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Coaching e ioga: Catarina Lino mostra-nos o lado positivo da vida

Era assistente de bordo, mas foi no ioga que descobriu o seu sentido de vida. Além disso, é life coach e ajuda as pessoas a trabalhar um certo objectivo na vida ou a ultrapassar uma fase de transição. Estivemos a falar com Catarina Lino, professora de ioga.

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Coaching e ioga: Catarina Lino mostra-nos o lado positivo da vida
Marta Chaves
Escrito por
Mar. 08, 2018

A vida por vezes dá muitas voltas. Até 2012, Catarina Lino trabalhou como assistente de bordo, viveu no Catar, mas algo a fez ver que não era totalmente realizada. Decidiu que tinha de mudar e mudou. Disse adeus ao país do Médio Oriente, voltou para Portugal, tirou um curso de Psicologia e especializou-se em Psicologia Positiva.

Conhecemos Catarina Lino numa pequena viagem ao Algarve e fizemos uma aula de ioga. Foi revigorante! Não só sentimos cada músculo do corpo a ser trabalhado, como no início e no final, fizemos uma sessão de relaxamento e respiração que nos ajudou a acalmar.

No final, falámos com ela sobre o seu percurso e ainda lhe pedimos algumas dicas para quem quer começar a fazer ioga, seja em casa, ou em aulas.


 

 

 

“Muito do trabalho que faço é desenvolver a confiança de que somos capazes e que sabemos lidar com os desafios e transições da vida. As fases de mudança trazem muita incerteza, muita insegurança, à qual, muitas vezes, se volta contra nós”

Entrevista a Catarina Lino

Em 2012 começou esta aventura do ioga. Porquê só neste ano?

Já fiz muitas coisas diferentes. Antes disto tinha sido assistente de bordo e estava a viver no Catar. Quando fui morar para lá, o meu pai estava doente e morreu passado um mês de estar neste país. Depois da sua morte e de ter vindo para Portugal, voltei novamente para o Catar. Foi uma experiência muito gira, conheci sítios diferentes, viajei pelo mundo e tive experiências muito interessantes. Ainda assim, rapidamente percebi que não queria fazer aquilo a longo prazo porque não me realizava como eu imaginava.

A morte do meu pai fez-me ponderar e refletir sobre as coisas de uma maneira diferente. Queria mesmo descobrir o que queria fazer para o resto da vida ou, pelo menos, algo que me fizesse sentir realizada. Depois de estar um ano e alguns meses no Catar decidir voltar para Portugal e quis tirar algum tempo para perceber o que iria fazer.

Em 2011, voltei e entrei nesta fase de transição onde comecei a perceber o que era realmente importante para mim e o que gosto mesmo de fazer. Contratei um coach com este propósito. Ajudou-me imenso e passado pouco tempo matriculei-me numa licenciatura de Psicologia e foi aqui que comecei a fazer ioga. Passado pouco tempo inscrevi-me num curso de ioga para professores na Índia, para aprofundar o que já tinha aprendido e por ter gostado tanto. O ioga surge numa altura de muita incerteza da minha vida e depois de ter saído de uma relação muito conturbada. Surgiu como uma ferramenta que me deu mais equilíbrio e ajudou a sentir-me capaz de enfrentar tudo o que estava a passar.

Passamos muito tempo da nossa vida om muitas camadas de proteção, de condicionalismos que vamos adquirindo, e às vezes perdemos o contacto com a nossa essência mais espontânea e natural

Esteve pela Índia, México, Havai… Que lições trouxe destes sítios?

Nessas formações e retiros de ioga percebi que há dois níveis em nós, humanos: um mais profundo, em que somos muito parecidos e onde queremos ser reconhecidos e bem tratados. Mas, depois, há o outro lado, em que mostramos maneiras muito diferentes de nos expressarmos. Temos desejos diferentes na vida, temos as nossas especificidades que acabam por se manifestar em diversas personalidades e em maneiras de estar completamente diferentes. Ver estes dois níveis em culturas e pessoas diferentes é uma experiência muito interessante. Mas, honestamente, uma das lições que ficou mais presente é que, em última instância, temos de nos mostrar para sermos vistos. Passamos muito tempo da nossa vida com muitas camadas de proteção, de condicionalismos que vamos adquirindo, e às vezes perdemos o contacto com a nossa essência mais espontânea e natural. Vê-se bem quando uma pessoa está à vontade na sua pele, que está de coração aberto, e acho que esse é o objetivo de cada um de nós.

Sendo life coach, quais são os problemas mais comuns das pessoas que a procuram?

Trabalho muito com mulheres e é o meu público favorito (risos). Isto porque falamos a mesma linguagem e é mais fácil encontrar os pontos em comum. Para as mulheres, acho que é a procura por se sentirem mais confiantes na sua pele. Vamos acumulando tanta coisa ao longo da nossa vida, tantas mensagens da sociedade, da nossa família, o que é suposto fazermos, o que é o sucesso… Nós somos inevitavelmente “esponjinhas”, estamos sempre a assimilar informação. Às tantas, temos dificuldade em distinguir o que é nosso e o que é externo. Muito do trabalho que faço é desenvolver a confiança de que somos capazes e que sabemos lidar com os desafios e transições da vida. Estas fases de mudança trazem muita incerteza, muita insegurança, a qual, muitas vezes, se volta contra nós. Mas, no fundo, todas passamos por essas fases. Então temos de aprender a confiar em nós e a desenvolver essa capacidade e coragem. E irmos ajustando o nosso caminho à medida que vamos vivendo.

Foto: Outrora assistente de bordo, Catarina Lino dedicou-se ao ioga e ao coaching depois de se ter especializado em Psicologia Positiva.

Quais são os benefícios, tanto físicos, como psicológicos, que o ioga nos pode trazer?

Físicos são imensos! Normalmente, as pessoas só associam o ioga a flexibilidade e é fantástico. Mas não é só isso. Trabalha-se a força e chega a ser um exercício cardiovascular. Além disto, há também a parte psicológica, que nos ajuda a coordenar movimento e respiração, e ensina-nos a respirar de forma mais profunda e completa, que é algo que não fazemos no dia a dia. Certos tipos de respiração ativam uma parte do nosso sistema nervoso, o sistema nervoso parassimpático, responsável pela nossa resposta de relaxamento e tranquilidade. Isto tem benefícios psicológicos muito grandes porque acabamos por desligar a resposta do stresse e ligamos uma resposta fisiológica de calma e serenidade. Como estamos sempre a enfrentar desafios na aula de ioga, acho que acabamos por desenvolver a nossa resiliência porque estamos a aprender a controlar a nossa resposta ao stresse.

No seu site escreve que a segunda coisa mais difícil que fez foi ioga e a primeira foi dar aulas de ioga. Mesmo sendo tão difícil, porque é que insistiu?

Não gosto de pintar um quadro demasiado cor de rosa. Houve imensos momentos em que pensei que ia desistir e que não ia conseguir. Acho que o primeiro e o segundo ano da minha prática de ioga foi uma luta só para continuar a praticar. Porque era, de facto, muito desafiante. Apesar de tudo, persisti porque voltei à questão: “eu gosto mesmo disto. Mesmo que não consiga progredir e chegar ao nível das raparigas que eu via, que era muito avançado, o facto é que isto me faz-me sentir muito bem. Por isso, quero continuar”.

Acho que a maior parte das pessoas beneficiaria em fazer ioga, mas não acho que toda a gente deveria fazer

Em que consiste o Pshycology Positive Coaching? É como uma ida ao psicólogo?

Não. Coaching é diferente de psicologia. Este tipo de coaching que faço é baseado nas ferramentas da psicologia positiva. A diferença entre os dois é muito grande. A psicoterapia é um trabalho mais aprofundado, em que se olha para os sintomas e vai-se tentar descobrir o que está na causa de determinados comportamentos. A psicologia lida com questões de âmbito mais sério, que podem ter consequências diferentes para as pessoas, como estados depressivos, ansiedade crónica. Em coaching não. Em coaching lidamos com pessoas que podem estar a passar por uma fase de transição na sua vida, ou têm um determinado objetivo que querem trabalhar, ou querem melhorar alguma área da sua vida, ou seja, é um trabalho muito orientado para soluções. Não temos, necessariamente, que aprofundar todas as causas e o passado, e é muito mais focado no presente e no futuro.

O que é que os iniciantes ao ioga devem saber desta prática? Porque é que se deve começar?

Sou suspeita, mas foi a ferramenta que mais me trouxe bem-estar na vida. Acho que a maior parte das pessoas beneficiaria em fazer ioga, mas não acho que toda a gente deveria fazer. Se as pessoas experimentarem algumas vezes e diferentes tipos, e não gostarem, não vale a pena insistir. Os benefícios são a resiliência, a flexibilidade (física e psicológica), a capacidade de trabalharmos com a nossa mente e não contra a nossa mente, ou seja aprendemos a aceitar aquilo que percecionamos como fraquezas, como aspetos inerentes dos seres humanos.


3 dicas para fazer ioga em casa

1. Encontre um espaço calmo e sereno da sua casa. Procure um canto que possa ser só seu e onde tenha espaço para colocar o tapete. Deve ser calmo e sem grande ruído à volta, pois aqui a tranquilidade é palavra de ordem. “Eu pessoalmente gosto de praticar de frente para o rio, ponho incenso e música. É importante recriamos o ambiente mais tranquilo possível”, diz-nos Catarina Lino. Porém, estes não são requisitos universais. Cada pessoa deve procurar o ambiente onde se sinta mais confortável.

2. Veja alguns vídeos no YouTube. Há imensas aulas online que pode replicar em casa. O melhor de tudo? Poupa no orçamento.  “Há professores fantásticos que têm aulas de 15 a 30 minutos para as pessoas escolherem a seu gosto”, explica a professora de ioga. Se não sabe qual escolher, pode começar por umas das suas professoras favoritas, Tara Styles.

3. Estabelecer objetivos e não exagerar no tempo de aula. É possível que no início queira logo fazer horas e horas de ioga e inúmeras posições. Mas vá com calma. Catarina Lino explica: “No início, a tendência é querer fazer logo muito, uma ou duas horas. Mas isso limita imenso, porque ou não temos tempo ou não vamos conseguir. É mais importante a regularidade e a consistência. Mais vale fazer 15 ou 20 minutos três ou quatro vezes por semana, do que fazer uma ou duas horas e depois não nos conseguirmos mexer.”

Esteja atenta às próximas aulas de Catarina Lino na página de Facebook e no site.

Foto: Catarina Lino, professor de ioga e life coach.


 

O que achou da entrevista? Leia o nosso artigo que explica como o ioga é para todos, principalmente para os desportistas.

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