
Tudo o que precisa de saber sobre protetor solar
Sabemos que a proteção solar é absolutamente imprescindível. E além disso? Quantas respostas acertaríamos se fizéssemos um teste sobre o tema? Esclarecemos as dúvidas mais frequentes, com a ajuda de especialistas, para que, depois, consiga a nota máxima.
Será que sabe mesmo tudo sobre proteção solar? Estará a fazer as escolhas mais acertadas para proteger a sua saúde? Dos diferentes tipos de proteção solar que existem às questões mais básicas que possa ter, encontrará toda a informação que necessita neste artigo.
ABC da proteção solar
Por que razão devemos aplicar protetor solar?
Poucos temas unem a comunidade científica como o uso de proteção solar. Além de reduzir o risco de cancro cutâneo, cuja incidência “tem aumentado de forma drástica ao longo das últimas décadas”, de acordo com a Liga Portuguesa Contra o Cancro, “previne o envelhecimento e a evolução de algumas doenças fotossensíveis”, sublinha Alexandra Osório, dermatologista na Clínica Dermage.
Alguns fármacos, “nomeadamente anti-inflamatórios não esteroides, antidepressivos ou medicamentos para o coração”, possuem substâncias que podem provocar hipersensibilidade cutânea ao sol, “queimando dez vezes mais do que se não os tomassem”, esclarece a médica. Nestes casos, a fotoproteção tem um papel de especial relevo.
O que significa FPS?
A abreviatura de fator de proteção solar, “indica-nos, em média, quantas vezes mais radiação a pele passa a tolerar com o produto sem mostrar vermelhidão”, o que “depende não só do tempo de exposição, mas também da intensidade de radiação do local em que estamos expostos ou da hora do dia”, explica Marta Ferreira, farmacêutica e criadora da abitat, plataforma de seleção de cosméticos personalizados.
Assim, “na prática, um protetor com FPS50, quando aplicado de forma adequada, permite-nos tolerar quase o dobro de radiação em comparação com um protetor de FPS30”, adverte a profissional. Obrigatória, esta menção pretende ajudar a escolher o produto mais adequado para cada tipo de pele e momento. Deve ser indicada no rótulo “com referência às categorias ‘baixa’ (FPS 6 e 10), ‘média’ (FPS 15, 20 e 25), ‘elevada’ (FPS 30 e 50) e ‘muito elevada’ (FPS 50+)”, nota o Infarmed.
Qual a quantidade adequada?
Há quem anuncie que, de modo a estarmos eficazmente protegidos das radiações ultravioletas, precisamos de aplicar dois dedos de protetor. Para simplificar, a farmacêutica revela: “Para que o protetor mantenha o FPS indicado na embalagem, deve ser aplicado numa concentração de 2 mg/cm² de pele, o que equivale, num adulto, a uma colher de café para rosto, pescoço e orelhas, e um pouco mais de duas colheres de sopa para o corpo”.
Com que frequência devemos reaplicá-lo?
Neste tópico, Alexandra Osório admite “não ser taxativa”. “Dizem que, para termos uma boa proteção solar, estarmos tranquilas e nos irmos bronzeando, sem nos queimarmos e evitando o envelhecimento, devemos aplicá-lo de duas em duas horas”, diz. Depois de “nadar, suar ou secar com toalha” também é crucial fazê-lo, avisa Marta Ferreira. Para facilitar o processo, pode preferir opções em pó, spray ou bruma.
É necessário aplicar o protetor solar, quer no rosto, quer no corpo, 30 minutos antes da exposição solar?
Resposta simples e direta: sim. “Independentemente do tipo de filtros que o protetor solar tenha, para que produto se espalhe devidamente e forme uma camada contínua à superfície da pele” devemos fazê-lo, aconselha Marta Ferreira.
No que diz respeito às versões em stick, basta passarmos uma vez pela cara toda para estarmos protegidos?
Caso “não falhemos nenhum espaço, estamos protegidos durante duas horas”, confirma Alexandra Osório.
Podemos utilizar o protetor do corpo no rosto?
Há alguns casos específicos em que não é recomendado: “Se tem manchas, acne, rosácea ou uma doença fotossensível, não devia utilizar o mesmo”. Todavia, “se não tiver problemas cutâneos, pode usar o mesmo creme no corpo e cara”, salienta Alexandra Osório.
Ao aplicar protetor solar, estamos a dificultar a absorção da vitamina D?
É uma questão comum, mas, com a ajuda de Marta Ferreira, pomos os pontos nos is: “A absorção pode ser ligeiramente reduzida, mas não se verifica que o uso de protetor solar seja uma causa relevante para o défice de vitamina D. Pelo contrário, e em adultos, o sedentarismo, a obesidade ou as patologias renais tendem a estar na origem destes défices”, esclarece a farmacêutica.
Filtros minerais e filtros químicos
Qual a diferença entre filtros minerais e químicos?
É na composição química que encontramos as suas diferenças. “Os filtros minerais são compostos por moléculas inorgânicas, sendo óxidos dos metais zinco ou titânio, e os filtros químicos, mais corretamente chamados de orgânicos, são compostos por moléculas orgânicas, contendo átomos de carbono, hidrogénio, oxigénio, entre outros”, declara a farmacêutica. “Ao contrário da informação que é veiculada por muitas marcas e até mesmo em revistas científicas ligadas à dermatologia, tanto os filtros minerais (inorgânicos) como os filtros químicos (orgânicos) absorvem cerca de 95% da radiação solar e refletem aproximadamente cinco por cento desta”, adiciona.
Quais devemos preferir e porquê?
“A menos que exista indicação médica para evitar protetores que contenham filtros orgânicos, estes devem ser preferidos, já que são mais fáceis de usar e reaplicar em quantidade adequada, o que é determinante para a sua eficácia”, explica Marta Ferreira. Alguns dos que contêm “apenas filtros minerais deixam resíduo branco e dificilmente serão aplicados e reaplicados adequadamente, pelo que devem ser reservados, se houver indicação médica explícita, para crianças com menos de 3 anos ou adultos com alergia a vários filtros orgânicos”, refere.
Existem estudos suficientes que evidenciem o impacto dos protetores solares no ambiente marinho?
Marta Ferreira responde negativamente. “Atualmente, não conseguimos perceber se os filtros solares usados nos protetores têm um efeito real na vida marinha, uma vez que está já bastante comprometida pelo aquecimento global, acidificação dos oceanos, pesca excessiva e poluição. Atribuir a responsabilidade pelo branqueamento dos corais ou perda da biodivesidade aos protetores solares é prematuro e não dá o devido valor a estas causas conhecidas e verdadeiramente impactantes para os danos ambientais”, pondera.
“Há suspeitas para filtros orgânicos e inorgânicos, sem conclusões claras. Contudo, este tipo de etiqueta tende a ser usado para assinalar que protetores podem ser usados em determinadas zonas do mundo que restringem alguns filtros”, completa.
FPS30 e FPS50+
Quando é mais adequado FPS30 ou FPS50+?
“No que diz respeito à prevenção da queimadura solar, o FPS30 é adequado para pessoas de pele morena, exposições curtas e de baixa intensidade de radiação. Já os produtos de FPS50 e FPS50+ são recomendados para exposição prolongada, peles claras, condições de risco (medicamentos que tornam a pele mais sensível à radiação solar, melasma, antecedentes de cancro de pele) ou em zonas de radiação elevada”, menciona Marta Ferreira, que acrescenta que “a partir de um índice UV de 3, já é aconselhada a aplicação de protetor solar; acima de 8, é recomendado evitar expor crianças ao sol; e, acima de UV 11, esta recomendação estende-se aos adultos”.
Em que altura do ano devemos trocar o FPS30 pelo FPS50+?
A dermatologista Alexandra Osório aconselha fazê-lo, “em média, a partir do mês de abril até outubro, uma vez que os índices de radiação são mais fortes nessa altura”.
Proteção solar em casa
Como funcionam os solares que garantem proteger contra a luz azul?
Estes protetores “absorvem seletivamente o segmento de luz azul da radiação solar”, começa por elucidar-nos Marta Ferreira. E continua: “O grau de proteção de cada produto é pouco claro, já que não dispomos de testes padronizados para a medir. Contudo, apenas protetores solares com óxidos de ferro, e que por isso têm cor, darão uma proteção considerável à luz azul”.
Devemos aplicar protetor solar quando estamos em casa?
Marta Ferreira é perentória: “Se pretendemos prevenir o envelhecimento precoce da pele e se houver exposição direta à luz solar ou próxima de janelas ou varandas, é recomendável que o faça”.
Quais são as diferenças entre um protetor solar e um creme com proteção solar?
No que diz respeito ao fator de proteção, “um protetor com FPS30 é tão eficaz como um hidratante com FPS30. Contudo, os protetores solares tendem a ter maior proteção UVA e resistência à água”, adianta o rosto por trás da plataforma abitat. “Para exposição prolongada, é mais adequado preferir um protetor solar”, termina a especialista.
Como escolher o protetor solar
O que devemos ter em conta quando compramos um protetor solar?
Marta Ferreira elenca-o, por ordem de importância:
- FPS adequado (≥30), e preferencialmente 50 ou 50+.
- Proteção de largo espectro (UVA + UVB), com o símbolo UVA rodeado por um círculo.
- Textura adaptada ao tipo de pele.
- Resistência à água, se necessário.
- Ingredientes adicionais, como antioxidantes, podem ser benéficos.
Como perceber qual o protetor mais adequado para cada indivíduo?
Pessoas com pele oleosa devem optar por “uma galénica de gel-creme, com toque seco”, que se traduz também numa “boa opção para os homens que têm pelos”, avança Alexandra Osório. Quem sofre de acne pode trocar o duo base e protetor solar por um protetor oil free com cor, que “cobre as lesões sem as piorar”, acrescenta.
Quem tem a pele sensível ou reativa encontra opções no mercado adequadas ao seu tipo de pele. Deve procurar na embalagem essa indicação. “Há doenças fotossensíveis, como o lúpus cutâneo ou vitiligo, com indicação para usar proteção mineral”, repara a especialista. Se andar sempre com a prancha de surf atrás, pode optar por “sticks à prova de água” ou opções “que atuam mesmo na pele molhada”, termina
O que difere os protetores solares comercializados como antienvelhecimento ou antimanchas?
Incluem ingredientes antioxidantes, no caso dos voltados para o antienvelhecimento, ou, no que diz repeito aos antimanchas, ingredientes despigmentantes, “que ajudam a prevenir ou reduzir sinais de envelhecimento e hiperpigmentações”, evidencia Marta Ferreira. A farmacêutica adiciona também que “são um complemento à proteção solar, mas o mais importante para prevenir o envelhecimento prematuro da pele e o desenvolvimento de manchas é, sem dúvida, evitar a exposição solar direta, sempre que possível, usar óculos, chapéu e roupa, e, em complemento, aplicar um protetor solar de FPS 50 ou 50+”.
Protetor solar para crianças
A partir de que idade podem as crianças começar a utilizar protetor solar?
“A maioria das marcas possui produtos indicados a partir dos 6 meses, já que, antes dessa idade, deve evitar-se a exposição solar direta”, recorda a farmacêutica. “O protetor solar mineral pode ser aplicado logo desde o início. Não há problema”, concorda Alexandra Osório. “A partir dos 2 anos”, pode passar-se para os filtros físicos.”.
Precisamos de comprar um protetor solar novo todos os anos quando, na embalagem, encontramos a indicação de validade “12 meses depois de aberto”?
Quando falamos de saúde, não podemos facilitar. “Sim, é recomendável”, partilha a farmaceutica, justificando que “após esse período, a estabilidade e eficácia dos filtros podem estar comprometidas”. Para percebermos se ainda pode ser utilizado, caso nos esqueçamos de quando o abrimos, devemos prestar atenção a “alterações de cheiro, cor ou textura, que podem indicar degradação do produto”, enumera.
Fotoproteção oral
Existe fotoproteção oral?
Sim e há mais de 30 anos que o dermatologista Salvador González Rodrigues trabalha neste campo. Era professor na Universidade de Harvard quando contactou com o Polypodium leocotomos, um feto que nasce na América Latina e que tem uma poderosa ação antioxidante. A planta vivia no meio aquático, mas, devido a uma mudança climática, adaptou-se ao meio terreste. Isto fez com que aumentasse a ação dos polifenóis, que, como o dermatologista nos explica, “são aminoácidos que se metabolizam no intestino e se transformam numa variante de vitamina B ao entrar no sangue, chegando assim à pele”. Em 1997, Salvador González Rodrigues e os seus colegas de Harvard patentearam a substância a que chamaram Fernoblock e concederam-na à Cantabria Labs.
Quais são as vantagens da proteção oral?
Em primeiro lugar, como explica o dermatologista espanhol, “cobre todas as superfícies do corpo uniformente, precavendo possíveis erros na aplicação dos protetores tópicos, além de ter mais duração do que estes”. A fotoproteção oral potencia, assim, os efeitos dos protetores solares tópicos e “aumenta a tolerância da pele à radiação do sol, ajudando ainda a restabelecer células afetadas pela radiação solar e a combater as reações alérgicas ao sol”assegura Salvador González Rodrigues, que acrescenta que a fotoproteção oral e tópica são complementares e uma não substitui a outra.
Todas as pessoas devem usar a fotoproteção oral?
Salvador González Rodriguez diz que não, mas por exemplo, “os ruivos devem tomar as cápsulas diariamente na primavera e no verão, tal como as pessoas que têm manchas na pele, mesmo sendo morenas. As restantes devem tomar quando se expõem ao sol, pois ajuda qualquer tipo de pele a proteger-se juntamente com a proteção tópica”. No caso das crianças, o dermatologista, aconselha a partir dos 4 anos, “altura em que as crianças têm mais autonomia, até aí dependem mais dos pais e o protetor solar tópico tende a ser suficiente”.