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Como superar o trauma financeiro e criar hábitos de gestão de dinheiro saudáveis

Como superar o trauma financeiro e criar hábitos de gestão de dinheiro saudáveis

Gerir finanças pode ser uma dor de cabeça, principalmente quando existe algum tipo de trauma ou medo associado ao dinheiro. Conversámos com uma especialista para descobrir tudo sobre o trauma financeiro.

Por Nov. 10. 2022

Controlar as finanças pessoais de forma responsável pode ser uma tarefa árdua. Existem vários fatores externos que influenciam e determinam a forma como gerimos o dinheiro, como, por exemplo, ter um filho, um empréstimo, uma despesa médica inesperada ou um acidente.

Para além disso, a forma como olhamos para a conta bancária está também fortemente associada às nossas figuras parentais e à forma como estas lidam com o dinheiro. Consequentemente, vários problemas podem surgir desta associação, que mais tarde se manifestam como um trauma financeiro.

Susana Albuquerque, formadora, coach e especialista em Mudança Intencional, explica tudo sobre este tema.

O que é um trauma financeiro?

Antes de desenvolver o que é o trauma financeiro, a formadora definiu o trauma de acordo com um dos maiores especialistas mundiais do mesmo, Gabor Maté.

Este afirma que o “trauma é uma ferida psíquica que nos endurece psicologicamente e que afeta a nossa capacidade de crescimento e desenvolvimento. O trauma é o que acontece dentro de nós em resultado do que nos aconteceu exteriormente.”

Desta forma, e de acordo com Susana Albuquerque, o trauma financeiro compromete então a capacidade de crescimento, desenvolvimento e autonomia financeira.

Quem afeta e porquê?

A especialista confirma que o trauma financeiro pode afetar qualquer pessoa e que “aprendemos a lidar com o dinheiro com o exemplo das nossas figuras parentais”.

Visto que o “dinheiro está intimamente associado a poder e controlo, os pais, ou quem os substituiu, podem comprometer qualquer uma das necessidades básicas das crianças – alimentação, segurança, afeto – através dos seus comportamentos”, acrescenta.

Estes incluem discussões sobre finanças, controlar a forma como o dinheiro é gasto, ser avarento ou gastar em excesso.

Em suma, neste tipo de trauma “há medo e dor em relação ao dinheiro e a conduta financeira é ditada pela necessidade de proteger essa mesma dor e medo”, afirma a formadora.

Principais causas

  • Pais que gerem dinheiro de forma inconsciente;
  • Pobreza;
  • Acontecimentos agudos, como guerras, divórcios, desemprego, doenças, sobre-endividamento, crises sociais ou sanitárias.

Sinais de que pode ter um trauma financeiro

Há indícios que podem dar a entender se sofre ou não deste tipo de trauma. Para Susana Albuquerque, estes são os quatro principais sinais de alerta:

  • Comportamento extremo em relação ao dinheiro, por exemplo, ser avarenta de forma obsessiva ou ser excessivamente controladora de qualquer gasto;
  • Gastar demais;
  • Evitar qualquer comportamento de controlo financeiro;
  • Ser incapaz de seguir ou controlar o seu dinheiro.
Da mesma forma que aquilo que nos faz comer demais é a ansiedade e não a fome, o que nos faz gastar demais ou de forma descontrolada é a ansiedade e não a necessidade de comprar coisas – Susana Albuquerque, especialista em Mudança Intencional

Como lidar com este tipo de trauma

Susana Albuquerque afirma que o que primeiro passo para lidar com o trauma financeiro é o de “tornar conscientes os comportamentos protetores da ferida e dor causada pelo trauma e todas as emoções em relação ao dinheiro e à forma de gerir o mesmo”.

De seguida, é necessário que exista cura a nível emocional, cognitivo e, por vezes, até mesmo físico. Desta forma é possível recuperar as competências de autorregulação, autodisciplina, foco, persistência e autoestima em relação ao dinheiro.

“Estas são essenciais para uma boa gestão financeira e, se for o caso, à resolução dos problemas financeiros de descontrolo ou sobre-endividamento”, adiciona a formadora.

Por fim, é fundamental criar hábitos financeiros saudáveis.

  • Fazer e gerir um orçamento;
  • Poupar de forma automatizada;
  • Gastar de forma consciente e de acordo com os limites financeiros;
  • Recorrer ao crédito apenas se estiver dentro da capacidade financeira.

Ansiedade como resultado do trauma financeiro

De acordo com a especialista em Mudança Intencional, “da mesma forma que aquilo que nos faz comer demais é a ansiedade e não a fome, o que nos faz gastar demais ou de forma descontrolada é a ansiedade e não a necessidade de comprar coisas para aliviar a tensão causada pela dor e pelo medo que esta tenta mostrar. Uma boa gestão da ansiedade requer então que a mesma seja reconhecia como tal”.

Posteriormente, podem ser implementadas certas estratégias para “aprender respostas conscientes diferentes das respostas baseadas no medo”, tais como técnicas de respiração, de relaxamento corporal e de atenção plena para notar quais são os gatilhos que a fazem sentir ansiosa em relação ao dinheiro.

Conselhos para uma recuperação saudável

Para terminar, sobre como dar a volta por cima ao problema, Susana Albuquerque afirma que é fundamental “aprender a reconhecer o mesmo e tentar curá-lo”, bem como “pedir ajuda a um profissional especializado, quer seja um psicoterapeuta, psicólogo cognitivo-comportamental ou coach financeiro”.

Conclui que acredita “profundamente no crescimento pós-traumático” e que é possível uma total recuperação deste tipo de trauma.

Pronta para abraçar um novo capítulo financeiro?

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