Bem-estar

Crónica. Afinal, o que é isso da Psicologia Positiva?

Acredito (uma espécie de fé) que nascemos para viver bem e sermos felizes. Gosto de romantizar que no final da minha existência vou olhar para trás e dizer: foi bom, foi bem vivido. Vivi com intensidade, tomei decisões, somei amigos, amei e fui amada, deixei o meu legado.

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Crónica. Afinal, o que é isso da Psicologia Positiva? Crónica. Afinal, o que é isso da Psicologia Positiva?
© Getty Images
Sara Midões
Escrito por
Jan. 25, 2020

*Acompanhe mensalmente a jornada de uma marketeer a aprender a ciência da felicidade.

Com o dobrar dos quarenta, estas questões – de repente – começam a ter ainda mais significado. Uma carreira profissional cada vez mais exigente; a correria do dia a dia, as redes sociais totalmente absorventes; nós sempre conectados, sempre online, sempre disponíveis. Não temos tempo para pensar, sempre com a sensação de que podíamos estar a “produzir”, que o dia acabou e tanto ficou por fazer.

Vivemos para fazer e ter e não para ser e estar. O tempo passa, os filhos crescem, começam a aparecer as brancas e lembramo-nos da tal ideia romântica de vida bem vivida. É nestes momentos em que te questionas, que sentes a necessidade de ir à procura de respostas. Foi aí que começou a jornada.

Comecei por pesquisar na Internet, por perder-me a ouvir TED Talks, ler os meus primeiros livros sobre a ciência da felicidade. Fiz um curso online (The Science of Well-Being pela Yale Universtity) e assim descobri a Psicologia Positiva. E que descoberta transformadora.

Inscrevi-me na pós-gradução de Psicologia Positiva aplicada, no ISCSP, e só sei que não quero parar de aprender (de aplicar a mim própria e passar a palavra aos que me rodeiam).

Até há pouco tempo, dizermos que íamos ao psicólogo era estigmatizante. Se precisavas de ajuda era porque tinhas um problema
Sara Midões Sara Midões

Mas o que é a Psicologia Positiva?

“Ah, isso é aquela coisa d’O Segredo, não é?” Não, não é…. Encontro pela caminho tanta desinformação e tanto preconceito; vou tentar explicar.

A Psicologia tradicional – chamemos-lhe assim – tem como objetivo tratar as patologias como a depressão, os ataques de ansiedade, os transtornos de personalidade, e desta forma anular as causas de mal-estar psicológico. Se concebermos o bem-estar como uma escala, a Psicologia ajuda as pessoas a trazê-las do ponto negativo onde se encontram para um ponto neutro, de ausência de mal-estar.

E este foco teve um contexto histórico. Foi depois da segunda Grande Guerra, que a Psicologia teve o maior desenvolvimento e financiamento. Nessa altura, a prioridade (e bem) era tratar problemas de depressão profunda, perda, stress pós-traumático, e a comunidade científica ficou envolvida nesse objetivo.

As outras tarefas originariamente definidas pelos primeiros psicólogos, como melhorar a vida normal e identificar e incentivar o talento, passaram para segundo plano. Até há pouco tempo, dizermos que íamos ao psicólogo era estigmatizante. Se precisavas de ajuda era porque tinhas um problema.

A Psicologia Positiva dedica-se ao estudo de como ajudar o ser humano a florescer ou, por outras palavras, de o guiar na construção de uma vida que mereça a pena ser vivida
Sara Midões Sara Midões

Felizmente, tudo mudou. Há cerca de duas décadas, surgiu nos Estados Unidos da América uma nova área científica dentro da Psicologia que basicamente se dedica ao estudo daquilo que nos faz felizes. Como levar as pessoas do ponto neutro para valores positivos na escala do bem-estar? Para a Psicologia Positiva, o objetivo não é a ausência de mal-estar; mas sim a presença de bem-estar.

O foco não é a doença ou o problema, mas sim as várias soluções e a potencialidade de cada situação. A Psicologia Positiva dedica-se ao estudo de como ajudar o ser humano a florescer ou, por outras palavras, de o guiar na construção de uma vida que mereça a pena ser vivida. Esta nova corrente também é fruto de um contexto.

Nos países desenvolvidos, nunca os níveis de riqueza foram tão altos, nunca tivemos tanta qualidade de vida material. Assistimos a uma melhoria substancial das condições de vida, transversal a todas as classes. As nossas avós falavam  da sardinha que dava para alimentar uma família. Ouvimos histórias de crianças que cresciam descalças. E quem vivia melhor não tinha aquilo que hoje consideramos “básico”, como um frigorífico ou uma máquina de lavar roupa.

Uma ciência humana, com um objetivo de bondade, de esperança e – porque não? – também ele de fé
Sara Midões Sara Midões

Então, se vivemos com muito mais, porque não somos mais felizes? E por que razão alguns países menos ricos (o Brasil ou a Costa Rica) apresentam níveis de bem-estar subjetivo superiores aos das nações mais prósperas?

Todos nós procuramos estas respostas.  Há quem se inspire em gurus de auto-ajuda, há quem mergulhe na espiritualidade, há quem misture tudo num pot-pourri milagroso e há quem – como eu – prefira a ciência. Uma ciência humana, com um objetivo de bondade, de esperança e – porque não? – também ele de . Aquela fé de que nascemos para viver bem e sermos felizes.

Para se inspirar:

Uma ONG britânica que visa ajudar pessoas e comunidades a viverem mais felizes, com base no conhecimento da Psicologia Positiva

A Ted Talk de Matthieu Ricard, Bioquímico francês que se tornou monge budista

•  Outra Ted Talk, desta vez de de Martin Seligman, professor universitário e um dos fundadores da Psicologia Positiva

Sara Midões, trabalha em marketing e gestão comercial, e partilhará com os leitores da Saber Viver todas as maravilhas da descoberta da ciência do bem-estar. É mãe de dois adolescentes e praticante convicta de yoga. Para mais informações, contactar através do e-mail sara.midoes@gmail.com.

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