Em dezembro de 2023, Cameron Diaz surpreendeu tudo e todos quando disse, ao microfone do podcast Lipstick on the Rim, que dormir em quartos separados deveria ser normalizado. A atriz garante que não é o seu caso hoje em dia, porque afirma que o seu marido, Benji Madden, músico da banda Good Charlotte, é maravilhoso, mas não será um problema se acontecer no futuro.
Segundo rezam várias vozes, quem sempre dormiu em quartos separados foi rainha Isabel II e o príncipe Philippe e outras referem que David e Victoria Beckham também são adeptos desta tendência. A atriz Bette Midler admitiu recentemente que ela e o marido, Martin von Haselberg, também o fazem há 40 anos e que esse é o segredo para a felicidade do casamento, até porque ele ressona.
Noites maldormidas
Dormir em quartos separados pode ser apenas a melhor forma para se dormir bem. De acordo com a Sleep Foundation, dormir com um parceiro pode afetar negativamente a qualidade do sono, o que pode causar problemas no relacionamento.
A explicação para isso é simples: “Uma pessoa que não dorme o suficiente ou cujo sono é regularmente interrompido tem menor qualidade de vida, é mais propensa a acidentes de viação e erros de trabalho, corre maior risco de problemas cardíacos, desenvolve um sistema imunitário mais fraco e pode ter mais problemas de saúde”. Além disso, há uma maior probabilidade de irritações, ansiedade, alterações de humor e menor empatia e tolerância com os parceiros, o que pode levar ao divórcio efetivo.
Benefícios e desvantagens
O divórcio do sono, como também é conhecida esta tendência nos Estados Unidos da América, nunca teve tantos adeptos e, nesse país, as estatísticas mostram que um casal em cada três dorme em quartos separados. De acordo com a Sleep Foundation, 53 por cento registou uma melhoria qualidade do sono desde que optou por esta solução. Em média, dormir em camas separadas acresce 37 minutos ao sono.
A adoção desta prática deve-se a diversos motivos, tendo benefícios e desvantagens, como nos diz Catarina Lucas, terapeuta de casal. “Tem como vantagens melhorar a qualidade do sono já que reduz acordares por movimentos ou ruídos do outro. Reduz conflitos decorrentes de horários e hábitos diferentes e pode melhorar a saúde global. Contudo, apresenta também várias desvantagens como o impacto na intimidade, preconceito social e familiar e questões de logística e custos, pois nem todos têm um quarto extra”.
Respeito pela individualidade
Catarina Lucas recomenda esta prática a “casais com padrões de sono diferentes (horários, por exemplo); pessoas com condições de saúde específicas que impactem na qualidade de sono do outro, como por exemplo a apneia obstrutiva do sono, que muitas vezes é a culpada de as pessoas ressonarem; casais com preferências diferentes quanto ao conforto (tipo de colchão ou temperatura do quarto); casais que privilegiam o espaço individual”.
Os casos que a também psicóloga e diretora-clínica do Centro Catarina Lucas conhece de casais que optam pelo divórcio do sono estão “habitualmente mais associados a condições médicas que interferem com a qualidade do sono do outro elemento do casal. E, mesmo nessas condições, existe resistência em adotar esta mudança, pelo valor simbólico que se atribui ao ‘dormir junto na mesma cama’”. Isto, continua a especialista, porque continua a ser “sinónimo de união e partilha. Muitos casais usam também esse espaço para conversarem antes de dormir, promovendo a sua ligação”.
Dormir em quartos separados: sim ou não?
Dormir em quartos separados pode ser adotado tanto no início de um relacionamento como em relacionamentos já estabelecidos, mas, avisa Catarina Lucas, “a abordagem e a adaptação podem variar conforme o estádio de desenvolvimento do relacionamento, as necessidades e as circunstâncias. Numa fase inicial, é mais comum que as pessoas queiram estar mais tempo juntas, pelo que a adaptação pode ser mais desafiante. Contudo, numa fase mais avançada, também poderemos ter hábitos de anos instalados que dificultam a adaptação”.
Por outras palavras, “não há regras neste campo, cada casal é único e olha de forma diferente para as suas necessidades e dinâmicas. O importante é que faça sentido para cada casal”, sublinha. Para a terapeuta de casal, esta prática “pode influenciar a intimidade e a frequência das relações sexuais de um casal, visto que uma parte significativa do envolvimento sexual ocorre à noite, ao ir dormir”.
No entanto, acrescenta, “se o casal estiver ciente e proativo, é possível minimizar este impacto, promovendo o contacto físico regular, comunicando abertamente, planeando momentos de intimidade e desenvolvendo rotinas de conexão em casal”.