Moda

“A missão da Vinted é a de fazer da segunda mão a primeira escolha em todo o Mundo”

A Vinted é agora uma marca internacional e conhecida por todos. Foi Milda Mitkuté, com apenas 21 anos, que a começou, numa altura em que ainda não se falava tanto sobre sustentabilidade. A Saber Viver falou com ela.

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“A missão da Vinted é a de fazer da segunda mão a primeira escolha em todo o Mundo” “A missão da Vinted é a de fazer da segunda mão a primeira escolha em todo o Mundo”
© D.R.
Marta Chaves
Escrito por
Abr. 02, 2022

Milda Mikuté, natural da Lituânia, tinha, aos 21 anos, um guarda-roupa cheio de peças, muitas delas que não eram usadas regularmente. Juntamente com um amigo, Justas Janauskas, lançaram a Vinted, uma plataforma online de roupa em segunda-mão, que não só ajuda a ‘destralhar’, como é uma forma sustentável de dar uma nova vida a certas peças.

O que talvez não esperariam era que a Vinted se tornasse numa empresa unicórnio (empresas valorizadas em mil milhões de euros), a operar, atualmente, em 15 mercados, da sua base em Vilnius, capital da Lituânia, com escritórios em Berlim, Praga, Utreque e Amesterdão e com mais de mil funcionários e mais de 50 milhões de membros registados.

Milda decidiu deixar a Vinted para se tornar mãe e estar mais focada na vida pessoal, mas este também será sempre o seu bebé – e, claro, continua a acompanhá-lo de perto.

A Saber Viver esteve à conversa com a empreendedora.

Entrevista a Milda Mitkuté, fundadora da Vinted

Alguma vez achou que a Vinted poderia tornar-se uma empresa unicórnio?

A Vinted começou como um projeto para mim e para um pequeno grupo de amigos. Mesmo o sucesso no nosso país, na Lituânia, era impensável. Para o Justas (cofundador da Vinted) e para mim, a Vinted era um hobby, um projeto de paixão, onde podíamos experimentar coisas para além dos nossos empregos, mas não pensávamos ganhar dinheiro no início. No entanto, a nossa plataforma conquistou o interesse de pessoas e dos media na Lituânia, cresceu instantaneamente e atraiu investidores nos anos seguintes, o que levou a que nos expandíssemos para outros países.

Nos primeiros três anos, a Vinted continuou a ser uma pequena empresa. Mal ganhávamos com ela, mas era tudo feito por nós, por gosto, desde desenvolver funcionalidades às primeiras iniciativas de marketing. Após três anos, reunimo-nos com os primeiros investidores e começámos a transformar a Vinted num grande projeto com uma missão global. Depois disso, aconteceu tudo muito depressa.

A Vinted será sempre o meu primeiro rebento e terá lugar no meu coração – Milda Mitkuté, fundadora da Vinted

Para quem não conhece, como é que descreve a Vinted?

A Vinted é uma plataforma de artigos de moda em segunda mão onde as pessoas podem vender, comprar ou até trocar os seus artigos umas com as outras. É feita para todos os que querem aderir a um modo de vida mais sustentável, aos que querem ganhar algum dinheiro, a quem queira destralhar o roupeiro e a muitos outros.

A nossa missão é a de fazer da segunda mão a primeira escolha em todo o Mundo, ao dar à nossa comunidade a oportunidade de vender ou comprar através da plataforma de uma maneira simples e segura.

Sei que a ideia surgiu numa festa de família. Pode contar-nos como?

Eu estava a preparar-me para mudar para Vilnius na altura e apercebi-me que tinha demasiada roupa para levar comigo. Estava à procura de uma boa forma de lhe dar um destino. Na dita festa, partilhei as minhas ideias com o meu amigo Justas Janauskas, que “subiu a bordo” e ajudou-me a criar o primeiro site onde os meus amigos podiam escolher as roupas que queriam e até partilhar as suas.

Estou segura de que a afinidade com a segunda mão vai continuar, e penso que a venda destes artigos se tornará cada vez mais parte do dia a dia dos consumidores.

Quando era mais nova, deu por si a ter roupa a mais? Acha que as jovens estão mais conscientes disso hoje?

O meu estilo de vida e os meus hábitos mudaram ao longo dos anos, também graças à Vinted, claro! Costumava ter roupa a mais (afinal, foi graças a esse sentimento que surgiu a Vinted!) e, durante os anos de estudante, até costumava comprar em lojas de segunda mão, mas não era uma grande fã do género: lojas pequenas, pouca escolha, nunca encontrava o meu tamanho, etc. — entretanto, o conceito da segunda mão mudou muito! E eu também. A minha consciência cresceu com a Vinted e hoje procuro ter comportamentos mais responsáveis no meu dia a dia.

Hoje, tornou-se um hábito natural procurar novos donos para as peças que já não uso. Não apenas para roupas ou artigos para as crianças, mas com produtos no geral. O meu objetivo é gerar o mínimo de desperdício possível, tentando sempre encontrar um novo dono primeiro.

Também, ao saber que sou responsável pelos artigos que me pertencem, fez-me começar a comprar menos e a consumir o mínimo possível (tento ter sempre em conta se dá para usar uma segunda vez ou se será muito difícil encontrar um novo dono, para me conseguir regrar para ter apenas o necessário).

A tendência da segunda mão começou há muitos anos, como parte de um movimento geral para hábitos de consumo mais responsáveis. Especialmente entre os mais jovens, é aliciante procurar “tesouros escondidos”, como peças vintage, enquanto se consome de forma mais responsável.

Não nos consideramos a origem deste boom, mas tentamos responder-lhe e às suas principais motivações (financeira, consumo circular, estilo, etc.) e pôr o nosso expertise tecnológico ao seu serviço, para encorajar e facilitar a transição para a segunda mão e torná-la um hábito natural.

A Vinted nasceu em 2008 e hoje já tem mais de 1000 colaboradores

Sente que a indústria da moda está mais recetiva ao uso de roupas em segunda mão e à maior durabilidade das peças?

Estou segura de que a afinidade com a segunda mão vai continuar e penso que a venda destes artigos se tornará cada vez mais parte do dia a dia dos consumidores. Como referi anteriormente, é notório que hoje em dia se verifica uma aceitação crescente da segunda mão por parte dos consumidores, e a comunidade de 50 milhões de membros registados na Vinted parece confirmar este interesse.

Nos últimos anos, várias marcas do segmento de luxo lançaram as suas próprias plataformas de aluguer e de revenda, começaram a (re)vender artigos vintage ou estão a colaborar com parceiros circulares. Fico contente por ver que muitos de nós estão a adotar hábitos de consumo mais responsáveis, que acabarão por abrandar a produção de artigos novos. Só me resta esperar que cada vez mais marcas desenvolvam soluções circulares.

Se um dia os meus filhos me perguntarem “Mãe, que fizeste tu para melhorar o estado em que se encontra a nossa Terra?”, quero ter uma resposta para lhes dar – Milda Mikuté, fundadora da Vinted

Foi difícil deixar o projeto para ser mãe ou era algo que já estava nos planos?

Como é natural, não foi uma decisão fácil de tomar na altura, e a Vinted será sempre o meu primeiro rebento e terá um lugar no meu coração. Sinto-me muito grata por ver os meus filhos crescerem e poder explorar o mundo com eles — tenho ainda muitos outros projetos em que estou neste momento a trabalhar.

Tenho interesse em temas sociais, alterações climáticas, inteligência artificial e educação. Em como será o mundo daqui a 20 anos, quando os meus filhos forem crescidos. Se um dia me perguntarem “Mãe, que fizeste tu para melhorar o estado em que se encontra a nossa Terra?”, quero ter uma resposta para lhes dar. Com a Vinted, a minha consciência ambiental cresceu e hoje faço o possível por trazer à minha vida quotidiana hábitos mais responsáveis.

Mesmo já não estando na empresa, onde vê a Vinted a chegar no futuro?

Sei que a equipa nunca para de trabalhar no aperfeiçoamento da experiência dos nossos membros e no futuro vai, seguramente, desenvolver novos avanços inspiradores. Cabe-nos a missão de fazer da segunda mão a primeira escolha, dar à nossa comunidade a melhor experiência possível e chegar a novos mercados para tornar a moda circular acessível a todos.

Acredito que a Vinted está no bom caminho ao atrair cada vez mais gente e inspirá-la a juntar-se à nossa missão.

Que conselhos daria a alguém que quer começar o seu próprio negócio?

O meu conselho a uma jovem empreendedora que está a começar? Que não o faça sozinha. Se estiver em dúvida ou a atravessar um momento menos bom, pode procurar apoio num parceiro de negócio. Assim, terá sempre alguém com quem discutir, trocar impressões ou refletir. A mim, pelo menos, fez-me uma diferença enorme.

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