10 coisas que têm de saber sobre o cancro da mama
No mês em que a luta contra esta doença está no centro das atenções, entrevistámos diversos especialistas que nos falam sobre sinais a que devemos estar atentas, tratamentos, autoestima, cuidados com a pele e com o cabelo…
Desde a década de 1990 que outubro é considerado o mês da luta contra o cancro da mama – o mais prevalente, em Portugal e no mundo, no sexo feminino. A saúde é a prioridade perante o diagnóstico, mas a aparência não tem de ser um estigma nem relegada para segundo plano, pois a autoestima não deve ser descurada e entra nesta equação.
Os últimos dados disponíveis, relativos a 2022, mostram que, nesse ano, nove mil mulheres foram diagnosticadas com esta doença e o sucesso de tratamento depende muito da precocidade do diagnóstico.
“Felizmente, hoje, as taxas de sobrevivência do cancro da mama são altas, aproximando-se dos 100% em casos muito precoces. O grande desafio está em minimizar ou dar resposta às sequelas dos tratamentos, físicas e emocionais. Sendo os sobreviventes cada vez em maior número e tendo uma longa esperança de vida após o diagnóstico, acredito que esta área será alvo de grande atenção e avanços num futuro muito próximo”, afirma Catarina Rodrigues Santos, coordenadora da Unidade da Mama CUF Lisboa.
1. Sintomas a ter em atenção
A deteção precoce do cancro da mama é crucial no sucesso do tratamento, por isso, todas as mulheres devem estar atentas a alguns sinais ou sintomas, tais como “nódulo ou espessamento da mama ou na zona da axila, detetável ao toque; alterações no tamanho e formato da mama; dor persistente na mama; alterações na mama ou mamilo visíveis ou ao toque; secreção ou perda de líquido do mamilo; retração do mamilo; pele da mama, mamilo ou aréola gretada ou descamativa, vermelhidão ou inchaço”, alerta José Carlos Marques, coordenador nacional de Imagiologia Mamária da rede CUF.
2. Fatores de risco
“Há vários anos que se reconhecem como fatores de risco que aumentam a probabilidade de desenvolver cancro da mama, alguns dos quais podem ser modificáveis. São exemplos destes a prática não regular de exercício físico, ter excesso de peso ou ser obesa e algumas terapêuticas anticoncecionais, não ter filhos ou ter a primeira gestação após os 30 anos e não amamentar. Também os hábitos alcoólicos e tabágicos foram apontados como potenciais fatores de risco”, afirma Miguel Abreu, oncologista no Hospital CUF Porto. O médico especialista em Oncologia diz ainda que “a hereditariedade constitui uma minoria dos casos (5-10%); se pensarmos que o risco da população em geral de desenvolver este cancro é de 12%, este aumenta para 72% na presença da mutação no gene BRCA1 ou 69% no caso do BRCA2”.
3. A importância do autoexame da mama
“O autoexame, que deve ser realizado mensalmente, após o final da menstruação, é uma ferramenta útil, embora não substitua os exames, nem as consultas regulares. No entanto, pode contribuir para o diagnóstico precoce e aumentar as possibilidades de um tratamento bem-sucedido”, explica José Carlos Marques.
4. Exames de diagnóstico
Fundamentais para a deteção do cancro da mama em fases iniciais, aumentando as chances de cura e possibilitando um tratamento eficaz e menos agressivo, são os exames de diagnóstico. Como diz José Carlos Marques, “permitem diagnosticar lesões pré-malignas e estabelecer as condutas mais adequadas de vigilância ou tratamento. Exames como a mamografia, a mamografia de contraste, a tomossíntese, a ecografia, a ressonância magnética e as várias técnicas de biopsia, permitem, atualmente, estabelecer diagnósticos precisos, avaliar com rigor a extensão das lesões e contribuir para a seleção de um tratamento preciso e personalizado”.
O médico especialista em Radiologia adianta ainda que “os exames regulares de mamografia, complementados com ecografia mamária, devem iniciar-se a partir dos 40 anos e devem ser feitos todos os anos ou de dois em dois anos, dependendo da densidade mamária, da presença de alterações e de outros fatores de risco. Quando existem antecedentes familiares, começam por volta dos 30 anos”.
5. O impacto dos tratamentos no cabelo
Contrariamente ao que a generalidade das pessoas possa pensar, a queda de cabelo não é uma consequência direta ou obrigatória do início de qualquer procedimento para remover um cancro. Como explicam Sara Magno e Pedro Meireles, médicos da Oncologia Médica do IPO Lisboa, os fios poderão “cair, parcial ou totalmente, dependendo do tipo de tratamento realizado”, mas “não é espontâneo”. “Geralmente, fica mais quebradiço após as duas primeiras semanas, acabando por cair de forma mais intensa a partir da segunda administração”, adicionam.
Os fios poderão voltar a crescer durante os tratamentos ou apenas no fim destes, eventualmente com uma cor e textura diferentes. Durante a quimioterapia, “não é aconselhável usar produtos de pintura, uma vez que podem provocar irritação cutânea do couro cabeludo”. O ideal é “aguardar seis meses após o término” do tratamento.
6. Personalização é a palavra-chave
O tratamento do cancro da mama é multimodal. De uma forma resumida, Miguel Abreu divide “em tratamentos com ação local e locorregional, como é o caso da cirurgia ou da radioterapia; e os tratamentos que têm ação sistémica, atuando no corpo todo, como a quimioterapia e as terapêuticas-alvo (como os anticorpos monoclonais, a imunoterapia, a hormonoterapia, entre outros)”. Para o oncologista, “a busca da medicina personalizada tem orientado a investigação na área da oncologia e tem permitido desenvolvimentos com impacto na melhoria da quantidade e qualidade de vida das doentes.
7. Sentir-se bem na própria pele
O diagnóstico é avassalador e traz uma montanha de dúvidas e inseguranças com a imagem – seja porque parte ou a totalidade dos fios de cabelo cai, seja pela eventual necessidade de se remover uma ou as duas mamas. “No entanto, existem procedimentos e ações que podem ajudar a aumentar a autoconfiança, como utilizar próteses capilares (perucas), aplicar stencils ou fazer microblading de sobrancelhas, pintar as unhas com verniz normal, além da cirurgia mamária, que é também fundamental para a maioria das mulheres”, referem os oncologistas do IPO de Lisboa.
É ainda possível optar pela micropigmentação paramédica das aréolas mamárias, que “consiste na aplicação intradérmica de um corante, funcionando como uma tatuagem semipermanente”. Deve ser realizada antes do início dos tratamentos de quimioterapia, “uma vez que a cicatrização e fixação do pigmento podem ser mais difíceis e o risco de infeção após o procedimento poderá ser superior”.
8. O papel da mente
“O bem-estar mental é fundamental para os tratamentos. Não raras vezes, as doentes com cancro da mama experienciam momentos de depressão/ansiedade. Um estudo recente mostrou que a fadiga pode ser combatida com o estímulo à prática regular de exercício físico. Contribui ainda de forma decisiva o apoio social, começando na rede familiar, amigos ou mesmo um bom ambiente de trabalho”, afirma Miguel Abreu.
9. Os grandes avanços cirúrgicos
• Técnicas oncoplásticas, isto é, o planeamento do tratamento oncológico integrado numa abordagem estética, que visa manter ou restabelecer o contorno da mama e a sua simetria.
• A mastectomia poupadora de pele e do complexo areolomamilar, com reconstrução imediata, em que se preserva o invólucro natural da mama, permitindo, na mesma cirurgia, uma reconstrução mais natural e sem necessidade de utilização de retalhos cutâneos de outras área dadoras do corpo, minimizando a agressão cirúrgica. A reposição da mama com prótese pré-peitoral (imediatamente debaixo da pele), fixada por uma membrana artificial (sintética ou de origem animal) tem sido amplamente utilizada, por permitir uma recuperação mais rápida e funcional.
• A biopsia do gânglio sentinela e linfadenectomia seletiva. O objetivo é preservar a drenagem linfática da axila, de modo a reduzir o potencial linfedema (inchaço) do membro superior. No entanto, importa salientar que esta abordagem não deve comprometer o tratamento oncológico, e há casos em que não se pode aplicar.
• As técnicas de microcirurgia linfovascular, nos casos em que a linfadenectomia seletiva não é possível. O risco de linfedema após o esvaziamento axilar não é totalmente conhecido com as técnicas recentes. As estimativas apontam para taxas de 12-30%, após esvaziamento axilar com radioterapia. As formas de prevenção e tratamento mais conhecidas e com resultados demonstrados assentam na drenagem manual especializada. Contudo, técnicas cirúrgicas que tentam restabelecer, pelo menos, parte da drenagem linfática têm sido testadas.
Fonte: Catarina Rodrigues Santos, coordenadora da Unidade da Mama CUF Lisboa.
10. Cuidados cutâneos
Durante os tratamentos de quimioterapia e radioterapia, a pele poderá ficar irritada e friável. Para o combater, deverá ser hidratada com cremes gordos. Devem ser colocados de parte produtos irritantes e abrasivos, inclusivamente esfoliantes demasiado agressivos, dada a maior sensibilidade da pele. Além disso, a proteção contra os raios UV é igualmente importante, pelo que a utilização de protetor solar com SPF50, diariamente, e de chapéu, preferencialmente de abas largas, assim como a evicção da exposição solar nas horas de maior intensidade de radiação são obrigatórias. Quando submetidos a radioterapia, os pacientes devem preferir toalhetes de limpeza sem álcool, em vez de desodorizantes, sempre que necessário, na axila irradiada.