Moda

A pele animal já tem uma substituta: a pele de cogumelo. E pode ser este o futuro da moda

As soluções vegan não passam só pela alimentação. A moda começa a procurar outras alternativas à produção animal. E plantas, frutos e fungos apresentam-se como os primeiros na fila como alternativas sustentáveis. A pele de cogumelo é uma delas.

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A pele animal já tem uma substituta: a pele de cogumelo. E pode ser este o futuro da moda A pele animal já tem uma substituta: a pele de cogumelo. E pode ser este o futuro da moda
© Imaxtree
Marta Chaves
Escrito por
Jan. 31, 2022

Em 2019, a H&M anunciou que faria uma coleção de roupa a partir de folhas de abacaxi, casca de laranja e algas, e provou que não só a moda pode ter um papel ativo contra o desperdício alimentar, como consegue utilizar materiais orgânicos na sua conceção. A chamada H&M Conscious Exclusive incluiu ainda poliéster reciclado, algodão orgânico, linho orgânico, seda orgânica, plástico, vidro e prata reciclados e os preços, claro, ficaram acima da média (algumas peças chegaram aos 300 dólares). A verdade, é que a linha conseguiu marcar uma posição ecológica de produção importante para o mundo da fast fashion.

Referimos já vezes suficientes os esforços feitos pela indústria da moda para se tornar mais verde, uma vez que representa uma séria ameaça para o planeta. Também a produção animal apresenta-se como uma das mais catastróficas indústrias para o aumento das alterações climáticas e, de facto, as duas conseguem trabalhar em conjunto quando a produção de peças de roupa e acessórios ainda utiliza pele animal. Felizmente, parece que surgiu uma alternativa: a pele de cogumelo.

A designer ativista Stella McCartney, conhecida pelo seu forte cunho ambiental na moda e por fazer uso de materiais sustentáveis nas suas coleções, apresentou em março de 2021 um soutien de desporto e umas leggings feitas com pele de cogumelo em parceria com a empresa Mylo. Mas, foi com a coleção de primavera-verão 2022 que a estilista assegurou que este material pode ser a the-next-big-thing na moda de luxo, pois foi quando vimos a primeira carteira feita com esta pele de cogumelo, proveniente do micélio, a parte vegetativa deste fungo.

Acontece que o micélio usa a estrutura renovável destes fungos para gerar materiais personalizáveis ​​a partir de biomassa que imitam o toque, a durabilidade e a qualidade da pele animal. Nos últimos anos, o couro artificial tem sido bastante utilizado pelas marcas de luxo, mas nem assim é possível garantir uma produção sustentável. Acontece que durante a sua produção são libertadas toxinas nocivas, é usada uma grande quantidade de água e energia e o material não é biodegradável. O que significa uma pegada ambiental muito mais marcada e duradoura.

O futuro é brilhante

Nos Estados Unidos, o mercado começa a expandir-se e a dar uma oportunidade a esta nova pele. A start-up Mycoworks, apoiada pela Hermès, conseguiu angariar 125 milhões de dólares para construir a sua primeira grande fábrica na Carolina do Sul e produzir produtos a partir de micélio.

A própria empresa já produziu o famoso modelo Victoria da Hermès com este material, em 2021. Mas não é a única a fazer este investimento. A Gucci, por exemplo, orgulha-se de ter criado a sua própria pele vegan, chamada Demetra e a Adidas também já lançou um par de Stan Smith feitos com pele de cogumelo. Agora, falta esta produção ganhar uma nova escala.

 

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O CEO da Mycoworks, Matt Scullin, revelou à Vogue Business que a empresa estará totalmente operacional e pronta para corresponder às exigências do mercado já em 2023 – John Legend e Natalie Portman foram duas das celebridades que investiram neste negócio.

Numa outra entrevista às Forbes, o CEO explicou que o micélio é produzido em pequenas bandejas ou caixas para controlar as condições em que é criado. “Sem dúvida que estas bandejas podem ser produzidas de forma massiva”, garante. “Isto já acontece noutras indústrias, por isso, estamos neste momento a explorar os processos de produção de frutas e vegetais, a agricultura indoor e outras operações feitas em armazém, por exemplo.”

Não só este é um processo cruelty-free e mais ecológico, como também é menos dispendioso. Neste tipo de produção não é usado qualquer tipo de plástico, nem se deteriora os solos, como acontece com a agropecuária. A pele de cogumelo pode, sem qualquer dúvida, ser um dos futuros da moda.

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