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Será possível abrandar o processo de envelhecimento?

Será possível abrandar o processo de envelhecimento?

Segundo o estudo KiSel-10, a suplementação de certos nutrientes aumenta a longevidade e melhora a qualidade de vida. Contamos-lhe tudo.

Por Nov. 25. 2025

Um grupo de investigadores suecos e noruegueses revelou novos indícios de que certos nutrientes podem ajudar a retardar o processo natural de envelhecimento e a apoiar uma longevidade mais saudável. O estudo, publicado na revista internacional Nutrients, analisou o impacto da suplementação com selénio e coenzima Q10 no comprimento dos telómeros — as estruturas que protegem o ADN e funcionam como um indicador da “idade biológica” das células.

O exemplo dos telómeros – porque são importantes para a longevidade?

Os telómeros são extremidades dos cromossomas que evitam o desgaste do material genético. Contudo, encurtam-se progressivamente ao longo da vida — um processo natural associado ao envelhecimento celular. Quanto mais rapidamente diminuem, maior a probabilidade de surgir perda de vitalidade, fragilidade e menor capacidade de regeneração.

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No estudo, que comparou um grupo de séniores saudáveis a tomar selénio e coenzima Q10 com outro grupo a tomar placebo, os investigadores observaram diferenças “claras e significativas”: os participantes suplementados mantiveram telómeros mais compridos, um sinal de envelhecimento celular mais lento.

Nutrientes que apoiam a vitalidade com o avançar da idade

O envelhecimento está intimamente ligado ao stresse oxidativo e à inflamação — dois fatores que aumentam naturalmente com a idade e podem acelerar o declínio físico. Segundo Urban Alehagen, cardiologista e um dos investigadores envolvidos, a insuficiência de selénio e Q10 agrava esse processo.

“Quando existe défice destes compostos, o organismo fica mais vulnerável ao envelhecimento acelerado. A suplementação parece oferecer um efeito protetor, especialmente em pessoas com níveis baixos”, explica o investigador.

Menor risco cardiovascular e mais anos de vida com qualidade

Estas novas conclusões surgem na sequência do grande estudo KiSel-10, que acompanhou mais de 443 participantes durante cinco anos. Os investigadores já tinham observado que o grupo que tomou selénio e coenzima Q10 apresentou uma redução de 54% na mortalidade cardiovascular comparativamente ao grupo placebo — um dado particularmente relevante, dado que as doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte na terceira idade.

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Com estes resultados, a equipa deu início a mais de 25 sub-estudos, analisando inúmeros marcadores do envelhecimento. Em muitos deles, observaram-se sinais consistentes de que a combinação de selénio e Q10 pode contrariar alterações biológicas associadas ao avançar da idade, incluindo processos inflamatórios, fibrose e indicadores relacionados com a idade biológica. O 23.º sub-estudo reforça essa tendência ao mostrar que a suplementação pode ajudar a preservar o comprimento dos telómeros, contribuindo para células mais “jovens” durante mais tempo.

Europa: um continente com solos agrícolas pobres em selénio

Grande parte dos solos agrícolas europeus tem baixos teores de selénio — o que resulta numa ingestão diária inferior à recomendada pelos investigadores. De acordo com os dados disponíveis, são necessários mais de 100 microgramas de selénio por dia, mas a ingestão média na Europa é menos de metade. Este défice generalizado pode explicar porque tantas pessoas beneficiam quando repõem os níveis adequados deste nutriente essencial.

Embora o envelhecimento seja inevitável, estes resultados mostram que há estratégias naturais capazes de apoiar a vitalidade, a energia e a saúde cardiovascular mesmo em idades avançadas. A investigação continua, mas o conjunto de evidências reforça uma mensagem importante: cuidar das células pode ser um passo decisivo para viver mais — e melhor.

Referência Bibliográfica: 1. “Selenium and Coenzyme Q10 Intervention Prevents Telomere Attrition, with Association to Reduced Cardiovascular Mortality—Sub-Study of a Randomized Clinical Trial”, Nutrients 2022, 14, 3346.