
Os desafios (físicos e emocionais) da maternidade
Neste Dia da Mãe, assinalado a 4 de maio, Mónica Gomes Ferreira, obstetra, traz para o centro da conversa os grandes desafios que a maternidade acarreta, os visíveis e os invisíveis, e até aqueles que começam muito antes do nascimento do bebé.
A pressão para ser a mãe perfeita começa ainda durante a gravidez e intensifica-se após o nascimento do bebé. Com a criança, (re)nasce também uma nova mulher — alguém que está a aprender, a adaptar-se e a viver esta experiência única, mesmo que não seja a primeira vez. Cada gravidez traz consigo sintomas, vivências e desafios diferentes.
Ainda durante a gestação surgem os primeiros obstáculos: as transformações do corpo, os desconfortos e dores crescentes, o mal-estar, a ansiedade e a incerteza. A tudo isto soma-se a expectativa social de que a mulher viva esta fase como a mais bonita da sua vida — uma pressão subtil, mas constante.
Estes desafios acumulam-se e intensificam-se com o nascimento do bebé. A vida da mulher muda radicalmente, e o instinto de sobrevivência e de proteção assume o controlo. Sem tempo para recuperar, o instinto maternal leva-a a colocar o bem-estar do filho à frente do seu próprio. Seguem-se meses exigentes, em que as sequelas físicas e emocionais são frequentemente ignoradas ou minimizadas.
Marcas psicológicas
Estima-se que entre 10 a 35% das mulheres sofra de depressão pós-parto — uma condição ainda pouco falada, não só por falta de informação, mas também porque muitas mães sentem que não podem falhar na missão mais importante das suas vidas. Este é um pressuposto errado, alimentado pelo estigma social, que pode ter impacto tanto na mãe como no bebé. Por isso, muitas mulheres optam por silenciar o que sentem.
Marcas físicas
As marcas físicas também não são poucas. Quer o parto tenha sido natural ou por cesariana, ele sucede a nove meses de intensas transformações corporais.
Aproximadamente 50 a 90% das mulheres desenvolvem estrias, cerca de 50% apresentam melasma, e mais de 60% sofrem de diástase abdominal. Alterações genitais e no pavimento pélvico são também comuns, com sintomas de incontinência urinária em 50% dos casos. Quase todas experienciam mudanças no peito e no contorno corporal.
Experiência partilhada
Pedir ajuda pode ser difícil. Admitir que não se consegue fazer tudo sozinha é um enorme desafio, mesmo quando há um pai presente e envolvido. Mas a verdade é que não é a mesma experiência. O pai não passou pela gravidez física, pelas alterações hormonais, pelas dores do parto ou pela amamentação. Não carrega as cicatrizes nem sente a mesma pressão — nem a externa, nem a autoimposta.
Tudo isto é real. Mas também é possível prevenir, cuidar e ultrapassar. Cada coisa a seu tempo. Cabe a cada mãe e pai encontrar estratégias que lhes permitam viver cada fase com serenidade, afastando-se de expectativas alheias e respeitando os seus próprios ritmos.
E tal como se cuida do bebé, é essencial olhar também para a mulher. Acolher esta nova fase, cuidar das marcas deixadas pela gravidez e pelo parto — no corpo e na alma — deve ser um direito, nunca um luxo.
Sem culpa. Sem julgamentos.