Em saquetas, comprimidos, gomas ou até pó solúvel, os suplementos de colagénio têm dominado a indústria cosmética e os seus supostos benefícios abrangem tanto a firmeza e elasticidade da pele como o fortalecimento dos ossos e articulações.
Por esse mesmo motivo, não é de estranhar que o colagénio se tenha tornado um ingrediente-estrela dentro da comunidade de beleza e bem-estar, mas a sua eficácia ainda deixa muitas dúvidas.
Conversámos com Paulo Morais, médico especialista em dermatologia e venereologia, para esclarecer todas as suas questões.
Um bem essencial
O colagénio é uma das proteínas mais abundantes no corpo humano, representando cerca de 25% a 35% da sua proteína total e, segundo o especialista, “é a principal proteína estrutural da matriz extracelular encontrada nos vários tecidos conjuntivos do corpo. Encontra-se, sobretudo, na pele, cartilagem, ossos, tendões, ligamentos, músculos, córneas, vasos sanguíneos, intestino e discos intervertebrais”.
Enquanto proteína, representa cerca de 80% da pele, dando-lhe firmeza e elasticidade, prevenindo rugas e linhas de expressão, além de ser um elemento fundamental para a saúde do cabelo e das unhas. No entanto, à medida que envelhecemos, o corpo reduz naturalmente a sua produção.
Segundo o dermatologista, “a partir dos 25 anos, a produção de colagénio começa a diminuir cerca de 1% ao ano, processo que se acentua após a menopausa. Assim, começam a surgir os primeiros sinais de envelhecimento cutâneo, nomeadamente rugas, flacidez, perda de firmeza e de elasticidade”.
Basta pensar nesta proteína como uma corda ou rede que suporta a pele: enquanto somos jovens, a rede mantém-se firme, porém, à medida que envelhecemos a corda perde a sua elasticidade e firmeza.
No fundo, o corpo não tem capacidade para repor colagénio à mesma velocidade que o vamos perdendo.
O colagénio é responsável pela firmeza e elasticidade da pele e a ajuda prevenir rugas e linhas de expressão
Uma resposta, várias soluções
Como seria de esperar, a indústria cosmética viu uma janela de oportunidade e diversas marcas apressaram-se a criar suplementos que prometem fortalecer a pele e os ossos. Mas, afinal, em que consistem?
“Atualmente, existem suplementos de colagénio hidrolisado, nos quais a proteína sofre um processo de hidrólise, conseguindo-se uma melhor absorção; temos os péptidos de colagénio, em que as cadeias de colagénio já hidrolisado são quebradas em partículas ainda menores, facilitando a sua absorção pelo organismo. Além destes, existem ainda suplementos com precursores de colagénio, formulados com aminoácidos, vitaminas, minerais e podem conter outros ingredientes importantes para a saúde dos tecidos, como ácido hialurónico, carotenóides, chá verde, ómegas 3 e 6, silício orgânico e ácido ortosilícico”, explica Paulo Morais.
No fundo, o colagénio é uma proteína insolúvel de alto peso molecular e, para se tornar solúvel para ser incluída em suplementos, é fragmentada em cadeias com menor peso molecular.
Os péptidos de colagénio encontrados na suplementação são absorvidos mais facilmente pelo organismo, penetrando rapidamente na corrente sanguínea. No entanto, a quantidade efetivamente assimilada e processada pelo corpo ainda é dificilmente mensurável.
Oferta variada
O colagénio em suplementos pode ser consumido de diferentes maneiras. Para o dermatologista, “o melhor suplemento depende da preferência pessoal de cada consumidor. Os pós são mais populares porque são fáceis de adicionar a smoothies, café ou até mesmo água e uma boa opção para níveis de ingestão mais elevados. Os comprimidos e cápsulas são ideais para pessoas que querem uma solução rápida e fácil. Mas existem outras formas de apresentação, como saquetas, gomas, barras de cereais e águas aromatizadas. Em termos de dosagem, recomenda-se sempre o respeito pelas instruções da embalagem, pois não há dois suplementos iguais”, adverte.
Se está a ponderar tomar suplementos de colagénio, tenha em mente que os resultados não são imediatos
Uma verdade absoluta?
Os suplementos de colagénio são seguros, no entanto, Paulo Morais defende que a suplementação isolada “não faz sentido, nem substitui uma alimentação completa, equilibrada e variada”.
No que respeita aos resultados obtidos, o dermatologista refere que, “embora várias pesquisas tenham encontrado benefícios da suplementação com colagénio para alguns aspetos cutâneos, o consumidor deve ter em conta que a evidência é geralmente fraca”.
“Muitos estudos que apoiam efeitos positivos desta suplementação são pequenos e financiados pelas empresas que fabricam os produtos. Por outro lado, devemos ter em conta que é difícil medir a quantidade do suplemento absorvida e que chega efetivamente à pele. Os resultados variam de pessoa para pessoa e dependem da frequência de uso e da dose”, explica.
Manual de instruções
Nenhum suplemento é igual, mas existem algumas regras que podem ser aplicadas à maioria:
- A ingestão deve ser feita logo de manhã, em jejum, ou à noite, antes de dormir;
- O colagénio deve ser diluído em água ou sumo de frutas cítricas, pois a vitamina C ajuda na absorção;
- Opte por suplementos com péptidos de colagénio hidrolisados, uma vez que o seu tamanho é menor e a absorção é superior.
Tomar ou não tomar?
Se está a ponderar tomar suplementos de colagénio, tenha em mente que os resultados não são imediatos.
Paulo Morais defende que a suplementação pode ser feita “ocasionalmente, mas não como rotina ou isoladamente. É mais importante apostar numa alimentação saudável e variada”.
Apesar de ter alguns benefícios comprovados para a pele, o colagénio em suplementos ainda está longe de ser uma fonte de juventude e são precisos mais estudos para concluir o seu verdadeiro efeito, ainda assim conheça alguns dos formatos em que o colagénio se encontra disponível.
