O regresso às aulas, em setembro, é sempre uma altura de muitas emoções. Tristes pelas férias e o verão terem terminado, entusiasmados por comprar novo material escolar e ansiosos por voltar a ver os amigos na escola. Mas setembro também traz coisas menos boas, como a pressão para ter boas notas, o medo e a ansiedade de falhar, e o cansaço inerente às várias horas de aulas e estudo.
É assim que emerge o burnout académico, e cada vez mais cedo, alerta Cátia Silva, psicóloga clínica especializada em ansiedade, burnout, depressão, PHDA e autoestima. Porque ao contrário do estigma, este não é apenas “falta de vontade” nem uma “birra adolescente”, mas sim “um estado de exaustão emocional, mental e física provocado por um excesso de exigência escolar, muitas vezes acumulado ao longo de meses ou anos”.
“É quando o estudo, que devia ser um espaço de descoberta e autonomia, se transforma num campo de batalha interno. Este fenómeno afeta adolescentes e universitários, mas cada vez mais as crianças também. Temos visto casos em que o burnout começa no ensino básico, sobretudo quando há uma cultura de hiperexigência instalada desde cedo: testes constantes, explicações após as aulas, pouco tempo livre, excesso de atividades extracurriculares, pressão para ser ‘o melhor’ e, por vezes, o peso adicional de expectativas parentais difíceis de suportar”.
Sintomas de burnout académico
Nem sempre é fácil identificar o burnout académico, pois os sintomas podem ser confundidos com outras patologias, ou mesmo com preguiça ou rebeldia, mas há sinais a que devemos estar atentas, nomeadamente:
- Baixa autoestima e autocrítica excessiva;
- Fadiga constante, mesmo após descanso;
- Irritabilidade, isolamento ou apatia;
- Dificuldade de concentração e memorização;
- Medo excessivo de falhar ou de “não ser suficiente”;
- Queixas físicas (dores de cabeça, problemas de sono, náuseas);
- Perda de interesse pelo estudo ou atividades que antes gostava.
“Saber identificar estes sintomas é primordial para prevenirmos, e a melhor prevenção começa na forma como olhamos para o sucesso académico e como o comunicamos às crianças e jovens. Se a mensagem for: ‘só vales pelo que consegues’, abrimos caminho para a ansiedade e para o burnout. Mas se validarmos o esforço, a curiosidade e o equilíbrio, ajudamos a criar um ambiente onde o erro é permitido e o descanso é legítimo” refere a psicóloga.
Estratégias que podem ajudar
Se uma criança ou jovem já apresenta sinais de burnout, o mais importante é criar um espaço de escuta segura, sem julgamento, pressão, ou soluções imediatas.
- Promover rotinas equilibradas com tempo para descanso, lazer, sono e socialização;
- Evitar sobrecargas com explicações e atividades extracurriculares em excesso;
- Falar sobre emoções relacionadas com a escola, validando medos e frustrações;
- Encorajar pausas e momentos criativos entre períodos de estudo;
- Reforçar a autoestima com base no valor pessoal e não apenas no desempenho.
“Para os pais, pode ser difícil aceitar que o filho ‘precisa de parar’ ou ‘está a sofrer com a escola’, mas reconhecer isso é um gesto de coragem e de amor. O burnout académico não é sinal de fraqueza. É sinal de que o sistema precisa de ser repensado e que os nossos filhos precisam de ser ouvidos antes de serem cobrados” conclui Cátia Silva.