Sociedade

Editorial de maio: Sem sentimentos de culpa

As palavras da diretora da Saber Viver na edição de maio da revista.

Untitled-7 Untitled-7 Untitled-7
Editorial de maio: Sem sentimentos de culpa Editorial de maio: Sem sentimentos de culpa
© pexels
Tânia Alexandre
Escrito por
Abr. 24, 2023

Se há um sentimento que persegue qualquer mãe, é a culpa. Culpa por ter dias em que tem de trabalhar horas extra e não pode brincar com os filhos, culpa por ter ido buscá-los à escola demasiado tarde.

Culpa por não conseguir ser a melhor chef (e também nutricionista) para apresentar todos os dias uma refeição saudável e equilibrada. Culpa por deixar os filhos colados a um ecrã a ver YouTube para conseguir terminar uma tarefa urgente. E culpa por ter ido fazer uma aula de ioga em vez de ter ficado em casa a tentar compensar tudo o que não conseguiu fazer.

Uma mãe vive em permanente gestão da culpa. Se é mãe, certamente que já se sentiu assim em alguma situação, mas, se lhe serve de bálsamo, saiba que não está sozinha!

A maternidade é o desafio mais maravilhoso, mais transformador e intenso de uma mulher que decida ser mãe, mas também é o mais exigente. Tem tanto de fascinante como de assustador.

Fala-se muito do que o nosso corpo é capaz de fazer ao gerar um ser humano. É, de facto, incrível! Ele transforma-se, adapta-se, assume novas formas, torna-se ‘casa’ durante nove meses e depois colo para toda a vida. O corpo, ao seu ritmo, volta ao que era antes, mas e o resto?

Não menos intensas são as mudanças – muitas vezes invisíveis – que acontecem dentro de nós, na forma como nos vemos, como gerimos as emoções, como pensamos… Mudamos tanto que por vezes nos ‘esquecemos de ser quem somos e só damos expressão e força ao papel de mãe, de cuidadora.

O que pode encontrar nas páginas da Saber Viver de maio (nas bancas)

E, o caminho para nos voltarmos ‘a encontrar’ é, muitas vezes, duro e solitário. Sim, não é fácil voltar a encontrar ou ‘reconhecer’ aquela pessoa (que antes de ser mãe) tinha vontades, interesses, projetos que não passavam só e exclusivamente pela maternidade!

A verdade é que este tema continua a ser ainda um tabu e gerador de ansiedade para muitas mulheres. Ser uma boa mãe não implica anular-se enquanto mulher, pessoa, ser individual; não significa deixar de ambicionar e investir na carreira, limitar a vida social ou deixar de ter um tempo para cuidar de si.

Continuar a querer sentir-se realizada pessoal e profissionalmente não é um ato egoísta, muito pelo contrário.

Aliás, convido-a a ler um dos temas em destaque desta edição: Muito mais do que mães (pág. 82), que reúne testemunhos de mulheres com vivências de maternidade muito diferentes entre si e conselhos de especialistas para que quem estiver a atravessar por esta fase não se sinta tão sozinha nos seus pensamentos, receios e expectativas.

Há momentos em que os filhos estão mais dependentes e é certo que vão ser sempre (e para sempre) uma prioridade nas nossas vidas, mas não deixe de guardar tempo para si! Para ser quem é! Para querer-se bem!

Cuidar dos nossos filhos e ajudá-los a crescer enquanto pessoas é maravilhoso, mas não é incompatível com a decisão de cuidarmos de nós próprias, da nossa saúde, de investirmos no nosso desenvolvimento, de ter tempo para o autocuidado, para nos mimarmos e cultivarmos intelectualmente.

Respeitar o seu corpo e mente é também procurar estar em harmonia com os seus valores e dar atenção aos seus desejos e emoções. Sem sentimentos de culpa!

A edição de maio da Saber Viver já está nas bancas, num local perto de si.

Últimos