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Crónica. Mitos e clichés associados à prática de yoga

Crónica. Mitos e clichés associados à prática de yoga

Ouve-se tanta coisa sobre yoga que achei necessário escrever mais um artigo sobre mitos e clichés. Descubra tudo.

Todos já pensámos pelo menos uma destas coisas. Se se considerar demasiada enferrujada, demasiado velha ou muito forte (e poderemos aqui colocar qualquer outro adjetivo depreciativo a seu gosto), então esta pequena crónica é para si.

Em todo o caso, lembre-se que não precisa de se adaptar à “prática de yoga”, pois existe sempre um tipo de yoga que se irá adaptar a si.

Mitos e clichés sobre yoga

“Não tenho flexibilidade para fazer yoga”

Este é, para mim, o cliché número um! Não, o yoga não é exclusividade dos contorcionistas.

Deixe de se comparar às fotos que podem ser vistas nas redes sociais, porque raras são as pessoas que têm tanta flexibilidade por natureza, e para lá chegar são anos de trabalho.

A flexibilidade é uma consequência positiva da prática regular e não uma condição necessária para praticar. Aí está, o yoga é mesmo para si, mesmo se não consegue tocar nos dedos dos seus pés!

É, portanto, a praticar com regularidade que poderá ganhar flexibilidade. E lembre-se que todos nós temos os nossos pontos fortes e fracos. Se não for muito flexível, até poderá achar mais fácil as posturas que exigem força, equilíbrio ou concentração.

“O yoga é uma prática muito passiva, lenta e aborrecida”

Muito se diz que o yoga não pode ser considerado um desporto, que o “yoga é suave e chato”, ou que é para “quem tem preguiça de praticar desporto de verdade”. Mas são muitas vezes as pessoas com este tipo de preconceito que ficam mais atrapalhadas aquando da sua primeira aula, em que as gotas de suor começam a aparecer na pele.

É verdade, o yoga não é apenas um desporto, como a aeróbica ou o crossfit, a título de exemplo, porque é assumido como uma prática de bem-estar que atua a todos os níveis: físico, mental e espiritual. Mas, dependendo do tipo de yoga que encontrar, pode ser muito físico ou até mesmo chegar a ser muito exigente!

Existem hoje muitos tipos de yoga, uns mais tradicionais, mais relaxantes e mais calmos, e outros mais físicos e mais dinâmicos. Cabe-lhe a si encontrar o que melhor se adapta às suas necessidades (e personalidade).

Existem modalidades que se praticam unicamente sentado ou deitado e com bastante relaxamento. Contudo, se o que pretende é transpirar, tenho a certeza que poderá encontrar no yoga aquilo que procura.

O que poderá ser bom para alguns, poderá ser prejudicial para outros. Independentemente das nossas escolhas, o nosso corpo poderá ter as suas próprias necessidades
Jean-Pierre de Oliveira

“É preciso ser vegano ou vegetariano para praticar yoga?”

De facto, não é uma obrigação nem uma condição sine qua non. Tal como o yoga o defende, todos temos corpos diferentes, com necessidades e gostos diferentes e, por isso, existe uma variedade de metodologias propostas pelo yoga para que cada um possa encontrar uma forma de prática mais adequada.

A Ayurveda, ciência da vida e saúde indiana, defende que diferentes tipologias (doshas) têm necessidades diferentes, e que poderá, nalguns casos, ser imprescindível comer carne para manter a saúde.

Temos um outro exemplo mais recente a defender este princípio da individualidade: segundo a dieta do sangue, do Professor D’adamo, sugere-se que diferentes tipos de sangue são sinónimo de químicas corporais diferenciadas. Ou seja, temos formas diferentes de metabolizar os nutrientes consoante o nosso grupo sanguíneo.

O que poderá ser bom para alguns, poderá ser prejudicial para outros. Independentemente das nossas escolhas, o nosso corpo poderá ter as suas próprias necessidades, e estas também devem ser escutadas e observadas.

Se existe tanta diversidade nas práticas de yoga é para que cada um possa encontrar o método que mais se adapta a si. Mas também é verdade que, ao aplicarmos alguns dos conceitos filosóficos apresentados no yoga, em termos de ética e moral, poderemos vir naturalmente a ser mais seletivos com os alimentos e com a forma como são produzidos e tratados até chegar à nossa boca.

Yoga é uma religião? Um seita para hippies “peace and love”?”

Muito se confunde o yoga com o hinduísmo.

O yoga é uma metodologia que visa acalmar as flutuações da mente, utilizando as mais variadas técnicas para atingir o seu objetivo. É um sistema filosófico extremamente prático. Remete para a natureza da mente, das suas modificações e dos impedimentos para progredir e atingir o mais alto objetivo, a libertação.

O yoga é dissociável do hinduísmo, mas o hinduísmo absorveu o yoga nas suas práticas. O hinduísmo é uma das religiões mais antigas do mundo. Não há um fundador, ao contrário de tantas outras, mas é, na verdade, o resultado de uma interação de valores, filosofias e crenças, oriundas de diferentes povos e culturas.

É verdade que o yoga é uma prática que se abre à espiritualidade, mas não tem nada a ver com uma seita ou religião! A espiritualidade poderá estar presente nas aulas dependendo dos professores, se estes quiserem dar-lhe um aspeto mais tradicional, com cantos de mantras (cânticos sagrados), por exemplo.

A espiritualidade traduz-se pela capacidade do praticante em conhecer-se por dentro, com a finalidade de gerir as suas emoções e controlar as suas atitudes.

Et voilá! Espero ter ajudado a esclarecer as suas dúvidas, mas no fundo, não há nada como passar pela experiência desta prática milenar.

Jean-Pierre de Oliveira é professor de yoga, autor e um earth activist. A sua inspiradora abordagem ao yoga adapta esta sabedoria antiga à vida dos ioguis modernos como um estilo de vida além das aulas. É conhecido pelo seu estilo genuíno de ensino e instrução técnica profissional reconhecida que o tem levado a participar em diversos eventos.