A vida polémica de Woody Allen foi comentada durante anos pelos meios de comunicação social, principalmente quando assumiu uma relação com Soon-Yi Previn, filha adotiva de Mia Farrow e do músico André Previn, em 1992. O caso entre os dois começou ainda quando Woody Allen estava num relacionamento com Mia Farrow, ainda que ambos jurem que não tiveram qualquer tipo de relacionamento sexual antes de Soon-Yi atingir a maioridade.
O caso abalou o mundo e questionou a conduta de Allen com a filha adotiva, mas nem isso o parou de continuar a sua vida profissional. Agora, a HBO relança o debate, mas de uma outra perspetiva, ainda mais preocupante.
Allen vs. Farrow é um documentário de quatro episódios que tem Mia Farrow e Dylan Farrow (adotada por Mia e Woody Allen) como figuras centrais e que apresenta uma série de entrevistas feitas a amigos próximos de família, a alguns dos filhos da atriz, e mostra ainda gravações de telefonemas e imagens inéditas de toda a família.
A produção dos realizadores Kirby Dick e Amy Ziering levou três anos a estar preparada (e foi feita em segredo) e explora não só a relação de Mia Farrow e Woody Allen, que durou desde 1980 a 1992, mas também a relação do cineasta com os filhos adotivos da atriz. A mais perturbadora seria a relação com Dylan que, tal como mostra o documentário, haveria uma obsessão pela menina que envolvia uma série de atitudes impróprias testemunhadas pela família.
Dylan Farrow conta explicitamente a violação por parte do pai quando tinha apenas sete anos. Na altura criança, Dylan contou à mãe o que Woody Allen lhe teria feito no sótão da sua casa de infância, e Mia Farrow gravou várias vezes o relato da filha com uma câmara de filmar amadora, que viria a servir de prova para análise de psicólogos de advogados.
O escândalo surgiu pouco depois de Allen e Soon-Yi terem assumido uma relação e, no início, pouca importância se deu à alegada violação. Quando o realizador teve de se pronunciar sobre o caso, acusou Mia Farrow de se querer vingar da suposta traição da filha — agora namorada do ex-marido — e de querer destruir a sua vida profissional, ao ponto de levar a filha a mentir e a inventar um abuso sexual que nega veementemente
Só haveria uma forma de levar o caso a tribunal: Dylan teria de testemunhar. Porém, o procurador, que também é entrevistado na série, decidiu não o fazer para não traumatizar mais a criança. Desta forma, nada aconteceu a Woody Allen. Pelo contrário. A sua vida profissional seguiu sem qualquer alteração, com filmes feitos por toda a Europa, prémios atribuídos e ainda com várias figuras públicas como Diane Keaton, Javier Bardem e Adrien Brody a saírem em sua defesa.
Houve até atrizes e atores que manifestaram a sua intenção de não voltar a colaborar com Woody Allen
A opinião pública também esteve quase sempre do lado do realizador. Mesmo depois destes dois escândalos, e como o documentário mostra, com a ajuda de psicólogos, foi difícil manter o distanciamento entre a figura de um realizador querido por todos, autor de sucessos cinematográficos como Annie Hall ou Manhattan, e a de um suposto pedófilo.
Só anos mais tarde, quando Dylan decide escrever uma carta aberta ao The New York Times sobre a violação do pai é que o debate foi reaberto e é dada uma nova dimensão ao caso. Houve até atrizes e atores que manifestaram a sua intenção de não voltar a colaborar com Woody Allen após aquele momento. Várias atrizes, como Natalie Portman, vieram a público mostrar que estariam do lado da filha de Mia Farrow e algumas pediram até desculpa.
Allen vs. Farrow apresenta relatos absolutamente chocantes sobre a relação disfuncional e imprópria que o realizador tinha com Dylan e como a família Farrow sempre lutou para que a justiça fosse feita.
