
Cabelos brancos: por que aparecem e dicas para cuidar do grisalho
Cada cabelo branco é uma recordação das nossas aprendizagens e vivências. Não é por acaso que a atriz Salma Hayek se refere a estes como “fios da sabedoria” e os abraça com orgulho, tal como um crescente número de mulheres. Para compreender melhor este fenómeno, conversámos com dois especialistas.
Conhecer o processo por trás desta mudança absolutamente natural e que faz parte do passar do tempo é o ponto de partida para perceber todas as novas necessidades do nosso cabelo. Por isso, Augusto Guerreiro, especialista em Medicina Capilar da Clínica LHR, esclarece: “O cabelo branco surge quando as células responsáveis pela produção de melanina, chamadas melanócitos, deixam de produzir pigmento ou passam a produzi-lo em menor quantidade. A melanina é o que dá cor ao cabelo, seja ele louro, castanho, ruivo ou preto, e, com o tempo, esta atividade vai diminuindo devido ao envelhecimento natural, fazendo com que o fio cresça sem cor”.
É de notar, contudo, que este é “um processo progressivo e irreversível, que acontece de forma diferente de pessoa para pessoa, dependendo de fatores genéticos e ambientais”, adiciona.
Além da cor, que outras mudanças verificamos nesses fios?
“A sua estrutura e textura também se alteram”, começa por dizer o profissional. “Muitas vezes fica mais espesso ou áspero, porque a ausência de melanina altera a forma como a queratina é produzida. Torna-se menos maleável, mais seco e com menos elasticidade, devido à diminuição da produção de óleo natural pelas glândulas sebáceas. Também pode ficar mais frágil e perder brilho, pois a cutícula — a parte mais externa do fio de cabelo que protege o córtex, responsável pela resistência e cor — torna-se menos uniforme”, continua, clarificando que “estas mudanças se devem tanto à perda de pigmento como ao envelhecimento geral do folículo”.
A partir de que idade começam a surgir os cabelos brancos?
Neste caso, a “genética individual é determinante”, pelo que, se os pais encontraram fios brancos entre a cabeleira cedo, é provável que se repita. Ainda assim, “em média, os primeiros fios brancos aparecem por volta dos 30 anos nos caucasianos, dos 35 nos asiáticos e dos 40 nos africanos”, responde. Não é incomum, porém, surgirem antes dessas idades, e, garante o médico, “não costumar indicar problemas de saúde”.
Qual a razão para vermos cada vez mais jovens com cabelos brancos antes dos 30?
O especialista vai à raiz da questão: “O aparecimento precoce, chamado canície prematura, pode estar relacionado com a genética, stresse oxidativo, deficiências nutricionais, como falta de vitamina B12, ferro, cobre ou zinco, e doenças autoimunes ou hormonais.
O stresse não cria cabelos brancos de um dia para o outro, mas acelera o processo especialmente em quem já tem predisposição. Estar constantemente sob pressão aumenta a produção de cortisol e radicais livres, que danificam as células produtoras de pigmento. O estilo de vida moderno, com pouco sono, alimentação pobre em nutrientes, sedentarismo, tabaco, álcool e poluição, agrava este desgaste”.
Assumir os cabelos brancos é uma tendência crescente. Como é feita a transição, em salão, até se atingir uma cabeleira completamente grisalha?
É um processo moroso e que envolve alguma paciência, especialmente para quem tem os fios mais escuros. Bruna Santana, hair artist, avança que, no seu salão, em Lisboa, “em vez de colorações totais ou abordagens agressivas”, optam por “técnicas de integração gradual de tom, como madeixas finas, em tons próximos dos brancos naturais, com o objetivo de criar uma transição harmoniosa e elegante”.
Para quem pretende fazê-lo de forma gradual, uma decisão cada vez mais popular, a especialista aconselha “cortes regulares e uma rotina de cuidados ajustada, com produtos que nutrem e dão brilho aos brancos naturais”. “Em fases intermédias, pequenas intervenções técnicas discretas podem suavizar o contraste entre os tons”, acrescenta.
Como devemos cuidar do cabelo grisalho?
Uma vez que os fios ficam também mais secos e sensíveis, é aconselhado “um plano de hidratação profunda, com produtos específicos para preservar a estrutura do fio, controlar a porosidade e manter a luminosidade”, além de proteção térmica e solar.
“Privilegiamos fórmulas com agentes antioxidantes, hidratantes e equilibradores de pH, que ajudam a manter a elasticidade do fio, evitar a oxidação e preservar a cor natural dos brancos”, declara Bruna Santana. Para neutralizar os tons amarelados que surgem “sobretudo com exposição ao sol, calor e poluição”, deve utilizar “produtos com pigmentos frios, como roxo ou azul, que devolvem o brilho e mantêm o branco limpo”.
Existem alternativas para quem não quer pintar completamente o cabelo, mas cobrir apenas os fios brancos?
A hair artist brasileira, que veio para Portugal já em 2006, dá uma resposta positiva: “Sim”. “Utilizamos técnicas localizadas, como aplicação de cor nas zonas com mais fios brancos ou pequenas madeixas que criam um efeito de uniformização. São soluções subtis, eficazes e com um impacto visual muito natural”, elucida.
Por outro lado, que cuidados deve ter quem pinta completamente o cabelo para cobrir os brancos?
Embora se verifique um número crescente de mulheres que assumem com naturalidade os seus cabelos brancos, existe ainda o outro lado da moeda: quem prefere esconder o avançar da idade. Nesse caso, “é importante que a coloração seja feita com consciência, integrando tratamentos de hidratação, nutrição e proteção da fibra capilar”, sublinha a hair artist. “Assim, o resultado é duradouro, natural e construído com princípio, meio e fim, de forma a respeitar a identidade da pessoa”, finaliza.
Com que frequência devem retocar a cor?
Tudo “depende do ritmo de crescimento do cabelo, da técnica utilizada e da forma como o processo foi desenhado com a cliente”, diz a especialista. “Não existe uma regra fixa”, assegura.
É possível reverter ou desacelerar o seu surgimento?
“Neste momento, não existe nenhum tratamento comprovado capaz de devolver a cor natural de forma duradoura”, frisa Augusto Guerreiro. No entanto, podemos retardar o processo, “corrigindo deficiências nutricionais, mantendo um estilo de vida saudável e consumindo antioxidantes, como vitamina C, vitamina E, polifenóis, resveratrol, astaxantina, coenzima Q10, cobre, magnésio e zinco, que ajudam a proteger as células do folículo e preservar a melanina”, além de “usar produtos antioxidantes no couro cabeludo”, adianta.”
A ciência está a investigar novas moléculas para preservar ou estimular a pigmentação, mas, por agora, a forma mais eficaz de recuperar a cor continua a ser cosmética, através de tintas tonalizantes ou outras técnicas de camuflagem”, termina.