Sexo

Crónica. Um ensaio sobre o prazer feminino

Aprenda a Saber Viver sem tabus. Todos os meses, a sexóloga Vânia Beliz promete falar abertamente sobre sexualidade, com o propósito de desmistificar questões associadas ao sexo e à intimidade, e para a fazer pensar e refletir sobre temas que podem, mesmo, mudar a sua vida.

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Crónica. Um ensaio sobre o prazer feminino Crónica. Um ensaio sobre o prazer feminino
© Getty Images
Vânia Beliz, cronista
Escrito por
Abr. 01, 2020

Recebo muitas mensagens de mulheres preocupadas na conquista do seu prazer. Quando as leio, percebo como se sentem culpadas por não sentir “nada” e de como isso frustra, também, os seus companheiros.

Quando falamos no orgasmo feminino, e se nos remetermos ao que nos ensinaram sobre ele, fica fácil perceber porque temos tanta dificuldade em chegar lá.

Conhecido como a meta do prazer, ou a viagem ao céu repleta de gemidos, as descrições parecem não se encaixar na maioria das experiências das mulheres. Muitas perguntam até como sabem se aconteceu ou como é?

É difícil explicar o que sentimos, especialmente, porque somos todas diferentes. Cada relação investe-se de muitos fatores que podem influenciar o prazer.

Mas vou tentar esmiuçar um pouco este objetivo que todas procuram alcançar e que ainda frustra tantas mulheres.

O orgasmo feminino

Prazer e orgasmo são sinónimos? Não, não são! Podemos ter muito prazer na relação e usufruirmos verdadeiramente sem atingir o orgasmo. E o prazer sexual não tem obrigatoriamente de vir dos genitais.

A nossa vagina, por exemplo, é uma estrutura que tem pouca sensibilidade, vejam que quando colocamos um tampão, quase não o sentimos. A entrada da vagina é a parte mais sensível pelo que atingir um orgasmo exclusivamente através de penetração pode ser difícil.

O clitóris é para a maior parte de nós a estrutura de maior prazer – esqueçam essa máxima de orgasmos clitorianos e vaginais. Mais do que a forma é o destino que nos deve importar. O orgasmo é uma resposta a um pico de excitação e pode ser mais fácil de atingir através da estimulação externa do clitóris, essa estrutura ainda tão desconhecida.

Quando falamos dele às mulheres, muitas não sabem onde fica e nem o que lhe acontece durante a excitação. Estranho, não é?

O clitóris não é só o que vimos na vulva (parte externa da nossa genitália), mas tem continuidade para dentro da vagina. Durante a excitação aumenta até ao dobro do seu tamanho e a sua estimulação é um dos pontos essenciais para o nosso prazer e orgasmo. Por isso é tão importante que se conheça esta parte do corpo.

São muitos os fatores que nos podem impedir de chegar ao prazer e, claro, ao orgasmo, por isso permita-se viver a intimidade sem crenças e tabus
Vânia Beliz Vânia Beliz

Ainda há quem pense que a masturbação pode viciar e condicionar o prazer no momento do coito mas isso não é verdade. É muito importante conhecer o nosso corpo e saber como podemos usufruir dele.

Com a penetração nem sempre a estimulação consegue atingir as estruturas internas do nosso clitóris e o tempo de coito parece não ser suficiente para chegar ao orgasmo. Demoramos 2-3 vezes mais do que os homens para atingir o orgasmo, por isso, o tempo da penetração é quase sempre insuficiente. Invista nos preliminares, tantas vezes esquecidos.

Outra coisa importante é a fantasia, precisamos de nos concentrar, de nos excitar mais. Não vale a pena estar numa relação sexual a pensar na roupa estendida ou noutro qualquer problema ou assunto. Temos mesmo de estar lá, no momento.

Fechar os olhos e imaginar alguma coisa excitante pode ser um ingrediente essencial para nos concentrarmos e potenciarmos a excitação.

Os brinquedos sexuais também podem ajudar na intimidade prolongando o tempo de penetração e chegando a zonas pouco acessíveis, já para não falar do seu potencial na descoberta do corpo.

No meio disto tudo reflita ainda sobre as suas crenças. Se vê o sexo como algo negativo, sujo, feio ou mau, será difícil ter prazer e satisfação.

O mesmo em relação à sua autoestima, são tantas as mulheres infelizes com o seu corpo, com a sua imagem e é óbvio que isso prejudica que se entregue ao prazer.

Como podemos ver, são muitos os fatores que nos podem impedir de chegar ao prazer e, claro, ao orgasmo, por isso cuide de si, perca o medo de se descobrir e permita-se viver a intimidade sem crenças e tabus. E se, depois de tudo isto, não conseguir ter prazer, não deixe de procurar ajuda, tire as suas dúvidas e conheça estratégias personalizados à sua intimidade, afinal também é para isso que cá estamos.

Vânia Beliz licenciou-se em Psicóloga Clinica e da Saúde. Mestre em Sexologia e doutoranda em Estudos da Criança na especialidade de Saúde Infantil, na Universidade do Minho, participa em projetos no âmbito da educação sexual para crianças. É autora do livro Ponto Quê?, sobre a sexualidade feminina, e de Chamar As Coisas Pelos Nomes, dirigido às famílias sobre como e quando falar sobre sexualidade.

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