Bem-estar

Aprenda a ouvir em silêncio: o nunchi como prática diária

Baseado na observação, o nunchi é, como dizem os coreanos, “o segredo dos deprimidos”. Esta prática, que se baseia na busca de uma vida melhor, pode ser levada a cabo por todos e promete ensinar a ouvir quem e o que nos rodeia, mesmo em silêncio.

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Aprenda a ouvir em silêncio: o nunchi como prática diária Aprenda a ouvir em silêncio: o nunchi como prática diária
© Getty Images
Rita Caetano
Escrito por
Jan. 01, 2020

O nunchi é a subtil arte coreana de conseguir ler um espaço e discernir o que as pessoas estão a pensar para criar harmonia. Já lhe contámos tudo sobre a sua origem e o que significa. Desta vez, damos-lhe alguns exemplos de como pode pôr o nunchi em prática.

Pedimos a Enny Hong, autora do livro The Power of Nunchi: The Korean Secret to Happiness and Success (Penguin Books), para nos dar algumas dicas de como aplicar este conceito coreano em diferentes áreas da nossa vida. Conheça-as.

Como usar o nunchi

No trabalho

“Use o nunchi para sentir o mood de todo o escritório antes de escolher o dia para pedir um aumento. A maioria das pessoas apenas ensaia o tom na sua cabeça e pensa que o que interessa é ser mentalmente persuasivo. Não!

Tem de ler a empresa (se está a perder dinheiro ou se as coisas não estão a ir bem) e o ambiente (muitas pessoas estão demasiado bem vestidas, como se fossem a uma entrevista para outro emprego?). Sinta a temperatura do escritório antes de pedir algo importante.”

Numa entrevista de emprego

“Já sabe que o entrevistador fala sempre muito. Deixe-o. As pessoas, quando vão a uma entrevista de trabalho, concentram-se em vender-se com frases do tipo ‘aumentei os lucros em 15%’ ou ‘falo cinco línguas’.

Obviamente que essas coisas devem ser ditas, mas, depois, deixe o entrevistador falar até ficar sem palavras. Porquê? Porque basicamente estão a alimentá-la com todo o tipo de argumentos. Dizem-lhe o que eles próprios queriam ouvir.

Não os interrompa. Se lhe disserem ‘esta empresa realmente valoriza o trabalho de equipa’, não diga imediatamente: ‘“Que coincidência! Acabei de liderar um projeto de equipa bem-sucedido”. Oiça. Quando for a sua vez, ele vai avisá-la, mesmo que não perceba que o está a fazer.”

Em encontros amorosos

Não fale imediatamente sobre si mesma. O grego estoico Epictetus disse: ‘Dão-nos dois ouvidos e uma boca, logo devemos ouvir duas vezes mais do que falamos.’ Essa é a proporção que deve ter num encontro. Isso também a deixará menos nervosa – quando está a ouvir, não está concentrada em si e isso é ótimo num encontro.”

Em família

“As pessoas geralmente têm a sensação de que não estão a ser ouvidas. Não precisa de concordar com elas, sentir-se intimidada ou mesmo comprometida. Deixe apenas que se sintam vistas e ouvidas. Geralmente, há décadas de ressentimento acumulado apenas por sentirem que não está lá ninguém para ouvi-las”.

Com amigos

“As pessoas dão os amigos como garantidos. No entanto, tal como nos relacionamentos amorosos, os amigos nem sempre dizem o que sentem verdadeiramente. Não lhes diga que é da sua responsabilidade serem realmente claros consigo; isso não é realista. O seu trabalho é ouvir o que não é dito.”

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 234, dezembro de 2019.

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