Saúde

A relação entre a higiene oral e o cancro da cavidade oral

Sabia que a falta de higiene oral representa um dos principais fatores de risco para o surgimento de cancro oral? Filipe Santos Borga Cortesão, médico dentista, Coordenador de Medicina Dentária do Hospital CUF Sintra e especialista em Cirurgia Oral pela Ordem dos Médicos Dentistas, esclarece tudo.

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A relação entre a higiene oral e o cancro da cavidade oral A relação entre a higiene oral e o cancro da cavidade oral
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Jul. 27, 2020

O cancro oral e da orofaringe (COO) está classificado como o sexto cancro mais frequente do mundo. Estima-se que todos os anos sejam diagnosticados globalmente mais de 300 mil casos de COO, contabilizando-se cerca de 145 mil mortes anuais associadas a esta patologia.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, a área do globo mais afectada é o sudeste Asiático, sendo a Europa a segunda zona com os números mais elevados.

4 perguntas e respostas sobre cancro oral e da orofaringe

Existem hábitos ou rotinas diárias que aumentem a probabilidade de aparecimento de cancro oral?

De acordo com os dados atuais, o cancro oral é uma entidade possível de prevenir, dado que está muito relacionada com determinados hábitos ou rotinas, designados como fatores de risco para o aparecimento de cancro oral.

Os dois fatores de risco mais estudados são o tabaco e o álcool, que se estima serem responsáveis por cerca de 75% a 90% das situações de cancro da cabeça e pescoço.

O tabaco nas suas diversas formas, quando considerado de forma isolada, é o factor de risco mais importante, mas quando associado ao hábito de consumo de bebidas alcoólicas em elevada quantidade, os dois efeitos potenciam-se e tornam a taxa de risco de cancro oral mais elevada.

Uma presença assídua em consultas de manutenção regulares está associada a uma menor taxa de incidência de COO – Filipe Santos Borga Cortesão, médico dentista

Existem outros fatores de risco já identificados?

Alguns estudos demonstram que a falta de higiene oral associada a uma escovagem não adequada, bem como a consequente presença de tártaro, apresentam relação com maiores taxas de aparecimento de cancro oral e da orofaringe.

Estima-se que o mecanismo de base para esta relação seja a reação inflamatória da mucosa oral, induzida pela presença de uma grande quantidade de bactérias.

A destruição dentária também parece ser um fator plausível, dado o seu potencial para traumatizar os tecidos e causar aftas (pequenas feridas), que se forem originadas de forma repetida sempre no mesmo local poderão ter relação com o aparecimento de cancro oral.

Alguns estudos também apontam a falta de dentes e a inadequada capacidade de mastigação como responsável para uma maior predisposição para cancro do esófago, devido a uma maior tendência para mastigar menos os alimentos e engolir fragmentos que podem traumatizar mais esta zona.

Em pacientes que utilizam elixires e colutórios de forma continuada ao longo de um grande período de tempo, também parece existir um risco um pouco mais elevado de aparecimento de COO. Estes dados parecem indicar que os elixires que contenham álcool acabam por funcionar como um estímulo de irritação que potencia o aparecimento de COO, semelhante ao consumo de bebidas alcoólicas ao longo de um grande período de tempo.

No sentido oposto, verificou-se que uma presença assídua em consultas de manutenção regulares está associada a uma menor taxa de incidência de COO, ou seja, o risco é mais baixo para o aparecimento desta doença.

Estima-se que, um a quatro anos após parar de fumar, o risco de aparecimento de COO parece ser idêntico aos casos de pacientes que pararam de fumar há mais de 20 anos – Filipe Santos Borga Cortesão, médico dentista

O que posso fazer para prevenir ativamente o cancro oral?

Está comprovado que o consumo de fruta e vegetais frescos reduz o risco de aparecimento de cancro oral em 50%, pelo que é aconselhável incluí-los na dieta regularmente.

Diversos estudos recentes na população europeia referem que o consumo de peixe também está associado a taxas de COO mais baixas.

Para além disso, para os pacientes que pretendam suspender hábitos que sejam considerados fatores de risco, estima-se que, um a quatro anos após parar de fumar, o risco de aparecimento de COO parece ser idêntico aos casos de pacientes que pararam de fumar há mais de 20 anos.

Pelo contrário, para quem suspende o hábito de consumo de álcool, irão realmente ser necessários 20 anos para que se comece a verificar redução de risco.

Há algum sinal ou sintoma ao qual deva estar atenta?

O aspeto visual do cancro oral pode apresentar variadas formas e localizações ao longo da cavidade oral.

Alguns exemplos serão a presença de aftas ou úlceras no interior da boca que demorem a cicatrizar, bem como zonas ao longo das gengivas, língua, lábio ou bochechas que se apresentem com alterações na sua superfície, como manchas vermelhas ou esbranquiçadas, e que poderão servir como sinal de alerta.

Ainda assim, todas estas situações podem ser exemplos também de outras patologias não graves e que sejam de fácil resolução.

Como tal, o diagnóstico correto deverá ser feito pelo seu médico dentista ou higienista oral, que estão treinados para fazer um exame oral completo e assim detetar a presença de situações que mereçam mais atenção.

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