Beleza

Já ouviu falar em glicação? É que os efeitos do açúcar na pele têm consequências

Este é um dos fenómenos responsáveis pelo envelhecimento cutâneo. Perceba o que é a glicação, quando se torna visível, o que causa à pele, mas também como se podem combater os seus efeitos e o que a dermocosmética está a fazer sobre o assunto.

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Já ouviu falar em glicação? É que os efeitos do açúcar na pele têm consequências Já ouviu falar em glicação? É que os efeitos do açúcar na pele têm consequências
© Freepik
Marta Vieira
Escrito por
Jun. 09, 2020

Se nunca ouviu falar em glicação não faz mal, há uma primeira vez para tudo. E saiba que vai muito a tempo. Este é um processo químico non grato uma vez que é um dos principais mecanismos responsáveis pelo envelhecimento, depois da oxidação e do declínio hormonal.

De que estamos a falar? Dos perigos do açúcar para o organismo, que neste caso contribuem também para o envelhecimento da pele.

Os produtos decorrentes da glicação provêm não só de uma dieta hiperglicémica como do modo como os alimentos são cozinhados – Marisa André, dermatologista

Explicado de uma forma simplista: níveis muito elevados de glicose no sangue originam uma espécie de caramelização das nossas proteínas – tal como acontece no topo do leite-creme, está a ver? Ora quando estas quebram, devido à perda de elasticidade na pele, originam-se as malfadadas rugas.

Ou seja, a presença de níveis elevados de açúcar leva a uma alteração estrutural das proteínas da pele – a tal caramelização – causando um processo irreversível, tendo como consequência a ruga.

Para nos ajudar a compreender este fenómeno em pleno, conversámos com a dermatologista Marisa André que esclareceu todas as nossas dúvidas, pelo que nos acompanhou do início ao fim neste caminho de perceber o que é a glicação.

O que é que acontece na glicação?

É nos alimentos açucarados que se encontram os agentes glicantes. Isto é, “os produtos decorrentes da glicação provêm não só de uma dieta hiperglicémica, como do modo como os alimentos são cozinhados”, introduz-nos ao tema Marisa André.

O que ocorre é que já no nosso corpo este excesso de moléculas de glicose se liga a proteínas como as fibras de colagénio e elastina (responsáveis por manter a pele jovem e firme), pelo que esta mesma união irá destabilizar a proteína, quebrando-a.

“A reação de glicação leva à perda da função das proteínas e altera a elasticidade dos tecidos, como sejam vasos sanguíneos, pele e tendões”, explica a dermatologista. Assim, ocorre uma degradação das fibras dérmicas, em que se perde elasticidade e tonicidade e acontece a formação de rugas.

“Uma vez que não existem enzimas que removam os produtos glicados do organismo, este fenómeno apoia a teoria da acumulação de “lixo metabólico” que promove o envelhecimento”, declara concluindo que “a glicação resulta numa alteração estrutural, morfológica e funcional da pele conhecida como sugar sag”.

E a partir de que idade é que os seus efeitos são mais visíveis? A dermatologista refere-nos estudos que indicam que o processo de glicação não é visível na derme antes dos 35 anos. “No entanto, assim que se inicia o processo, acompanhando o envelhecimento intrínseco, existe uma evolução progressiva”, completa.

Principais consequências para a pele

As consequências na pele do processo de glicação são o resultado de uma combinação do envelhecimento extrínseco com o envelhecimento intrínseco (onde se inclui a glicação). Assim tem-se:

Envelhecimento extrínseco:

  • Foto exposição;
  • Tabaco;
  • Álcool;
  • Infeções.

Envelhecimento intrínseco:

  • Manchas de idade;
  • Rídulas e rugas;
  • Hiperpigmentação;
  • Endurecimento e rigidez da pele;
  • Aparência heterocromática;
  • Flacidez;
  • Inflamação.
O ideal é que a utilização de cosmecêuticos tópicos (que combatam os efeitos da glicação) seja considerada a partir dos 30 anos – Marisa André, dermatologista

O que se pode fazer?

Questionámos Marisa André sobre de que forma podemos combater ou mesmo evitar os efeitos do açúcar na pele. Também aqui a dermatologista foi peremptória e deixou-nos algumas sugestões de como fazê-lo:

  • Praticar uma atividade física como forma de controlo glicémico (mesmo em doentes diabéticos);
  • Recorrer a antioxidantes como o resveratrol, presente no vinho tinto, uvas, mirtilos, frutos vermelhos;
  • Proteger a pele do sol;
  • Manter um peso estável;
  • Evitar a perda muscular.

Já na alimentação, devemos igualmente ter alguns cuidados:

  • Privilegiar o consumo de frutas e vegetais, mas também chocolate negro e chá verde;
  • Diminuir da ingestão de açúcares na dieta;
  • Evitar pão branco, arroz branco e batata;
  • Optar por alimentos que tenham uma degradação mais lenta como sementes, nozes, carnes brancas, ovos, tofu, vegetais, quinoa, cevada, aveia, iogurte, frutos vermelhos, ameixas, pêssegos;
  • Evitar formas de cozinhar como assar, guisar, tostar;
  • Aprender a apreciar carne “mal passada” e cozinhada de uma forma mais lenta;
  • Cozinhar os alimentos com métodos utilizando água (tal como a população asiática);
  • Evitar fast food e bebidas alcoólicas;
  • Utilizar algumas ervas aromáticas e especiarias como canela, orégãos, cravinho, pimenta da Jamaica.

Onde encontrar antiglicantes?

Finalmente, em relação aos principais antiglicantes estes são ativos que evitam os efeitos do açúcar nas moléculas de proteína e ainda revertem os sinais deixados na pele pelo processo de glicação.  Podem ser encontrados tanto na alimentação como na cosmética.

Como exemplos têm-se substâncias como a carcinina, niacinamida ou mesmo vitamina E. O que é que estes fazem? Impedem a união entre os açúcares e as proteínas, minimizando o envelhecimento da pele e contribuindo para uma maior firmeza e iluminação.

E como incluir estes ativos na sua rotina de beleza? Segundo Marisa André “o ideal é que a utilização de cosmecêuticos tópicos seja considerada a partir dos 30 anos”. Até como forma de prevenção ao envelhecimento precoce.

Estes devem ser usados nas várias fases do cuidado com a pele, como a limpeza, hidratação e proteção solar.

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