Com o avançar da nova estação fria, da descida das temperaturas e do aumento dos dias encobertos e de sol de pouca dura, tendemos a esquecer o mal que provocámos à nossa pele durante o verão. No entanto, não é pelo calor ter ido embora que as marcas deixadas pela exposição solar desaparecem. Pelo contrário, é bem já depois do verão (ou de muitos verões) que os danos se tornam visíveis, e a elastose solar é uma das possíveis consequências.
Conversámos com Bárbara Pitrez e Catarina Madeira, médicas especializadas em Medicina estética e regenerativa e cofundadoras da Cielle Clinic, para descobrir tudo sobre esta condição.
Elastose solar
A elastose solar é uma doença da pele que resulta de danos crónicos provocados pela exposição prolongada à radiação ultravioleta (UV), começam por explicar as especialistas. “Geralmente surge após anos de exposição solar cumulativa, variando consoante fatores genéticos, tipo de pele, intensidade e duração de exposição e proteção usada”.
Principais sintomas
Embora a elastose solar não “apareça” de um momento para o outro, é importante estarmos atentos aos seus sinais para que se possa começar o tratamento mais adequado. “A pele com elastose solar apresenta normalmente uma textura rugosa e irregular, assim como alterações da pigmentação”, enumeram as médicas.
Ao longo dos anos, o dano solar vai provocando alterações degenerativas nas fibras elásticas e de colagénio da derme, a camada da pele responsável pela sustentação do tecido subcutâneo, promovendo assim o aparecimento de rugas profundas nas zonas que por norma estão mais expostas ao sol, como o rosto, o pescoço, o decote, os braços e o dorso das mãos.
Posso desenvolver elastose solar fora da época do verão se não usar protetor solar?
Sim! “Embora a intensidade dos raios UV seja maior durante o verão, eles estão presentes durante todo o ano, mesmo nos dias mais nublados”, alertam Bárbara Pitrez e Catarina Madeira. “A exposição crónica, ainda que em doses menores, contribui para o acúmulo de danos na pele ao longo do tempo. Por isso, o uso de protetor solar é recomendado em todas as estações, especialmente nas áreas do corpo mais expostas.”
Como prevenir
Embora não trate os danos já causados, o uso de protetor solar é essencial para prevenir que estes piorem e se repitam. Além disso, uma rotina de beleza cuidada (os cremes hidratantes ajudam a manter a pele saudável e protegida) e uma alimentação equilibrada e rica em antioxidantes é igualmente benéfico.
Não deve ser igualmente esquecido o uso de proteção solar física (chapéus, óculos de sol e roupa de manga comprida) e de suplementação oral adequada para prevenção do dano celular.
Como tratar
Atualmente, existem vários tratamentos eficazes para combater a elastose, a vários níveis, todos eles com o objetivo de melhorar a aparência da pele, estimular a produção de colagénio e elastina e reduzir os danos causados pela exposição solar.
Cremes e tratamentos tópicos
- Retinóides: estimulam a renovação celular e a produção de colagénio, ajudando a melhorar a textura da pele e a suavizar rugas finas.
- Antioxidantes: combatem os radicais livres, promovendo a reparação da pele e melhorando a cor e textura da mesma.
- Ácidos esfoliantes: ajudam na remoção de células mortas, melhorando a aparência de manchas e suavizando a pele.
Peelings químicos
- O peeling de ácido glicólico ou salicílico remove as camadas superficiais da pele danificada, estimulando a produção de colagénio e promovendo a renovação celular.
- O peeling de ácido tricloroacético (TCA) é mais profundo e eficaz em casos moderados a graves de elastose, ajudando a tratar rugas e uniformizar a pigmentação cutânea.
Tratamentos a laser e luz pulsada
- Laser de CO₂ ou Erbium: são tratamentos a laser ablativos que removem camadas da pele danificada, estimulando o colagénio e melhorando a textura e a firmeza da pele.
- Luz Intensa Pulsada (IPL): é um tratamento não-invasivo que ajuda a tratar manchas solares, melhorar a tonalidade e a textura da pele e estimular o colagénio, deixando a pele mais uniforme e rejuvenescida.
Terapia fotodinâmica: utiliza uma substância fotossensível ativada por luz para destruir as células danificadas pela exposição solar, ajudando a reverter os sinais de elastose.
Preenchimentos dérmicos e bioestimuladores de colagénio injetáveis: podem ser usados para restaurar o volume e melhorar o contorno da pele, suavizando rugas e linhas profundas, assim como hidratar de forma profunda e estimular a produção de colagénio e elastina.
Radiofrequência e ultrassom microfocado (HIFU): estes tratamentos não-invasivos aquecem as camadas mais profundas da pele, estimulando a produção de colagénio e melhorando a firmeza e elasticidade da pele ao longo do tempo.
Cirurgia: quando o grau de elastose solar é mais avançado pode ser necessário recorrer à cirurgia plástica para tratar a flacidez da pele.
HIFU: uma tendência crescente
Na medicina estética, e no que toca a tratamentos para a elastose solar, o HIFU (ultrassom microfocado de alta intensidade) tem sido algo falado nos últimos anos devido à combinação dos seus benefícios com as necessidades e exigências atuais dos pacientes.
Recentemente, o HIFU evoluiu para uma tecnologia de ultrassons microfocados com acionamento digital que permite penetrar nas diferentes camadas da pele para promover a retração dos tecidos, a estimulação e a produção de colagénio, o que o torna ideal para tratar a elastose solar ligeira a moderada.
Como funciona?
“O HIFU emite ondas de ultrassom altamente concentradas e precisas que penetram profundamente nas camadas da pele sem danificar a superfície”, explicam as especialistas. “Essas ondas alcançam as camadas mais profundas, gerando calor em pontos específicos, e assim provocando microlesões térmicas que estimulam a produção de colagénio e de elastina e promovendo a regeneração cutânea”.
O resultado é um efeito de lifting natural: a pele torna-se mais firme e tonificada, o que reduz a flacidez e suaviza rugas e linhas de expressão.
Benefícios
• Não-invasivo: o HIFU não envolve cortes ou incisões, o que significa que não há tempo de recuperação, nem risco de infecções. Não requer anestesia.
• Tratamento personalizado: o HIFU, especificamente no caso do Liftera, pode ser ajustado para tratar diferentes profundidades e áreas do corpo, como rosto, pescoço, abdómen, braços, etc.
• Resultados progressivos: os resultados são parcialmente visíveis de imediato, embora a melhoria esperada ocorra após o primeiro mês do tratamento. Os efeitos continuam a melhorar nos 3 a 6 meses após o tratamento, à medida que o colagénio é produzido.
Contraindicações
O tratamento com Liftera é geralmente seguro e eficaz, ainda que tenha algumas contraindicações:
• Grávidas ou lactantes: embora não haja evidências claras sobre os efeitos negativos do HIFU durante a gravidez ou amamentação, ele é evitado por precaução.
• Pessoas com doenças de pele ativas: quem tem doenças autoimunes (como lúpus) ou dermatites graves, eczemas, infeções ou feridas abertas nas áreas a serem tratadas não deve realizar o HIFU até que essas condições sejam resolvidas.
• Pessoas com implantes metálicos ou dispositivos eletrónicos: desfibriladores implantáveis ou outros dispositivos eletrónicos internos podem ser sensíveis ao ultrassom e à energia emitida pelo aparelho, tornando o tratamento contraindicado. Implantes metálicos nas áreas a serem tratadas (como placas ou parafusos metálicos) também podem interferir no tratamento.
• Pessoas com condições médicas graves, como doenças cardíacas ou neurológicas, podem não ser candidatos ideais para o tratamento.
Cuidados a ter
Como em quase todos os tratamentos estéticos, há cuidados a ter antes e depois do procedimento em si.
Antes:
- Evitar exposição solar direta;
- Evitar o uso de produtos com ácidos, retinóides ou qualquer substância irritante para a pele na área a ser tratada.
Após:
- Evitar exposição solar direta durante, no mínimo, duas semanas.
- Usar protetor solar de amplo espectro, para prevenir manchas ou hiperpigmentação.
- Hidratar a pele com produtos calmantes e suaves para ajudar no processo de recuperação.
- Evitar o uso de saunas, banhos muito quentes e atividades que possam causar calor excessivo na área tratada, por 48 horas após o procedimento.
Efeitos temporários
Embora o HIFU seja considerado seguro, pode haver alguns efeitos colaterais, comuns a vários tratamentos, que geralmente são leves e temporários:
• Eritema: a área tratada pode apresentar leve vermelhidão logo após o procedimento, que geralmente desaparece em poucas horas.
• Edema ou parestesias: algumas pessoas podem experimentar inchaço leve ou sensação de formigueiro, que desaparece em dias ou semanas.
• Desconforto ou dor leve: durante o tratamento pode haver algum desconforto, especialmente nas áreas mais sensíveis.
• Pequenos hematomas: em casos raros, podem ocorrer pequenos hematomas ou alterações temporárias de sensibilidade na área tratada.
• Queimaduras ou lesões (raro): se o tratamento não for realizado por um profissional capacitado ou o aparelho não for utilizado corretamente, há o risco de queimaduras superficiais.
Agora que já sabe o que é a elastose solar, lembre-se de que é fundamental proteger a nossa pele 365 dias por ano, e não apenas no verão!