não verbal é revirar os olhos.
“Se o nosso parceiro fala de alguma coisa importante para ele e reviramos os olhos, estamos a dizer-lhe que não queremos saber. Isso faz mal. Precisamos de sentir que a pessoa que temos ao lado se importa, numa base diária”, diz Cláudia Morais.
“Muitas vezes, o alerta surge em aparentes banalidades: um dos parceiros chega a casa e fala sobre uma música que descobriu. O outro não desvia o olhar do telemóvel. No dia seguinte, partilhamos a música com os colegas de trabalho e, à hora de almoço, um deles aparece com o CD de que falámos. Sentimos uma facada no coração, fomos confrontados com um gesto atencioso de alguém que prestou a atenção que esperávamos do nosso parceiro”, remata.
2. Ser hipercríticos
Traduz-se na permanente ‘caça ao erro’ por oposição à pessoa que espera sempre o melhor do outro.
“Combinámos às 17h e o meu marido está atrasado. Será que penso ‘de certeza que apanhou trânsito’ ou ‘está outra vez atrasado, não me respeita!’? A resposta condiciona a forma como vamos agir quando ele chegar, se perguntamos o que aconteceu com curiosidade ou de forma ríspida. Se for este o caso, é normal que a resposta venha ríspida também, o que confirma a nossa expectativa: ‘não só chegou atrasado, como ainda me responde torto’”, refere a terapeuta.
3. Amuos
“Há pessoas que erguem uma barreira de frieza e, apesar de estarem fisicamente presentes, ficam indisponíveis, sendo frias. Há que identificar a origem disso, pode ser por resposta a um comportamento hipercrítico”.
4. Defensividade
“Se, no caso do atraso, dissermos ‘então, chegaste atrasado, fiquei aqui tanto tempo à espera…’ em tom de lamento, e em vez de pedir desculpa o outro atirar com ‘então e tu, no outro dia ainda chegaste mais atrasada!’, está a sacudir a água do capote, sem assumir responsabilidade pela situação em vez de ser sensível aos nossos sentimentos”, explica Cláudia Morais.
“Sempre que dermos por nós, em qualquer disputa, a querer ter razão, é bom lembrar que é melhor ser feliz do que ter razão”, conclui a especialista.