Saúde

Desidratação: a 'epidemia' por detrás das epidemias

Estudos internacionais dizem-nos que mais de metade da população está desidratada. Apesar dos sintomas notórios, não os associamos à desidratação, mas o certo é que esta pode resultar em desequilíbrios e doenças crónicas.

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Desidratação: a 'epidemia' por detrás das epidemias Desidratação: a 'epidemia' por detrás das epidemias
© Unsplash
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Ago. 14, 2019

Há especialistas que a consideram a ‘epidemia’ por detrás das epidemias. A desidratação de baixo grau é um problema invisível e, muitas vezes, a causa escondida de doenças crónicas comuns como a diabetes tipo II, a fibromialgia e até a doença de Alzheimer. Outros distúrbios como insónias, sistema imunitário fragilizado e dores nas articulações também podem ter na sua origem a desidratação.

O impacto dos baixos níveis de hidratação na nossa saúde é tão surpreendente como preocupante, principalmente considerando que a maioria das pessoas vive em estado de desidratação sem saber. Os números são reveladores: estudos indicam que cerca de 75% da população nos Estados Unidos da América está desidratada.

Se se sente com propensão para ter dores de cabeça, mal-humorada, pouco concentrada ou, de algum modo, em baixo, o mais provável é que esteja desidratada – Dana Cohen e Gina Bria, autoras A Dieta da Água

As estimativas mais conservadoras indicam que cerca de 65% do nosso corpo é composto por água. Se não estivermos suficientemente hidratados, tudo aquilo que fazemos para nos mantermos saudáveis (exercício físico, alimentação equilibrada, gestão do stresse e sono) será prejudicado.

É a água que transporta para as nossas células o oxigénio e os nutrientes importantes (vitaminas, minerais, hidratos de carbono…) para o bom funcionamento do organismo. Estivemos à conversa com a médica Dana Cohen, autora do livro A Dieta da Água para saber mais sobre este importante tema.

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Sinais de desidratação

A sensação de sede nem sempre é o sinal mais fiável de baixa hidratação. Dana Cohen e Gina Bria, antropóloga e investigadora que ajudou a desenvolver a obra, alertam que, muitas vezes, associamos erradamente a fadiga e as dores de cabeça à fome.

“Sempre que nos sentimos fatigados ou com uma dor de cabeça a aparecer, achamos que temos de comer, quando, na verdade, precisamos de beber. Estes efeitos de mal-estar não são mais do que o corpo a dizer-nos que precisamos de hidratação com urgência. Se se sente com propensão para ter dores de cabeça, mal-humorada, pouco concentrada ou, de algum modo, em baixo, o mais provável é que esteja desidratada”, alertam as especialistas.

Estudos internacionais sugerem que a desidratação está ligada a uma série de outras queixas, entre as quais:

fraqueza e fadiga, tanto diária como ligada a condições como a fibromialgia, confusão mental e falta de concentração;
infeções do trato urinário;
 obstipação;
 insónias;
 sistema imunitário enfraquecido;
 doenças cardíacas;
 diabetes tipo II;
 refluxo gastroesofágico;
 demência, incluindo Alzheimer.

Consequências de estar desidratada

Os efeitos da desidratação no nosso corpo podem levar ao desenvolvimento de doenças crónicas graves. A desidratação, ainda que moderada (até 2% de descida dos níveis de hidratação) pode afetar os vasos sanguíneos.

Especialistas de Harvard afirmam mesmo que baixos níveis de desidratação aumentam a probabilidade de se sofrer um ataque cardíaco. Esta relação entre a desidratação do corpo e a saúde cardiovascular é explicada no livro A Dieta da Água.

“Quando o sangue tem menos água, engrossa e o sangue espesso faz com que o coração bombeie com mais dificuldade, podendo afetar o músculo cardíaco e contribuir para o aparecimento de tensão alta. Ao mesmo tempo, força o corpo a utilizar mais energia para que o sangue passe pelas artérias. O resultado é a combinação de inflamação celular e problemas cardíacos ou problemas nos vasos sanguíneos, o cenário ideal para doenças cardiovasculares”.

A falta de água também pode contribuir para o aparecimento da diabetes. “Quando alguém está desidratado cronicamente, a pouca água que é consumida vai diretamente para o órgão mais vital para nos manter vivos: o cérebro. Devido a isso, o volume de água na nossa corrente sanguínea diminui, conduzindo a níveis mais elevados de açúcar no sangue”, alertam as especialistas.

Quando o bem-estar está em causa

Um estudo norte-americano publicado no Journal of Nutrition sugere que até a desidratação mais moderada é o suficiente para diminuir os níveis de concentração femininos. De acordo com a mesma investigação, a desidratação também deprime o humor.

Paralelamente, outros estudos já demonstraram que a ingestão da água melhora a memória e a concentração. Muitos cientistas acreditam também que a desconcentração ou sensação de confusão é uma forma de o corpo nos dizer que as nossas reservas de água estão em baixo.

O impacto da desidratação no cérebro pode ser ainda mais grave, quando se torna crónica (estudos prévios realizados nos Estados Unidos da América associaram a desidratação crónica ao desenvolvimento do Alzheimer).


Costuma sentir alguns destes sinais? 

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº230, agosto 2019.

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