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Catarina Furtado: “Perdi alguma ingenuidade, mas não perdi nenhuma esperança

Catarina Furtado: “Perdi alguma ingenuidade, mas não perdi nenhuma esperança”

Aos 50 anos, a apresentadora está numa das melhores fases da sua vida, como nos confessa nesta entrevista. Mais segura de si, menos ingénua e mais focada no seu interior. O que permanece inalterável é a sua inquietude, o espírito livre e a esperança no mundo.

Por Nov. 9. 2022

Foi na Fundação Corações com Coroa que marcámos encontro para a entrevista, que acabou por ser uma conversa a três mulheres. Conversar com Catarina Furtado é sempre uma experiência reveladora. O sorriso que tão bem lhe conhecemos acompanha as suas palavras sábias e reflexões sentidas que despertam sentinelas em cada uma de nós.

O tom é leve quando fala de amor, de esperança e da importância de pensarmos para além de nós, mas inquieto e forte quando defende a liberdade, a justiça, os direitos humanos, as mulheres!

Com Catarina, as palavras passam aos atos — já o sabíamos!-, mas essa sensação repetiu-se em todas as vezes que a nossa conversa foi interrompida — ou melhor, enriquecida — por utentes, funcionárias e voluntárias da fundação que, de uma forma tão natural e genuína, rodeavam a mesa onde entrevistávamos a apresentadora e nos davam a conhecer as suas histórias, lutas e conquistas.

Tudo fazia sentido. Tudo tão simples, tudo tão verdade! Catarina Furtado tem uma espécie de íman que atrai o amor, que junta as pessoas, que nos faz ter esperança no outro, no mundo.

Tem uma enorme capacidade e sabedoria de trazer ao de cima o melhor de nós. Depois desta entrevista, já pelo caminho, estas duas mulheres que vos escrevem concordavam: ela (Catarina) está certa! “A transformação, a mudança acontece primeiro no coração.”

Fica a conhecê-la um pouco mais.

Entrevista a Catarina Furtado

Acabou de fazer 50 anos. Quem é a Catarina Furtado hoje?

Sou hoje muito mais segura, muito mais tranquila e menos inquieta. Ainda que continue com uma inquietação de querer saber fazer as coisas, de querer fazer melhor. De ser melhor pessoa, melhor cidadã, mãe e profissional. O meu pai diz-me que sou uma inquieta social e isso é muito bonito.

Sinto também que passei de muito ingénua, de acreditar que podia mudar o mundo, para muito mais consciente de que o mundo pode ser mudado, mas que são precisas muitas lutas. Perdi alguma ingenuidade, mas não perdi nenhuma esperança. Aprendi a ouvir-me e a perceber o que não é bom para mim; tenho uma peneira cada vez mais forte para filtrar as más influências externas.

Se olhar para as várias décadas vividas, acho que estou numa fase mais serena, nunca estive tão bem comigo, com o meu corpo e com os outros. Do ponto de vista do meu propósito de vida, sinto-me realizada, no entanto, ainda tenho muito para fazer, muitos aspetos para trabalhar e muito para aprender com os outros. Estou numa das melhores fases da minha vida.

''Quando um adolescente confia em mim, é como ter na mão um diamante que vale milhões. Um dos meus sonhos é restruturar a educação em Portugal'' - Catarina Furtado, apresentadora

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Que aspetos da sua personalidade gostaria, então, de trabalhar?

Recentemente fui para o Equador fazer um retiro para trabalhar o tempo, associado a uma coisa terrível que é a morte. A última coisa que quero é morrer e ver os meus morrerem. Tenho lido muito sobre este tema e isso fez com que percebesse que não estava a pensar bem sobre o assunto. A sensação de que o tempo é cada vez menos para fazer tudo o que quero angustia-me.

O idadismo, a discriminação com base na idade, é um tema que deveria estar mais na ordem do dia?

Sem dúvida. A mensagem da Organização das Nações Unidas no último Dia Internacional da Juventude estava associada a isso mesmo. Mais do que nunca têm de ser criadas pontes intergeracionais, visto que a discriminação com base na idade está a provocar abismos muito antagónicos.

Tenho muita vontade de estar com jovens e pessoas mais velhas, gosto de fazer a ponte entre as gerações – Catarina Furtado, apresentadora

Os jovens, apesar de hoje terem mais voz, não têm acesso às mudanças, quer nos governos quer nas empresas, assim como as pessoas mais velhas estão a ser discriminadas com base na idade. As empresas só querem contratar pessoas jovens e com aspeto jovem.

O idadismo é mais sentido pelas mulheres?

Em termos de empregabilidade e o rótulo de inutilidade que a pessoa passa a ter com a idade, parece-me transversal a ambos os sexos. Em relação ao resto, tudo é pior para as mulheres.

A sociedade está a desperdiçar o valor de mulheres com muito potencial?

Quando comecei como apresentadora aos 19 anos, achava que aos 50 já estaria reformada, hoje, com essa idade não sinto isso. Sinto-me muito habilitada para fazer muitas coisas e tenho muitos sonhos ainda por concretizar.

Sinto que tenho muita experiência de vida, mas também tenho muita vontade de estar com jovens e pessoas mais velhas, gosto de fazer a ponte entre as gerações. Não foi por acaso que fiz o programa Idade da Inocência, na RTP, que juntava crianças e idosos e vi como ambos ganharam com a aproximação. Portanto, sim, estamos a desaproveitar o potencial interageracional. Isso faz não só com que uma fatia mais jovem da população não esteja preparada para exercer o seu talento, mas também com que as pessoas mais velhas se autoexcluam precocemente, porque já são excluídas pela sociedade.

É fundamental que haja um equilíbrio muito grande entre aquilo que vemos e pensamos e o que está no nosso exterior – Catarina Furtado, apresentadora

Há pouco falávamos da força das palavras. Ouve muitas vezes a frase “nem parece que já tem 50 anos”. É urgente mudar o discurso?

Acho que esse discurso tem de acabar, até porque tudo começa no léxico e eu como mulher não posso deixar perpetuar a ideia do que é belo é apenas o que é jovem. A única coisa que temos de perceber é que a ciência tem-nos ajudado e, se a usarmos de forma inteligente, poderemos viver mais e melhor.

Quando me dizem que estou muito bem para 50 anos, o que querem dizer com isso? Gostam do que veem, da parte estética, de me ver magra ou gostam de me ver feliz ou com um brilho nos olhos? Por mais que possa parecer um lugar-comum dizer que nós temos de investir no nosso interior, temos mesmo! É fundamental que haja um equilíbrio muito grande entre aquilo que vemos e pensamos e o que está no nosso exterior. Se não tivermos um património intelectual que nos dê segurança e não soubermos viver sozinhos, vamos ter grandes inseguranças.

Eu tenho uma família maravilhosa, mas eu sou um ser humano sozinho. E é nessa solidão que nascemos e morremos que temos de nos encontrar e aceitar. É preciso fazer esse exercício. Se eu estivesse sozinha no mundo, gostava de mim? Estava capacitada do ponto de vista intelectual e da saúde física?

Cuido muito da minha saúde, tenho cuidado com a alimentação, gosto muito de me sentir bem fisicamente, olhar para o espelho e saber que os anos vão passando sem fazer grandes intervenções porque quero reconhecer-me. Quero olhar para o espelho e dizer já tenho 50 e gosto de mim. Gosto de mim porque me reconheço, porque é ali que estou, porque aquele olhar é meu! E para isso é preciso património intelectual.

É, portanto, preciso saber envelhecer?

Não posso dizer que gosto de envelhecer porque isso seria mentira, ainda por cima trabalhando em televisão. Se me vir com uma imagem da qual não gosto, sou a primeira a dizê-lo. Mas posso dizer que, fruto do meu trabalho interior, não sinto que tenho 50 anos. Venho regando esta questão de gostar cada vez mais de mim, de me aceitar e de aceitar o envelhecimento, ou melhor, maturidade (como gosto mais de lhe chamar).

O que também me preocupa é que sinto que há muito envelhecimento precoce, há miúdas de 20 anos com cabeça de 60 porque já acham que têm rugas e sentem-se péssimas com isso. Se elas estão assim, é sinal que a sociedade não está realmente a aceitar que o envelhecimento é algo natural. A idade tem de  ser assumida, sem preconceito, sem vergonha e há estratégias para envelhecer de forma saudável. Eu tenho imenso orgulho de ter 50 anos.

Continuamos a viver numa era da escravidão da imagem?

Completamente. Este é um tema que temos de discutir mais, preocupa-me não só as mulheres da minha idade que podem não estar a viver bem com o envelhecimento, mas sobretudo as miúdas, que se comparam a muitas pessoas pelas redes sociais. É também trabalho das mulheres mudar isso, por isso é que falo tanto de sororidade.

Simultaneamente há mais movimentos contracorrente que defendem uma maior aceitação da imagem. Estamos no caminho certo?

Sim, é verdade. Mas ainda têm pouca expressão e basta falar com os mais jovens para o perceber. É verdade que cada vez mais se fala sobre os impactos desta ditadura da imagem na saúde mental, mas depois na prática não é assim. O mesmo acontece com a homossexualidade. Pensamos que estes assuntos estão mais do que falados, mas não.

Tenho pensado como se passa da teoria panfletária para a realidade e cheguei à conclusão de que é preciso ter mais psicólogos a trabalhar nas escolas e professores com formação nestas áreas.

Temos uma enorme responsabilidade na nossa felicidade e na nossa serenidade – Catarina Furtado, apresentadora

Recentemente fez um périplo por várias escolas de todo o País. Como é que sentiu os adolescentes do ponto de vista de saúde mental?

Independentemente da idade, a saúde mental piorou com pandemia, mas, depois do que ouvi nas escolas, acho que a nossa juventude está comprometida e ninguém está consciente disso. Isto está a deixar-me muito angustiada.

Depois da palestra onde abordo todas as questões dos direitos humanos (violência no namoro, homossexualidade, igualdade de género, autonomia do corpo, etc.), faço aquilo a que chamo o cantinho do desabafo para que cada jovem possa colocar as suas questões sem ser em sala aberta e apercebi-me de que alguns não tiram a máscara, porque não querem mostrar as mudanças do seu rosto; que as relações entre pais e filhos piorou, porque criaram mundos completamente paralelos, e faltou-lhes muito a sociabilização própria da idade.

Outra questão que achamos que está resolvida, mas não está, é a homossexualidade, rapazes e raparigas dizem-me que não podem contar à família, porque caso contrário são postos fora de casa.

Quando percebe que fez a diferença junto de um adolescente, como se sente?

Sinto-me muito comovida. O que mais prezo na vida são as coisas que não têm valor monetário. Quando um adolescente confia em mim, é como ter na mão um diamante que vale milhões.

Um dos meus sonhos é restruturar a educação em Portugal. A educação, como está, não tem futuro! Os alunos são meros números e só se incentiva a competição. Com isso, estamos a anular talentos que serão necessários para o futuro. Acho que quanto mais multifacetados formos, mais possibilidade temos de ser felizes, primeiro, e, depois, de termos sucesso na vida profissional.

Quando a democracia está em risco, em primeiro lugar, ficam em risco os direitos das mulheres – Catarina Furtado, apresentadora

Nunca equacionou enveredar pela política?

Não tenho essa ambição, porque tenho receio de me desiludir muito. Já me desiludi muitas vezes com as desigualdades e com tudo o que tenho visto pelo mundo, mas ainda assim a admiração que tenho pelo ser humano supera a desilusão. Tenho de manter a percentagem dessa forma para conseguir continuar a fazer o meu trabalho.

Se entrasse na política, não sei se a percentagem de desilusão não iria crescer. Embora diga sempre aos miúdos para acreditarem na política e que não, os políticos não são todos iguais e que há alguns que nasceram para servir o mundo, outros só vão para a política para se servirem a si próprios e eu conheço muitos, bons e maus.

Tornou-se embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a População há 22 anos, Quais foram as grandes conquistas a que assistiu na igualdade de género? E os retrocessos?

Se os direitos humanos são sempre passíveis de um retrocesso, o das mulheres ainda mais, porque são sempre os mais permeáveis e os mais vulneráveis na sua concretização e efetivação. Há quem defenda que já não precisamos de falar dos direitos das mulheres, mas isso está completamente errado. Basta olhar para o patriarcado e a força do machismo enraizado no mundo.

O que está garantido é que, hoje, temos mais palco, mas para isso continuar não podemos perder o acesso à democracia e esta está em risco com o crescimento dos partidos radicais e populistas de extrema direita. Quando a democracia está em risco, em primeiro lugar, ficam em risco os direitos das mulheres. O mundo só tem a ganhar com a igualdade de acesso a direitos e oportunidades para mulheres, homens e seres não binários. Contactou com muitas mulheres privadas dos seus direitos.

''As mulheres são o ser humano mais forte, mais intuitivo e mais capaz de ultrapassar obstáculos. Não é sequer uma convicção, é uma constatação de mais de 20 anos a entrevistar mulheres de diferentes continentes, idades e estratos sociais'' - Catarina Furtado, apresentadora

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Essa experiência fez com que viva a sua liberdade de uma maneira diferente?

Um dos meus exercícios diários é perceber que tenho a liberdade de escolha que, por exemplo, uma mulher do Afeganistão não tem. Tudo o que tenho ouvido nos campos de refugiados faz-me perceber que ter liberdade de escolha é um privilégio e eu escolhi pôr esse meu privilégio também ao serviço dos outros.

Tem viajado para países com realidades muito dramáticas. Como é que regressa depois à sua vida?

Com mais garra! No princípio, voltava angustiada, depois, revoltada e, de seguida, indignada. Mais tarde, tive a consciência de que o mundo vai estar sempre desajustado e, que contrariamente ao que pensava aos 20 anos, não podia mudar o mundo, mas não podia ficar paralisada por não conseguir tocar em todas as teclas. Na medida das minhas possibilidades, vou sempre fazer alguma coisa.

As mulheres, as autênticas heroínas…

Sem dúvida. As mulheres são o ser humano mais forte, mais intuitivo e mais capaz de ultrapassar obstáculos. Não é sequer uma convicção, é uma constatação de mais de 20 anos a entrevistar mulheres de diferentes continentes, idades e estratos sociais, a maioria em situação de vulnerabilidade e pobreza.

Nelas, encontro aquilo que mais admiro e que me tem feito evoluir enquanto mulher, mãe, cidadã e até profissional, que é a capacidade de se anularem muitas vezes em prol dos seus e da sua comunidade, em colocarem-se em segundo lugar quando há um bem maior para proteger.

Nós mulheres temos uma capacidade incalculável de dar a volta ao destino.

Costuma dizer que, se houvesse mais mulheres no poder, não haveria guerra…

Garantidamente. Mas isso não quer dizer que todas as mulheres têm de estar no poder e que desprezo a meritocracia. Não é por acaso que grande parte do trabalho social é feito por mulheres, temos essa inclinação e isso tem que ver com inteligência emocional, que deveria ser trabalhada na escola.

Fala-se muito de inteligência, mas de apreensão de conteúdos, e esquecemos a emocional. Se uma pessoa tiver inteligência emocional, salva-se a si própria e aos outros.

Costuma dizer que a transformação dá-se no coração e não na razão. Pode explicar?

Até podemos avaliar as coisas do ponto de vista racional, mas, se não nos tocar no coração, não há transformação. E aí entra a empatia; quando a dor dos outros nos toca, queremos fazer algo para a diminuir e vamos buscar força mesmo onde achamos que não a temos.

Cuidar do outro pode ser também um caminho para nos mantermos saudáveis física e mentalmente?

Ajudar os outros também nos faz bem a nós próprios, preenche-nos e dá-nos autoestima; é o tal propósito, que nos dá equilíbrio e sanidade mental.

Temos de ser nós a procurar o que nos faz bem, mesmo que seja contracorrente. Na nossa igualdade, somos todos diferentes. E temos de assumir essa diferença. – Catarina Furtado, apresentadora

Como é que uma cuidadora como a Catarina Furtado cuida de si própria?

Estou sempre muito atenta aos sinais porque sempre soube que só posso cuidar se estiver bem. Não acredito numa separação entre corpo e mente. Faço pilates, infelizmente é caro, gostaria muito que fosse mais democratizado, porque tem essa componente, o fortalecimento dos órgãos e músculos de dentro para fora. É determinante que as pessoas façam exercício físico, que as pessoas saibam estar sozinhas e que dancem. A dança é absolutamente terapêutica. Eu danço todos os dias em casa, acho importante tocarmos no nosso corpo, termos uma relação saudável com ele, que não seja apenas aquela questão física, de ginásio. Não! É outra coisa. É nutrir, é fortalecer e mimar o nosso corpo.

Não dispenso ainda caminhadas e viagens de carro sozinha, é um tempo só para mim que uso para ter ideias. Faço ainda um agradecimento diário para que as coisas não passem em vão. Estou sempre a dizer aos meus filhos que temos de valorizar o que temos. Muita da ansiedade e da insatisfação que as pessoas sentem deve-se ao facto de não conseguirem olhar para aquilo que já têm e ficarem felizes pelas suas conquistas. Vivem pouco o presente, só olham para o futuro.

A Catarina é uma mulher do presente ou do futuro?

Sou muito mais do presente do que do futuro. E só faço projeções a um ano, sei que a intuição me vai guiar. Outra coisa importante para cuidarmos de nós é termos sonhos alcançáveis. Os meus projetos são sempre alcançáveis, mesmo que sejam difíceis.

Confia muito na sua intuição?

Sim, e na minha persistência. Uso mais a palavra persistência do que resiliência, porque esta deixa uma margem para a passividade, e eu sou tudo menos passiva. Posso ir-me abaixo quando me dizem que não consigo, mas sou persistente.

Quando precisa de ultrapassar algum obstáculo, recorre muitas vezes ao passado?

Sim, mais precisamente ao momento em que percebi que nada está garantido, que não somos insubstituíveis, algo que em televisão toda a gente deveria saber; talvez assim houvesse menos egos. Nós só não somos insubstituíveis para as pessoas da nossa vida. Trabalho em prime-time há 31 anos, podia ter-me embriagado do sucesso, mas não…Os meus pais nunca o permitiriam e eu também trabalhei isso, até porque aos 18 anos, quando tinha ganho uma bolsa de estudo para ser coreógrafa, – que era o que eu queria ser, no ensaio geral, lesionei-me e tive de passar todos os movimentos para uma amiga apresentar a coreografia.

Apesar de ser minha amiga, foi duríssimo. Quando me sentei na primeira fila, a vê-la dançar, percebi que não era insubstituível. Não pude dançar durante seis meses, mas, como sou uma mulher do presente e não do futuro, em vez de ficar calmamente a fazer fisioterapia, fui para o Cenjor estudar Jornalismo. O poder vem daí, de podermos mudar a própria vida, e esse poder é incrível e viciante.

Que projetos pessoais e profissionais tem para os próximos meses?

Já estamos a gravar a nova edição do The Voice e vou escrever um novo livro. Na Corações com Coroa, depois do projeto sobre a violência no namoro e sobre a menstruação nas escolas, teremos um sobre racismo. O populismo está a voltar, e o racismo existe em Portugal e está enraizado.

O que é para si saber viver?

É estar atenta à intuição, ter curiosidade em relação ao outro, é agarrar o presente como se ele nunca passasse a futuro, é gostar de gostar, é dar e receber.

© Pedro Ferreira

Que mensagem gostaria de dirigir especialmente às nossas leitoras?

A Saber Viver faz 20 anos e tenho de dar os parabéns. Até porque tem um título perfeito. Acho que nós temos uma enorme responsabilidade na nossa felicidade e na nossa serenidade. Temos de ser nós a procurar o que nos faz bem, mesmo que seja contracorrente. Temos de nos ouvir e ser muito fiéis e honestos connosco. Na nossa igualdade, somos todos diferentes. E temos de assumir essa diferença.

Um olhar sobre…

Mulheres que admira: “As mulheres da CCC (beneficiárias, funcionárias e voluntárias); todas as mulheres que vi a lutar pela sua vida e da família; a Malala, pela sua coragem em continuar a falar, e todas as mulheres do Afeganistão.”
Uma escritora: “Adoro poesia e quero fazer uma homenagem à Ana Luísa Amaral, que sempre falou sobre as mulheres.”
Um livro: “O que li nas férias, Rapariga Mulher Outra, de Bernardine Evaristo, uma história incrível sobre as mulheres e o racismo.”
Uma emoção: “A empatia, que é a chave para todos os relacionamentos.”
Uma viagem: “As viagens para os Príncipes do Nada à Índia, ao Bangladesh, ao Haiti, ao Uganda e ao Líbano, porque me fizeram crescer e o retiro no Equador, porque fui despojada de tudo.”
Uma música: “Adoro todas do Chico Buarque, mas a minha música é Kiss, do Prince. Adoro beijos e, além disso, desperta em mim a vontade de dançar.”

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 268, outubro de 2022.
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