Nutrição

FODMAP: a dieta restrita que promete acabar com o inchaço abdominal

Está familiarizada com a dieta FODMAP? Descubra tudo o que deve saber antes de embarcar nesta aventura nutricional que promete pôr um ponto final no desconforto e dor abdominal.

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FODMAP: a dieta restrita que promete acabar com o inchaço abdominal FODMAP: a dieta restrita que promete acabar com o inchaço abdominal
© Unsplash
Ana Carvas
Escrito por
Set. 30, 2020

Costuma ter sensação de barriga inchada e má disposição após as refeições? Sente que tem dificuldade em digerir vários alimentos? Se respondeu afirmativamente às questões, então conheça a dieta restrita em alimentos FODMAP.

Conhecidos como o conjunto de hidratos de carbono mal digeridos no intestino delgado, que provocam, por isso, dor abdominal, flatulência, obstipação, diarreia e distensão abdominal, os FODMAP devem, gradualmente, ser retirados da sua ementa semanal.

Para perceber melhor as implicações desta dieta, assim como para conhecer os benefícios, efeitos e regas a seguir, falámos com Fábio Cardoso, nutricionista no Centro Hospitalar Universitário de São João, que desmistifica o essencial sobre os alimentos e a dieta FODMAP.

Desmistificar uma silga

“FODMAP é um acrónimo inglês de Fermentable Oligo-, Di-, Mono-saccharides And Polyols e designa um conjunto de hidratos de carbono de cadeia curta e álcoois de açúcares, nomeadamente: oligossacarídeos (frutanos e galactanos), dissacarídeos (lactose), monossacarídeos (frutose) e polióis (manitol, sorbitol, entre outros)”, começa por explicar Fábio Cardoso.

Embora grande parte dos FODMAP se encontrem naturalmente presentes nos alimentos, a verdade é que estes podem também ser adicionados durante o processamento.

“São frequentemente mal absorvidos e extensamente fermentescíveis a nível intestinal, podendo desencadear sintomatologia gastrointestinal funcional especifica em indivíduos suscetíveis”, esclarece o especialista.

Quais os alimentos FODMAP?

Espalhados um pouco por todos os grupos da Roda da Alimentação Mediterrânica, com excepção dos grupos Gordura e Óleos e Carne, Pescado e Ovos (quando estes não sofrem qualquer tipo de processamento ou transformação), os FODMAP estão presentes em quantidades variáveis dentro de cada grupo, em alimentos que tanto podem ser ricos ou restritos em FODMAP. Ora veja.

Alimentos ricos em FODMAP

  • Hortícolas: beterraba, alcachofra, couve-de-bruxelas, funcho, cebola, alho, alho francês, espargos, ervilhas de quebrar, brócolos e couve-flor.
  • Frutas: maçã, pêra, manga, melancia, pêssegos e ameixa.
  • Lacticínios: leite, iogurte, queijos moles, gelados com natas e outras sobremesas com leite.
  • Leguminosas: feijão, grão-de-bico, favas, ervilhas e lentilhas.
  • Cereais, derivados e tubérculos: centeio e trigo.
  • Frutos oleaginosos: caju e pistache.

Alimentos restritos em FODMAP

  • Hortícolas: cenoura, aipo, couve bok choy, beringela, pimento, chuchu, feijão-verde, alface, abóbora, cebolinha, pastinaca, tomates e acelga.
  • Frutas: banana, mirtilos, uvas, meloa, kiwi, limão, lima, tangerina, laranja, maracujá, framboesa e morango.
  • Lacticínios e bebidas vegetais: leite sem lactose, bebidas vegetais de coco, arroz e à base de proteína de soja, queijo cheddar, mozarela e parmesão.
  • Carnes, pescado e ovos: carne, peixe, tofu, seitan e ovos
  • Cereais, derivados e tubérculos: milho, arroz, batata e outros cereais sem glúten.
  • Frutos oleaginosos: nozes, noz pecan, amendoim e pinhão.
A restrição na quantidade de FODMAP ingerida permite reduzir a carga osmótica e os níveis de fermentação ao nível do colón, conseguindo-se com isso controlar a sintomatologia gastrointestinal – Fábio Cardoso, nutricionista

Dieta restrita em FODMAP: o que é e quais os benefícios

Agora que já sabe quais os principais alimentos ricos e restritos em FODMAP, importa saber ao certo em que consiste uma dieta restrita em FODMAP.

“O princípio geral desta dieta baseia-se na limitação do consumo de alimentos cuja concentração nestes compostos exceda os limites definidos por porção/dose de consumo e sua consequente substituição por outros equivalentes alimentares, com teor reduzido em FODMAP”, explica Fábio Cardoso.

Para o especialista, a dieta apresenta três fases distintas e transitórias, com diferentes abordagens e objetivos específicos em cada fase, mas com um objetivo final comum: uma remissão satisfatória na sintomatologia gastrointestinal funcional que aumente a qualidade de vida do doente.

O nutricionista do Centro Hospitalar Universitário de São João descreve assim as três fases:

Fase 1: consiste numa eliminação e/ou restrição de todos os alimentos com alto teor em FODMAP, com o intuito de determinar a existência de uma causalidade entre a ingestão de FODMAP e a sintomatologia gastrointestinal funcional.

O propósito desta fase é reduzir quer a sua frequência quer a sua intensidade. A duração desta fase é variável, podendo decorrer entre 2 a 8 semanas, consoante a resposta de cada indivíduo.

Fase 2: pretende-se realizar uma reintrodução controlada e isolada dos vários subgrupos de FODMAP nos indivíduos que obtiveram uma boa remissão sintomatológica na fase anterior.

O objetivo é determinar qual ou quais os subgrupos de FODMAPs específicos que foram desencadeadores da sintomatologia, para que se proceda apenas à restrição de alimentos ricos naquele ou naqueles subgrupos na fase seguinte da dieta, aumentando assim a diversidade alimentar e minimizando o risco de desequilíbrios nutricionais.

Esta fase pode variar entre 5 a 8 semanas, de acordo com a especificidade nos subgrupos de FODMAP testados, podendo ser inclusive superior em alguns casos.

Fase 3: consiste na reintrodução de todos os alimentos contendo os subgrupos de FODMAPs previamente identificados como toleráveis num regime de manutenção e monitorização periódica da remissão sintomatológica, que poderá durar meses.

Quais os benefícios?

“Atualmente, apenas se sabe que a restrição na quantidade de FODMAP ingerida permite reduzir a carga osmótica e os níveis de fermentação ao nível do colón, conseguindo-se com isso controlar, no imediato, a sintomatologia gastrointestinal“, explica o especialista, que considera este o principal benefício desta metodologia.

Na verdade, a vantagem de pôr em prática a dieta que restringe o consumo de hidratos de carbono mal digeridos no intestino delgado é, acima de tudo, o aumento da qualidade de vida e um alívio a longo prazo dos efeitos que tais alimentos causavam.

O objetivo de perder peso não deverá de modo algum justificar a sua adoção por indivíduos sem sintomatologia gastrointestinal sugestiva de intolerância aos FODMAP – Fábio Cardoso, nutricionista

Quem deve fazer esta dieta restrita?

Pergunta-se, e bem. Fábio Cardoso, orador no XIX Congresso de Nutrição e Alimentação da Associação Portuguesa de Nutrição, onde desmistificou os FODMAP e as dietas restritas neste tipo de alimentos, não tem dúvidas: “Atualmente, existe evidência clara para a aplicação de uma dieta restrita em FODMAP no controle da Síndrome do Intestino Irritável (SII)“.

Para além disso, “existe também alguma evidência para a sua aplicação no alívio da sintomatologia gastrointestinal funcional nas Doenças Inflamatórias Intestinais (DII). Adicionalmente, ainda aparenta ter benefícios nos casos de fibromialgia, endometriose e diarreia, distensão e/ou obstipação funcional”, acrescenta.

Por proibir o consumo de diferentes alimentos, esta dieta acaba por reduzir o consumo de macro e micronutrientes, vitamina e minerais, o que faz com que o método não seja recomendado em alguns casos específicos.

“Atualmente encontra-se desaconselhada em indivíduos que sofram de algum transtorno alimentar, se encontrem numa situação de risco nutricional ou desnutridos, grávidas, crianças muito jovens e em indivíduos com algum comprometimento cognitivo que impeça a compreensão e uma correta aplicação desta metodologia.”

Fábio Cardoso explica ainda que, “pelas suas características restritivas, esta dieta tem a potencialidade de ser utilizada para quem deseja perder peso. Contudo, o objetivo de emagrecer não deverá de modo algum justificar a sua adoção por indivíduos sem sintomatologia gastrointestinal sugestiva de intolerância aos FODMAP”.

Importa frisar que, por ser uma dieta de perdas e ganhos de nutrientes (o que aumenta o risco de desequilíbrios nutricionais), é de extrema importância ter acompanhamento regular e fazer uma avaliação junto de um nutricionista habilitado.

Como começar uma dieta FODMAP?

Tal como já foi referido anteriormente, é desaconselhada a realização desta, e de qualquer dieta, de forma autónoma e sem um acompanhamento adequado por um especialista com conhecimentos e competências na área.

Isto porque “existe um grande risco de se gerarem desequilíbrios nutricionais quando não são efetuadas substituições alimentares corretas e variadas e até mesmo de não se conseguir alcançar satisfatoriamente o objetivo terapêutico pela realização de uma restrição de FODMAP incorreta”, esclarece Fábio Cardoso.

Assim, o primeiro passo em caso de sintomas gastrointestinais funcionais, tais como inchaço no estômago, dor abdominal leve, flatulência e distensão abdominal, será uma consulta com um gastroenterologista, essencial para estabelecer um disgnóstico e realizar um acompanhamento clínico, e com um nutricionista, para planear e instituir a terapêutica nutricional e alimentar mais adequada à condição clínica diagnosticada.

Exemplo de uma menu diário da dieta restrita em FODMAP

Um menu diário muito generalista e meramente exemplificativo daquilo que será uma primeira fase (restrição total de FODMAP) desta metodologia, poderá ser*:

menu FODMAP

*O valor energético e opções alimentares utilizadas neste dia alimentar são arbitrários e meramente exemplificativos daquilo que será um dia alimentar restrito em FODMAP, devendo ser adequados de forma individualizada a cada indivíduo com base nas suas necessidades energéticas e nutricionais (que variam com a idade, sexo, estado de saúde e nível de atividade física), gostos e preferências alimentares.

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