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Dia Mundial de Prevenção do Suicídio: uma reflexão sobre os comportamentos automutilantes e suicidas

Dia Mundial de Prevenção do Suicídio: uma reflexão sobre os comportamentos automutilantes e suicidas

Atualmente, o suicídio é a a terceira causa de morte entre jovens dos 15 aos 29 anos globalmente, mas não tem de o ser para sempre.

O Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, assinalado a 10 de setembro, convida-nos a refletir sobre um dos maiores desafios de saúde pública da atualidade: compreender, prevenir e intervir no sofrimento psicológico extremo. Entre as manifestações mais preocupantes encontram-se a automutilação e as condutas suicidas, expressões dolorosas de um mal-estar profundo, ainda demasiado ausente do debate público.

A automutilação deve ser entendida como uma estratégia de regulação emocional. Muitas pessoas recorrem à dor física como forma de lidar com emoções insuportáveis. Embora, na maioria dos casos, não constitua uma tentativa de suicídio, este comportamento não deve ser minimizado: é um fator de risco importante para o desenvolvimento de pensamentos e atos suicidas, sobretudo quando não existe rede de apoio familiar, social ou clínico.

O suicídio, tal como mostram inúmeras investigações, é fruto da interação complexa entre fatores biológicos, psicológicos e sociais. Não surge de forma súbita: é um processo cumulativo, frequentemente antecedido por sinais de alerta que passam despercebidos. A prevenção exige, por isso, uma abordagem integrada, envolvendo famílias, escolas, profissionais de saúde e a comunidade em geral.

Um dos maiores obstáculos continua a ser o estigma. Persistem mitos e preconceitos que dificultam a procura de ajuda e alimentam o isolamento de quem sofre. A ciência mostra que falar abertamente sobre o suicídio não aumenta o risco, mas sim o contrário: abre espaço para a compreensão, facilita a identificação precoce de situações de perigo e promove caminhos de apoio.

A literacia em saúde mental, o reforço de serviços especializados e a criação de respostas de proximidade são investimentos urgentes. Prevenir implica conhecimento, empatia e ação concertada.

Os números ajudam a dimensionar a urgência

Mais de 720 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos em todo o mundo — cerca de 1 em cada 100 mortes;

 É a terceira causa de morte entre jovens dos 15 aos 29 anos globalmente;

Cerca de 73% dos suicídios ocorrem em países de baixo e médio rendimento;

 Para cada suicídio consumado, ocorrem em média 20 tentativas;

 Houve avanços: a taxa global ajustada por idade caiu 40% entre 1990 e 2021 (de 15 para 9 por 100 mil habitantes), com maior redução entre as mulheres (~50%) do que entre os homens (~34%);

 Mas certas regiões apresentam tendências preocupantes de crescimento: América do Norte (+33%), América Latina e Caribe (+25%) e Sudeste Asiático (+10%).

Neste Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, importa reafirmar uma ideia essencial: os comportamentos automutilantes e suicidas não são fraqueza nem escolha individual, mas sim a expressão de uma doença silenciosa que exige atenção imediata. O desafio é grande, mas a mensagem é clara: só com uma resposta séria, científica e comprometida poderemos reduzir a incidência destes fenómenos e, sobretudo, salvar vidas.

Texto escrito por Nora Cavaco, psicóloga clínica, pós-doutorada em Intervenção Precoce no Autismo e doutorada em Educação Infantil e Familiar, responsável do Centro Clínico Al Ghrab.