Relações e família

Como lidar com as discussões numa relação, segundo uma terapeuta de casal

No início, os relacionamentos parecem perfeitos, mas, à medida que o tempo passa, há comportamentos, por mais pequenos que sejam, que minam as relações. Uma terapeuta de casal ensina-nos a lidar com eles.

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Como lidar com as discussões numa relação, segundo uma terapeuta de casal Como lidar com as discussões numa relação, segundo uma terapeuta de casal
© Shutterstock
Rita Caetano
Escrito por
Mai. 24, 2021

No início de uma relação, geralmente, não há defeitos que sobressaiam, mas, com o passar do tempo, aqueles, mesmo os mais pequenos, parecem adensar-se como uma nuvem a pairar em cima do casal e podem dar origem a discussões e mal-estares.

Mas, como nos diz Catarina Lucas, psicóloga especialista em Sexologia e terapeuta de casal, tudo isso é normal: “O que não é normal é gostar de tudo no outro. Somos seres imperfeitos, somos seres autocentrados, logo, existirão sempre comportamentos no outro que nos desagradam. Se até os nossos hábitos por vezes nos aborrecem, os do outro não serão exceção”.

Conversar sobre essas práticas é a solução para as resolver ou chegar a um acordo.

Comunicar para ajustar

Na fase do enamoramento, os membros do casal são, por norma, mais tolerantes a tudo e há quem não veja os defeitos do outro e quem os tente ignorar e pensar que vão passar.

Esta atitude explica-se porque, “no fundo, não queremos perder o outro e, por isso, temos menor capacidade para expor o que pensamos e sentimos em relação às coisas que nos desagradam no outro. À medida que ganhamos segurança na relação, tornamo-nos mais confiantes para comunicarmos o que nos desagrada. Deixamos ainda de ver o outro como um ser perfeito, o que é normal, e tendemos a ser menos tolerantes com alguns comportamentos e hábitos”, refere Catarina Lucas.

Um aspeto importante é conversar sobre os temas que nos incomodam e desde cedo. Isto deve ser feito “de forma assertiva, sem magoar e com uma atitude empática. Mas não devemos deixar de comunicar aquilo que nos deixa desconfortáveis, sob pena de o outro não perceber esse desconforto e também não ter oportunidade de se ajustar”, ensina a terapeuta de casal.

Contudo, não se esqueça de que “é preciso dar espaço às diferenças individuais, entender que o outro não é igual a nós e que terá o seu próprio funcionamento, que poderá, apenas, ser diferente do nosso”, salienta Catarina Lucas.

Precisamos de fazer uma triagem entre aquilo que não conseguimos mesmo tolerar e aquilo que devemos aceitar como características do outro – Catarina Lucas, psicóloga

Aceitar a diferença

Mais do que tentar mudar os hábitos, a terapeuta de casal diz que “o caminho é a compreensão, a cedência, o ajustamento e a aceitação. Não mudaremos tudo, aliás, ninguém muda só porque nós o desejamos. Precisamos de fazer uma triagem entre aquilo que não conseguimos mesmo tolerar e aquilo que devemos aceitar como características do outro”.

E, além disso, não há um par perfeito. “É extremamente importante entender isso. Não existe um parceiro perfeito, porque nós mesmos também o não somos, porque o ser humano é imperfeito e erra. Trazer as relações para o campo da realidade permite-nos um melhor ajustamento, tolerância e até resiliência”, conclui a psicóloga.

16 hábitos que costumam causar mal-estar nas relações

Reunimos alguns hábitos e pedimos à terapeuta de casal Catarina Lucas para os comentar.

1. Não cozinha
O melhor é negociar e compensar “com outra tarefa que o outro execute, ou simplesmente conversar e ajustar. Se um cozinhar e outro lavar a loiça, para alguns casais a situação resolve-se; para outros, é preciso uma mudança efetiva”.

2. Quando arruma a cozinha, não lava o que está no fogão
“Em algum momento terá de ser lavado. Bastará uma conversa para que isso se ultrapasse.”

3. Demora muito tempo a fazer qualquer tarefa doméstica
Há que aceitar. “Cada um tem o seu ritmo e não fazemos as coisas da mesma forma e à mesma velocidade.”

4. Deixa roupa espalhada pela casa
Neste caso, não há alternativa! É negociar as “regras de funcionamento em casal e em casa”.

5. Quando se deita, faz sempre muito barulho e acende as luzes mesmo que eu já esteja a dormir
Aqui é preciso “sensibilização para a necessidade de cuidado adicional se o outro estiver a dormir. O nosso comportamento também pode moldar o comportamento do outro”.

6. Conduz como se estivesse constantemente num rali
A melhor forma de abordar este assunto é “explicar como isso nos deixa desconfortáveis e até assustados”.

7. Passa os dias de pijama quando está em casa
“O outro é um ser individual com vontade própria e com necessidades individuais. Talvez esse seja o seu momento de relaxamento.”

8. Coloca o despertador para uma hora e está sempre a adiá-lo com o snooze
Nada melhor do que “tentar chegar a um acordo, mas pode ser difícil ajustar, porque os ritmos de sono e de acordar são diferentes em cada pessoa”.

9. Fico horas à espera quando saímos de casa
“Sem solução! Ahahah!”

10. Adormece constantemente no sofá
“Nada a fazer! Mais uma vez, os ritmos de cada pessoa são diferentes. Na maioria das vezes, a pessoa não adormece de forma propositada.”

11. Faz barulho a comer
Vale a pena “explicar o quanto é desagradável e socialmente desconfortável. Pedir um ajustamento de comportamento pode ser viável se isso incomodar muito”.

12. Come tudo o que houver em casa sem se lembrar dos outros
A solução passa por “sensibilizar para o facto de viver com outras pessoas e que há hábitos que precisam de ser ajustados ao viver com alguém”.

13. Deixa pelos da barba ou cabelos no lavatório
É preciso “relembrar regras de convivência em casa e explicar a importância de limpar quando usa”.

14. Ressona
O melhor é “ajudar e marcar uma consulta médica para entender se existe algum motivo que o justifique e que possa ser tratado”.

15. Não larga o telemóvel
É necessário “encontrar momentos em que possam deixar o telemóvel de parte e respeitar momentos em que o outro possa usá-lo livremente”.

16. Odeio a música que ouve e os programas de televisão que vê
“Mais uma vez, é um casal em ajustamento, onde há cedências que precisam de ser feitas e hábitos que têm de ser aceites. Se for um total domínio da televisão, há que negociar.”

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